O ar estava abafado naquela manhã. O céu cinza dava indícios de um dia nublado, e pelas nuvens escuras, as chances de chuva eram altas.
Erika olhava sem ânimo pela janela do carro. Contando os postes de luz, imaginava suas mãos tocando cada concreto ao adicionar mais um a sua lista.
O caminho era curto ao colégio. Conchas do Sul era uma cidade pequena; em apenas dez minutos de carro se chegava ao centro, seja a qualquer estremo da cidade. Prédios altos de todos os formatos podiam ser vistos, desenhando de forma proposital a orla da praia.
Os mosaicos enfeitavam as paredes e o chão da avenida. Representando vários contos da cidade. As palmeiras eram um detalhe natural, deixando os vários restaurantes de luxo com o aspecto de rústicos e clássicos. Mas nenhuma dessas coisas era o real tesouro de Conchas, a estrutura cultural e turística da cidade não se comparava a sua beleza natural.
Erika se ajeitava melhor no banco do carona, vendo que a curva estava quase sendo feita. Seus olhos se encheram de brilho ao ver a luminosidade do mar.
Um sentimento de pertencimento dominou a pequena garota; ela observava as ondas em um movimento calmo, as linhas brancas da arrebentação desenhavam sobre as águas acinzentadas.
Ao descer a colina para a avenida da praia, pôde sentir o cheiro refrescante da maresia; arriscava colocar a cabeça levemente para fora do carro, a fim de sentir com mais intensidade. O barulho do mar era acolhedor, tão manso e calmo quanto uma tarde ensolarada. Surfistas e banhistas estavam na água; fazendo ela ter inveja.
- Erika, a cabeça para fora – seu pai a repreende com carinho, um sorriso tímido estava escondido no canto da boca do homem baixo.
- desculpa – responde com um sorriso sem graça, se ajeitando rapidamente sobre o banco.
Os dois continuaram o resto do percurso em um silêncio confortável; ambos apenas observando a estrada, perdidos em seus próprios pensamentos.
O prédio do colégio era tão grande que podia ser visto a três esquinas de distância; feito de paredes brancas e compridas. Os detalhes amadeirados promoviam o aconchego. Grandes janelas de vidro davam vista para o mar, as escadarias eram preenchidas de desenhos feitos pelos primeiros alunos, contando a história da escola dos Lanjes.
A mais famosa e cara escola da região Litorânea; com seus méritos de prêmios matemáticos e físicos. O colégio com o maior porcentual de alunos aprovados em faculdades públicas. Todos que estudavam ou trabalhavam em Lanjes, tinham o orgulho de representar tais títulos.
Erika deu um beijo no rosto de seu pai pela janela do carro; o desejando um ótimo dia de trabalho. Ela esperou até ver o carro sumir entre as esquinas. Ajeitou seus fios negros e compridos que fugiam do rabo de cavalo e confiante entrou na escola.
Procurava entre a multidão de alunos os seus amigos. Achou estranho Télio ainda não ter chegado, ele costumava estar em qualquer lugar com vinte minutos de antecedência.
Andou pelo salão do refeitório, inúmeras mesas de madeira estavam espalhadas. A cantina estava reformada, agora portando capacidade para atender os diversos alunos de todos os anos.
O lago parecia ter ganhado uma cascata durante as férias; Erika se aproximou vendo os peixes que eram tão pequeninos antes, e agora estavam grandes. Andou pela horta a procura do moreno, não o achou. Como último recurso entrou na grande quadra, imaginava que talvez Télio estivesse animado com os treinos.
Após dar três voltas, concluiu que ele não estava lá também. A menina franzi-o a testa, isso não era do feitio de Télio. Ele era sistemático demais para se atrasar no primeiro dia de aula. Se voltou a entrada novamente, espiando o portão o procurando.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Como grãos de areia
Roman d'amourComo grãos de areia conta a história de quatro amigos. Télio, Erika, Oto e Allan. Télio é o um garoto gentil e carismático, seu desempenho na escola é quase tão bom quanto no vôlei. seus talentos e bondade o faz ser o famoso garoto de ouro; sendo v...