Impossíveis

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Éramos o sol e lua.

Enquanto tu brilhavas com uma luz que eu jamais poderia alcançar, eu mergulhava na serenidade sombria da noite.

Éramos a dualidade de estações, tu a exuberância da primavera, eu a melancolia do outono; tu eras Janeiro, o começo, eu Dezembro, o fim.

Tu te deliciavas com o doce sabor do café, enquanto eu encontrava prazer no amargo dele. Enquanto tu optavas por deitar-te cedo, eu era o morcego noturno, vagando sob a luz prateada da lua, tecendo promessas impossíveis de amor, imerso no presente.

Tu eras a água, fluindo com suavidade, e eu preferia o ardor do uísque, queimando em minha alma.

Eu era o sexo, a ousadia do vestido negro curto que tu usaste para mim, a brisa inquieta, enquanto tu eras a solidez da terra.

Tu eras a essência da bondade do mundo, e eu, mergulhado na escuridão do mal e do realismo.

Realismo aquele que, tu nunca gostares.

Enquanto tu evoluías com o que vivíamos, eu sucumbia, desabando como o maço de cigarro esmagado sob meu pé quando proclamei o fim do que tínhamos.

Éramos a encarnação do impossível.

Tu eras simplesmente perfeita demais para a minha tempestade interior. E a perfeição, ah, ela é tão entediante, tão previsível, uma fusão onde um sai ileso e o outro se desfaz. Assim, tornamo-nos uma lembrança, uma narrativa incontável, algo além, porém efêmero.

Era isso que éramos: a personificação do impossível.

Tão impossíveis quanto o adjetivo "futuro" quando aplicado a nós.

Victória Melo
Idade desconhecida

𝗠𝗮𝗱𝗿𝘂𝗴𝗮𝗱𝗮𝘀 𝗡𝗮̃𝗼-𝗗𝗶𝘁𝗮𝘀Onde histórias criam vida. Descubra agora