Nota

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Leitores e leitoras,

Olá! Este livro é para postar os contos da Copa de Contos de 2024 – a "Copa dos Portais", (do perfil oficial ContosLP ). Nessa Copa, minha protagonista deve viajar entre mundos passando por portais. Você, caro leitor, irá percorrer esses mundos com a fadinha Cornélia da primeira a quarta fase.

Espero que fique conosco (eu e Cornélia) até o fim do concurso (assim como eu mesma: que eu chegue lá!). Essa personagem, em especial, fala muito sobre o que eu, como pessoa e autora, quero falar, principalmente no atual momento.

Devo explicar aqui o que digo com o título desse livro (A Heterotopia da Fada), já que faz referência a um conceito da filosofia e da geografia humana, o qual é muito intrínseco ao motivo de Cornélia sentir-se impulsionada a atravessar portais, buscando um mundo que englobe-a. Deixo aqui techos de "As heterotopias", uma conferência radiofônica dada por Michael Foucault em 1966 – creio que eles possam esclarecer melhor do fariam as minhas palavras:

"Há países sem lugar e histórias sem cronologia; cidades, planetas, continentes, universos, cujos vestígios seria impossível rastrear em qualquer mapa ou qualquer céu, muito simplesmente porque não pertencem a espaço algum. Sem dúvida, [...] nasceram, como se costuma dizer, na cabeça dos homens, ou, na verdade, no interstício de suas palavras, na espessura de suas narrativas, ou ainda, no lugar sem lugar de seus sonhos, no vazio de seus corações; numa palavra, é o doce gosto das utopias. No entanto, acredito que há – e em toda sociedade – utopias que têm um lugar preciso e real, um lugar que podemos situar no mapa; utopias que têm um tempo determinado, um tempo que podemos fixar e medir conforme o calendário de todos os dias. [...].

Ora, entre todos esses lugares que se distinguem uns dos outros, há os que são absolutamente diferentes: lugares que se opõem a todos os outros, destinados, de certo modo, a apagá-los, neutralizá-los ou purificá-los. São como que contraespaços. As crianças conhecem perfeitamente esses contra- espaços, essas utopias localizadas. É o fundo do jardim, [...] ou é então - na quinta-feira à tarde - a grande cama dos pais. É nessa grande cama que se descobre o oceano, pois nela se pode nadar entre as cobertas; depois, essa grande cama é também o céu, pois se pode saltar sobre as molas é a floresta, pois pode-se nela esconder-se; é a noite, pois ali se pode virar fantasma entre os lençóis; é, enfim, o prazer, pois no retorno dos pais, se será punido.

[...] as hetero-topias, espaços absolutamente outros; [...].

[...] a heterotopia tem como regra justapor em um lugar real vários espaços que, normalmente, seriam ou deveriam ser incompatíveis. [...].

[...] A heterotopia é um livro aberto, que tem, contudo, a propriedade de nos manter de fora. [...].

[...] [As heterotopias] são a contestação de todos os outros espaços, uma contestação que pode ser exercida de duas maneiras: [...] criando uma ilusão que denuncia todo o resto da realidade como ilusão, ou, ao contrário, criando outro espaço real tão perfeito, tão meticuloso, tão bem disposto quanto o nosso é desordenado, mal posto e desarranjado; [...]."

É importante ressaltar a presença de cenas mais indelicadas e desagradáveis. Em alguns momentos pretendo trazer uma das principais dores da protagonista para o enredo: a ansiedade do pânico. Cornélia sofre com isso desde muito jovem – dos 12 anos – mesma idade em que comecei a passar pela mesma questão. Infelizmente, é uma realidade que me encontrou outra vez – e, que pode vir a qualquer um, por isso eu trouxe essa fada para a Copa. É um tema que será trabalhado ao longo das fases (infelizmente, de modo não profundo); Estejam atentos!

Assim, concluo com a promessa de trazer um pouco de filosofia e psicanálise para os textos (além de biologia, geografia, história, questões atuais e o máximo possível de cultura) – com os aditivos de portais, diversidade de mundos e muitíssima fantasia e magia.

Obrigada por estar aqui! Boa leitura! ♡

– Flaira Flor

A Heterotopia da FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora