Ao chegarem à casa de Noah, tudo parecia mais calmo. Os vizinhos próximos costumavam trabalhar durante todo o dia, então as casas ficavam vazias. Era um bairro afastado, bem privativo, e, com o acontecimento da tragédia, tal fator era uma vantagem. Não parecia haver mortos por ali. Noah preocupou-se em trancar todas as portas e janelas possíveis, enquanto Victoria subiu as escadas e se dirigiu a um dos banheiros para se banhar. Estava devastada com o que acabara de ver.
João: Tem mais alguma porta que possa oferecer risco? - Perguntou ajudando Noah a trancar a porta de vidro que separava a cozinha do grande jardim aos fundos.
Noah: Não, essa é a última. - Respondeu sem nenhum ânimo.
Noah também estava devastado com o que acabara de ver, mas disfarçava melhor.
Sentaram-se nas banquetas à frente do balcão e se apoiaram, exaustos. Noah olhou para o grande quadro com uma foto de sua família que estava pendurado na parede. Seus olhos marejaram e lágrimas escorreram por suas bochechas.
João: Você deve estar sofrendo muito agora, eu nem posso imaginar. - João tentou encontrar as palavras certas naquele momento, mas não havia nenhuma.
Noah: Estou. - Noah fez uma longa pausa e enxugou os cantos dos olhos. - Meus pais estavam idosos, eu sei, mas eu não estava preparado para perdê-los dessa forma tão absurda.
João: Vamos pensar que pelo menos eles não sofreram. Deve ter sido algo rápido. Sem dor. - João disse e Noah riu fraco.
João estava acostumado com situações mórbidas, afinal, trabalhava em um hospital. Noah resolveu não se apegar às palavras frias dele e se levantou, dirigindo-se até a geladeira.
Victoria: Pega aquele uísque que sobrou de Sábado. - Victoria disse surgindo à porta. - Eu quero acabar com ele agora.
Noah franziu levemente a testa, mas acabou pegando o frasco de uísque que estava pela metade.
Noah: Vamos dividir?
João: Por favor.
Victoria: A vontade que eu tenho é de virar tudo isso sozinha, mas eu precisaria de socorro médico e infelizmente isso não é possível, o mundo acabou. -Ela disse com seu sarcasmo usual.
Noah pegou copos para todos e se serviram. Todos deram longos goles e sentiram o ardor tomar suas gargantas.
Ficaram em silêncio se embebedando por um longo período, até que a consciência começou a se distanciar cada vez mais da realidade e começaram a conversar como se estivessem num encontro de amigos casual.
João: Eu sinto que perco muito da minha vida trancado naquele hospital.
Victoria: Eu duvido! Você trabalha quantas horas diárias? Noah riu pensando no quanto Victoria era terrível.
João: Meu turno é de seis horas, mas..
Victoria: Ah, ok. O meu é de dez e eu não recebo proporcionalmente por isso. - Victoria disse debochando do desabafo de João.
João: Mas você faz o que?
Victoria: Eu tenho um restaurante... -Tossiu se corrigindo.- Na verdade, tinha.
Noah: Eu vou sentir saudades da comida... - Noah resmungou olhando para o copo de uísque quase vazio.
Victoria: Essa peste só pensa em comer. O mundo acabou, meu filho! Você sabe que agora só vai ter milho enlatado para comer, né?
Noah riu e olhou para João. João balançou a cabeça também rindo.
João: Vocês são o que? Irmãos?
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História Caminhando sobre os mortos
RomanceNoah e Victoria se vêem no meio de um apocalipse zumbi. A morte os cerca, mas ainda há vida e eles se esforçam para aproveitá-la com aventuras e romances conturbados. *Inspirada em The Walking Dead.