O início

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Victoria e Noah estavam sentados no corredor de espera em cadeiras desconfortáveis há pouco mais de uma hora. Estavam começando a ficar entediados, mas era por uma causa nobre. Aguardavam a coleta de sangue para doação no hospital da cidade. Era um dia comum, e, como todo hospital de cidade grande, a movimentação era ininterrupta. Pessoas apressadas de um lado para o outro, crianças chorando na sala ao lado, burburinhos por todo canto reclamando da demora e os funcionários da saúde com olheiras gigantes que só de olhar dava pena.
Victoria: Acho que somos os próximos. -Disse cutucando Noah que rolava a tela do celular desinteressado. - Aquela mulher chata que estava na nossa frente na recepção acabou de sair da sala de coleta.
Noah: Verdade. - Noah disse guardando o celular no bolso.
No instante seguinte, um dos enfermeiros colocou o rosto para fora da sala e olhou na direção dos dois. Ele olhou para a ficha e chamou pelos nomes de Victoria e Noah.
Noah olhou para Victoria de maneira sugestiva e ela logo entendeu. Noah estava demonstrando interesse pelo enfermeiro, e claro, não era de se negar que o homem era muito bonito. Tinha a pele bem clara coberta por tatuagens, músculos tonificados quase estourando o jaleco branco. Seu cabelo era escuro e os lábios rosados.
Victoria: Se comporta! Ninguém merece. - Resmungou baixo enquanto caminhavam em direção ao enfermeiro.
Ao chegarem à sala, o enfermeiro os cumprimentou com um sorriso e se apresentou como João. Disse para se sentarem nas cadeiras que ele iria preparar os instrumentos para a coleta do sangue e se afastou até a bancada.
Victoria e Noah se entreolharam e deram gritinhos mudos. Começaram a rir de forma abafada e João se virou para conferir o que acontecia. Ambos coraram como dois tomates.
João: Algum problema? - Questionou desembalando uma das agulhas.
Mentalmente, Victoria e Noah se questionaram sobre como alguém conseguia ser tão sexy desembalando uma simples agulha.
O momento seguinte foi tomado por um estrondo ensurdecedor. Era como se um exército de pessoas estivesse invadindo o hospital aos gritos e derrubando as paredes com a força dos corpos.
João rapidamente foi até a porta do consultório e olhou para os dois lados do corredor. As pessoas corriam como desesperadas enlouquecidas. Ele gritou várias vezes perguntando o que estava acontecendo, mas ninguém respondeu.
Victoria e Noah ficaram imóveis em suas cadeiras, sem saber como reagir. Estavam confusos e espantados com os sons ensurdecedores.
João correu para fora da sala e mesmo contra a multidão que corria na direção contrária tentando fugir, ele chegou no encontro de corredores e avistou figuras deformadas, cobertas por sangue e com odor fétido atacando pessoas. Não atacavam para agredir, atacavam para devorar. O enfermeiro imediatamente retornou para a sala de coleta e trancou a porta.
Noah: O que está acontecendo? - Noah perguntou desesperado saltando da cadeira e o ajudando a colocar um dos armários na frente da porta.
João: Pessoas estão invadindo o hospital! Não são pessoas, são bichos! Não sei! Criaturas, o diabo! - João falava como um perturbado, ainda chocado com o que vira.
Victoria: Como assim? Que maluquice? - Victoria questionou aflita.
João: Eles parecem zumbis, não sei! Está uma loucura! Estão devorando as pessoas, dilacerando crianças!
João estava tão perturbado que caiu no chão, encolhendo-se e abraçando os joelhos como se quisesse sumir.
Noah olhou para Victoria com desespero e ela se dirigiu até uma janela alta que havia na sala, puxou uma mesa pequena que estava próxima e subiu para tentar enxergar o lado de fora do hospital.
Viu o caos. Carros incendiados, pessoas estraçalhadas por todos os lugares, seres demoníacos e imundos atacando as pessoas que corriam e os devorando vivos. Era algo que só havia visto em filmes. Os lábios de Victoria embranqueceram e por pouco ela quase caiu, apoiou-se na parede e desceu cuidadosamente da mesa.
Noah: O que foi?
Victoria: É um apocalipse zumbi.
Noah não soube como reagir e continuou olhando fixamente nos olhos dela.
Victoria: Tipo nos filmes americanos, Noah. O mundo está acabando! - Victoria disse séria com lágrimas escorrendo pelos cantos dos olhos.
Noah correu para abraçá-la. Eram muito próximos. O único traço que os afastava de serem irmãos era o laço sanguíneo.
Noah: Você está falando sério? - Ele perguntou olhando profundamente em seus olhos e ela apenas balançou a cabeça confirmando.
Os três permaneceram ali, quietos, encolhidos num canto, temendo que a qualquer momento a porta fosse arrombada. Talvez horas tenham se passado até que outro estrondo aconteceu, desligando toda a energia do prédio.
João: Nós vamos morrer sufocados aqui. - João disse olhando para o ar-condicionado que desligara. A sala era grande e sua única ventilação era uma janela pequena ao alto e a porta que haviam bloqueado para se proteger.
Victoria: Em algum momento precisamos tentar fugir.
Noah: Não podemos fazer isso agora, ouçam... - Noah apontou para debaixo da porta.
Dava para ouvir o som das criaturas circulando por ali.
Naquele instante, os três só conseguiam pensar nas pessoas que amavam e que estavam correndo perigo lá fora. Ou que talvez já estivessem mortas.

História Caminhando sobre os mortosOnde histórias criam vida. Descubra agora