Era uma jovem menina, linda e de pele como a neve. Possuía olhos castanhos amendoados e seus cabelos eram como à terra fértil em período de chuva nos campos. Com sete anos, acompanhada de sua mãe e de seu pai, numa noite chuvosa os três chegam na cabana da velha bruxa. Estavam em Salém, molhados pela chuva e batendo na porta do casebre até serem recebidos por uma figura de estatura baixa e face que já não era tão jovial quanto há anos atrás.
— Oh! Que bom que chegaram! Por favor, entrem. — A senhora cedeu passagem para que a família entrasse.— Então esta é a pequena de que tanto falaram? Qual é o seu nome, pequena?
— Me chamo Havanna! — A garotinha sorri gentilmente para a senhora que retribuiu sutilmente, admirando os traços da pequena e parecendo notar algo. A senhora na mesma hora fez uma expressão de espanto, como se tivesse presenciado algum fantasma ou assombração. A mulher se endireitou e deu alguns passos para trás, se afastando dos três.
— Não pode ser, é impossível.
— Por favor, Rilda. Precisamos saber. — A mãe da garota pediu em súplica, segurando a filha nos braços.
A bruxa os encara por alguns segundos relutante.
— Está bem, sentem-se.
E assim, a família se senta ao redor de uma mesa pequena de madeira enquanto Rilda vasculhava sua bancada de poções e grimórios. A cabana era como qualquer outra, velha, feita com madeira maciça, pequena, mas aconchegante o suficiente. A bruxa se sentou na frente da criança, com um saleiro de páprica em uma mão e um pouco de sangue de porco na outra, segundos antes de iniciar seu trabalho. Inicialmente, despejou um pouco daquela especiaria nas mãos da pequena Havanna, e com o indicador melado de sangue passou o dígito na testa da jovem, dando-lhe as mãos e respirando fundo.
— Não pode ser. Eu... eu vejo um reinado de paz em outra era, em outro lugar. Vejo um reino onde a prata e o ouro brotam da terra e a comida é servida com fartura. — Rilda deu um pequeno espasmo de susto e logo soltou as mãos da menina com os olhos marejados:— Eu vi muitas mortes, uma destruição implacável, muita dor, choro e tristeza. Há muito sangue inocente nas mãos dela. A sua filha, Layla, será aquela que alinhará os pilares do Kosmo e comandará toda a vida no universo. Será aquela que fará as terras tremerem ao ouvir o seu nome, e as nações a seguirão para onde ela for. Eu mal a toquei e pude ouvir o diabo chorar por misericórdia e uma força maior como Deus chorar de tristeza. É ela, Luke... — A senhora olhou para o homem ao seu lado.
— A vossa filha está destinada a comandar o Kosmo.
— Para onde vamos agora? — Luke quebra o silêncio, coçando seu próprio queixo, ansioso.
— Para bem longe, meu filho. Não voltem para Salém nunca mais.
E quando todos estavam prestes a sair, Rilda aconselha Layla:— Cuide dela, cuide da criança. Tudo está em jogo.
Com o pedido, a família parte da cidade na mesma noite, indo para outra região distante de lá. O objetivo era tentar encontrar um lugar afastado e viver em paz, longe do tormento. Em alguns instantes após a partida dos três, um grupo de homens fortes e altos batem com força na porta da cabana bem cuidada. Ao abrir a porta, Rilda é surpresa por um dos homens. Ele tinha cabelos longos e grisalho e em suas mãos havia uma espécie de besta com flechas afiadas, que logo usou para ameaçar a senhora, colocando na frente de sua cabeça.
— Para onde eles foram? Eu vou perguntar só uma vez. — Disse a última parte, entredentes. Era perceptível o ódio em suas írises castanhas. Homens desse tipo eram treinados para fazer "justiça" da maneira mais brutal possível, nem que isso lhe custassem vida inocentes.
— Eu não sei de quem estão falando, eu só atendi uma família. — Apontou para a pequena mesa com alguns objetos usados anteriormente, na tentativa de reforçar seu álibi.O homem agarra o pescoço da bruxa e a lança contra a parede, impedindo a mulher de falar com tamanho susto.
— Nós sabemos que ela nasceu. Às vezes ouço gritarem seu nome na minha cabeça. Eu vou encontrá-la e matá-la. Irei curar o mal do século começando por você! — Grotescamente virou a pobre senhora de costas, flexionando seus braços ao redor da jugular, quebrando pescoço sem pena. Ela morreu rápido e seu corpo logo caiu liberando um suspiro.
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Estrada Do Chaos - A Cruzada de Havanna
FantasiaAs responsabilidades são encaradas como a necessidade de manter um equilíbrio na vida, prezando por uma rotina estável. Mas, como lidar quando sua obrigação está além do comum? Salvar a vida de pessoas com o uso de apetrechos ditos como paranormais...