• ~ Amizades ~ •

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° ~ Ricardo ~ °

O intervalo estava correndo normalmente, alunos de todas as turmas se misturavam e logo virou aquele fuzuê! Eu comia minha comida em silêncio enquanto o pessoal na mesa conversava entre si... Confesso que não parava de pensar no aluno novo.. quero dizer, no Sandro! Quero dizer, no cara novo que é surdo e eu não tenho nada com ele!!

- Ricardo!!! - me assustei um pouco quando o cearense gritou do meu lado, a mesa jazia quase completa exceto por alguns amigos nossos que estavam pela escola.

- Que foi, homi? - perguntei mexendo na comida.

- Tô chamando ocê a horas! Quê que tu tem? - Alana, a irmã mais velha do menor lhe deu um pequeno tapa pra parar de gritar, mesmo com o ambiente não sendo tão silencioso.

- Num é nada, Dudu. Vai comê, vai!

O cearense deu de ombros até uma lanterna piscar em sua grande cabeça, seu sorriso se alargou e então se aproximou cochichando do nada no meu ouvido.

- Tu quê pegar o cara novo, né?

Alana deu mais um tapa na cabeça de Eduardo, isso atraiu os outros que queriam comer em paz, a primeira a comentar foi a mãe de noís todos Maria Rita, que repreendeu o menor.

- Pare de fogo no botão, mininu! Respeite o garoto novo, pelo amor de Deus! - naquela hora fiquei surpreso, e fiz uma cara de ' É sério isso? '

- Disculpa, querido. Mas é que... não é novidade. - ela disse continuando a comer, nessa hora olhei pros outros que também jaziam indiferentes, uns mordiam os lábios ou olhavam pra outro lugar.

Nessa hora, meu queixo caiu.

- Ah tá de sacanagem com a minha cara, menô! O cara mal chegô e ceis já tão com isso na cabeça? Só falta fala que eu quero dá pro cara! - nessa hora Edu ia falar algo, mas Alana lhe tapou a boca.

Tá... eles não estavam de TODO errados. Eu confesso, já dei em cima de algumas meninas na escola e por aí, sabe como é ' beleza é bonita demais pra ter só uma '. Só que eu nunca tinha dado em cima de um cara, nunca na vida, menó!

Agora, eu tava sim interessado no cara novo, não desse jeito sua mente poluída! Mas era raro alguém especial entrar naquela escola, pra té uma ideia, estudantes especiais tinham preferência na matrícula, porém aquele tal de Sandro era o único surdo naquele lugar.

Eu tinha é receio do pessoal do terceirão, alguns ali eram mais falsos que nota de 3 e num valiam um tostão furado, já implicaram com a gente diversas vezes e agora com Sandro aqui...

Lembra que a nossa turma era destaque na escola? Então, até o terceiro ano tinha recalque...

E-enfim, eu tava preocupado só isso!

- Ricardo!!! - me assustei de novo com Dudu, agora todo mundo me olhava, então decidi falar a verdade.

- Tá bom, bando de fuxiquerios. Eu tô preocupado com o cara, só isso! - todos se entre olharam, então Alana deu outro tapa no cearense.

- Pra quê isso, muié?!

- Tu contô a fofoca errado, animal! Carioca, esse pingo de gente contô pra gente que tu tava afim do cara novo! - Eduardo pôde sentir um olhar mortal atrás de si e engoliu em seco.

- Enfim, o que importa agora é que sabemos a verdade! Mas acho que num era só o Ricardinho que tava se sentindo assim, né? - pra minha sorte Esther, a nossa capixaba, cortou o assunto vendo minha situação complicada, na qual piscou pra mim.

- Verdade, amore. Principalmente com aquele.. - o paranaense fez cara de nojo - ..povo insuportável do terceiro ano.

- Até que eles quetaram o facho esses dias. - Matteo, o acriano com cabeça de cuia comentou.

- Claro, depois que meu paixão mandou aquele recado pra líder, quero vê fazerem de novo. - dizia Luis enquanto segurava a mão do namorado, aqueles dois tavam juntos desde o ano passado e com isso já receberam vários comentários pela escola.

Mas cês acham que Philipe ia baixar a cabeça pra um bando de sem o que fazê?

- Num foi nada demais, ursão. Só umas ameaça aqui e ali... - aí aqueles dois... acho que nunca vou me acostumar com aquele amor pegajoso deles.

- Mas é bom que o Sandro está na nossa turma, assim podemos ter uma nova adição ao nosso grupo. Bora fazer ele se sentir em casa, beleza? - Iara, uma menina de cabelos grandes sorriu e os outros concordaram.

Finalmente eu poderia comer em paz...

° ~ Off ~ °

Enquanto isso ainda na sala de aula, Miguel e Sandro comiam silenciosamente e o mineiro tentava puxar assunto as vezes, mas o outro parecia estar com receio de começar uma conversa mesmo que por linguagem de sinais. A verdade é que Miguel conhecia o rapaz de outra escola, porém nunca chegaram a conversar.

O mineiro se lembra de ver o rapaz no 9° ano, mas um tempo depois, Miguel foi transferido para a escola atual e nunca mais o viu... até agora.

O rapaz então cutuca o braço do outro e fala devagar, pois Sandro também faz leitura labial - Então, como tu se sente na escola nova?

Sandro fechou sua vasilha e assinalou - "  Bem agitado. " - fazendo o mineiro rir.

- É assim mermo, quando as turmas se misturam, vira uma bagunça. - o riso de Miguel era invisível aos ouvidos do outro, porém podia sentir o conforto que Miguel trazia, mesmo sem conhecê-lo bem.

- " Acho que seu amigos não gostaram muito de mim. " - Sandro assinalou com um semblante um pouco cabisbaixo.

Isso sempre acontecia quando ele era transferido...

O mineiro então o cutucou de novo e sorriu, uma garantia do que estava por vir. Então Sandro começa a lembrar, um menino de sua idade sempre o convidando pra brincar com ele enquanto sua cuidadora jazia por perto, apesar do menor não entende-lo e do porque se importava com ele.

Sandro também sorriu um pouco então assinalou - " Você não mudou nada. " - deixando o mineiro surpreso.

- Ocê lembra de mim? - o paulista assentiu. Então Miguel disse confiante: - Pode ficar tranquilo, ocê vai se dar bem aqui e nossa turma vai te ajudar. E não é que eles não gostem de ti, é que não estão eles acostumados com ter alguém especial na turma.

- " Tinha um cara me olhando feio. É amigo seu? " - isso fez o mineiro passar a mão no pescoço mas ainda rindo.

- Ah, o Ricardão? Ele é assim mesmo, sempre um dos zueiros da sala mas no geral ele é legal com os outros, é só não mexê com ele.

- " Contanto que ele não mexa comigo, tô de boa. " - aparentemente o rapaz não era tão frágil assim.

O almoço ocorreu normalmente, todos continuaram seus assuntos e tanto Sandro quanto Ricardo pensam no outro de maneira diferente.

- " Tomara que ele seja legal. "

- Tomara que ele se dê bem aqui.

° ~ Continuação ~ °

• Yᴏᴜ Aʀᴇ Mʏ Sᴏᴜɴᴅ •Onde histórias criam vida. Descubra agora