Quando baixamos a guarda

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Suderhoffen, Badënburg, 02 de fevereiro de 1097, 05h30.

~Lívia's Pov:

Ao acordar, vejo meu marido dormindo feito uma pedra do outro lado da cama. Hoje nós viajaríamos para sua terra natal, da qual agora sou rainha. Eu não sei o que vai ser da minha vida agora. Ele precisa de herdeiros, e eu preciso manter minha posição pra não ser morta. Mas eu vou me sentir completamente estranha se me permitir ser tocada por ele. Se não consumarmos o casamento, não estamos oficialmente casados. Mas se eu consumar também, não sei o que vou pensar de mim mesma. O que minha vó pensaria. Ela odeia os Markwart desde sempre pela história, e ainda mais pelo irmão dela ter morrido em uma batalha contra eles.

Enquanto surtava comigo mesma, sinto Alex se mexer na cama. Vira de barriga pra cima, bocejando e se espreguiçando. E então, após esfregar o rosto, me encara. Nos olhamos nos olhos por longos segundos.

Os olhos dele ficam quase transparentes quando bate o sol. Até que é bonito...

Peraí, se liga, Lívia!

- B-bom... bom dia – tento usar meus resquícios de simpatia.

- Bom... dia. Não vou perguntar se está tudo bem, já sei que não está. Só peço que não se demore a levantar e arrumar suas coisas. Precisamos partir.

Assenti, me levantando e indo fazer minhas higienes pessoais. Quando voltei, ele não estava no quarto. Suspirei, percebendo o quão difícil vai ser lidar com isso.

Está muito frio hoje, então coloquei um vestido que protegesse mais contra o frio. Era vermelho com detalhes em branco, com uma capa de capuz das mesmas cores. Coloquei as luvas e esperei que viessem me buscar. Dito e feito, ele apareceu aqui, com os cabelos molhados e roupas mais limpas.

- Está pronta? – assenti e ele estende o braço para mim – Então vamos.

Hesitante, o segurei e me deixei ser conduzida por ele até os cavalos. Maya estava ali, pronta para a viagem. Cobri minha cabeça com o capuz e Alex me põe em meu cavalo, me erguendo pela cintura. Me ajusta para que eu não caia, e pegou as rédeas, me conduzindo até o seu. Montado no animal, me conduz de vagar até a frente do comboio.

Olhava para trás com lágrimas nos olhos, deixando o castelo onde nasci e vivi por todos os meus 17 anos. Limpo uma que caiu pelo meu rosto, fungando. Eu não faço ideia do que vou encontrar quando chegar lá. Ele tem família, conselheiros, nobres a sua espera. O que vão pensar quando ele aparecer lá, com uma esposa da família inimiga? Muitos com certeza vão querer nos derrubar de onde estou. No mundo em que vivemos, ter filhos e ser casada assegura sua permanência em sua posição social. A mesma coisa vale pra ele, que se não tiver filhos, pode ser derrubado. Quero mais é que ele suma, de tão irritante e insensível, mas se ele some... eu sumo junto.

Não são meus planos no momento.

- Está calada... de novo – quebra o silêncio entre nós.

Já estamos a muitos km longe de Suderhoffen. Não havíamos conversado, mal olhamos um para o outro. Eu estava acuada, sem minha família por perto, apenas... ele. E não diria que é uma das melhores companhias de se ter. Alex parece ser explosivo, e a última coisa que eu quero é ser uma vítima das explosões.

- Eu não tenho nada para dizer. Prefiro remoer os fatos em silêncio do que externalizá-los e parecer uma criança mimada perto de você.

- Eu não...

- Só me deixa em paz.

Ele fica estático, mal pisca.

- Eu estou tentando criar um ambiente agradável para nós dois, mas aparentemente você não vai baixar a guarda.

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