O vento era o único som que refletia sob o silêncio da cidade. Andando meio rápido, meio devagar, e em seus braços a quentura do serzinho abraçado com força aumentava aos poucos, mas o suficiente para alarmar Martin, enquanto este ia a procura de uma farmácia. Um grunido baixinho saia entre os lábios pequenos, que sabia, mesmo sem muita compreensão, que o momento dependia do seu próprio silêncio.
Atento sobre onde pisava, onde caminhava e os seus arredores, Martin suspirou em meio alivio após sair de um beco que dava à uma rua, e se deparar a alguns metros a frente com a tão procurada farmácia. O local estava desgastado pelo tempo e pelo vandalismo, os vidros da frente estilhaçados pelo chão, lixos espalhados sobre a calçada e mais algumas coisas como sangue no chão e nas paredes, que arrepiariam a espinha do argentino se ele não estivesse acostumado com o cenário. Sem escolhas, caminhou até a farmácia orando a Deus para que ali tivesse o que seu filho precisava.
Outro grunidinho foi solto por Matteo, a criança remexendo-se sobre os braços do pai pelo incomodo da febre, e Hernandez se apressou em o puxar para que ele não escorregasse - Shh, ya mejoras mijo - selou a testa quente e suada, não tardando em entrar no antigo estabelecimento.
Pisando com calma nos cacos de vidro, Martin analisou com cuidado o interior, aguçando o máximo que podia de sua audição, esperando com fé que não houvesse nenhuma daquelas coisas dentro do estabelecimento há muito abandonado. Constando que não, deixou com pressa a mochila pesada que carregava no chão, logo após usando desta de apoio para que Matteo ficasse deitado confortavelmente em cima dela enquanto ele iria a procura do remédio.
— Cariño, espera me, sí? Ya vuelvo - acariciou o rostinho — Recordate, shhh - fez o sinal, se afastou após Mateo o repetir.
Entre os corredores com prateleiras, andava rápido, sem se importar com o barulho que fazia ao derrubar algumas caixas de remédios que ele não via importância, vasculhava em busca de um entre esses que via utilidade para poder abaixar a febre, que vinha-se mostrando constante em seu filho. Sorriu fraco quando achou o que procurava. Martin apressou-se em voltar para perto de Matteo e pegou a garrafinha com o pouco de água restante, com calma, apoiou Matteo em seu peito e o aconselhou a tomar o remédio.
Em birra infantil, Matteo serrou os lábios e balançou fracamente a cabeça — Aaah! Vamos, Teo, necesitas de lo medicamento. No, no, abre la boca. No? Hummm, te digo entonces que papa se pondrá triste si no te tomas tu medicina...
— Eh, papá?
— Sí... Pero, se tomas, no me quedaré, palabra de tu Papá - ergueu o mindinho, sorrindo fraco ao ver os olhos escuros desconfiados e levemente preocupados
— No quielo ve a papá triste
— Aaah, entonces vas a tomar tu medicina? - Matteo o olhou desconfiado, mas hesitante, concordou, a cabeça se movendo lenta devido a toda situação em que Teo se enquadrava. Sem mais objeções, abriu a boca.
Por costume, após tomar o remédio, Matteo abriu a boca de novo depois de fazer careta, pondo sua língua de um lado ao outro para mostrar que realmente engoliu. Martin bateu palminhas que não fizeram som e se acomodou melhor na estante que estava encostado. O silêncio permanecia o mesmo, e tudo parecia quieto. Quieto demais. O argentino abriu os olhos, que outrora fechou para descansar, e observou seus lados, e quando sua atenção se voltou ao espelho que ficava pendura no teto, reprimiu o som de ar que saiu de seus pulmões ao perceber uma das coisas andando devagar, como se soubesse que ambos estavam ali, pronto para atacar.
O coração disparou e suas mãos umideceram. Não sabia o que fazer, Matteo ainda se posava febril e suas coisas estavam todas largadas, mesmo se quisesse, não daria tempo pegar tudo e fugir pela porta da frente, local esse onde a criatura podre bloqueava a passagem. Abaixou a cabeça e chamou a atenção do filho, fazendo o gesto dizia a ele que deveria permanecer quieto o máximo que pudesse, e vendo o estado que Martin se encontrava, a criança prontamente acatou a ordem.
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For Stay Together - Braarg
FanfictionCom o mundo estando em puro caos após o surgimento sem explicação de zumbis e um apocalipse digno de um filme, a humanidade tratou de dar início à sua adaptação para sobreviver. Em meio ao ambiente caótico, a falta de recursos, o medo e a necessidad...