Paradox

[03] About a Girl

LONDRES, 2003.

Kim Dahyun se considerava várias coisas, mas medrosa dificilmente era uma delas.

Para ser sincera, Dahyun não tinha medo de muitas coisas, ela tinha medo de palhaços, isso foi deixado muito claro quando ela foi assistir "IT" no cinema aos 7 anos, a atuação de Tim Curry havia sido muito assustadora em sua opinião. Ela também sentia medo de escorpiões, morcegos e vampiros.

Mas nada a deixava mais assustada que Park Jihyo irritada.

O primeiro encontro delas não foi o mais ideal, e Jihyo pode ter alguma responsabilidade nisso.

Numa sexta-feira, alguns anos atrás, Sana pediu a Dahyun para cuidar da locadora de seu pai enquanto ela ia ao médico. E a coreana prontamente concordou em ajudar a amiga, uma vez que adorava passar tempo na locadora. Organizar cada VHS nas seções de seus respectivos gêneros era algo que ela achava extremamente relaxante.

Naquele dia em particular, não havia nada programado para organizar. As sextas-feiras eram reservadas para as locações de filmes para o fim de semana, raramente havia devoluções, embora não fosse algo incomum.

Dahyun lembra exatamente daquela mulher que entrou na loja, usando um top laranja, com uma calça camuflada de cintura baixa, coturnos pesados que faziam um barulho alto ao caminhar e luvas sem dedo que iam até metade do punho, seu cabelo era lindo na altura dos seios e parecia uma modelo de tão linda. Assim que a mulher localizou a garota atrás do balcão, sua cara fechou e um vermelhão subiu seu rosto, antes de começar a caminhar rapidamente até o balcão, ela praticamente jogou uma caixa de VHS no móvel, "Uma Linda Mulher" dizia na caixa.

A garota sentiu um nó na garganta enquanto encarava a mulher, reunindo sua coragem para falar

— Boa tarde, em que posso ajudá-la? — perguntou, sua voz saindo um pouco trêmula.

— Escuta só, fofinha. — ela estava puta da vida. — Eu aluguei esse filme pra ver com meus pais e sabe o que rola quando aperto o play? — a mulher ergueu a sobrancelha, esperando a resposta da outra, que apenas balançou a cabeça negativamente. — Começa a passar um pôrno na tela! Você tem noção da saia justa que passei na frente dos velhos?

Ela recordava-se de querer se encolher em um buraco, completamente envergonhada e sem saber como agir. Por sorte, o senhor Minatozaki, pai de Sana, entrou na locadora bem na hora e interveio, resolvendo a situação com a mulher.

No entanto, a experiência foi terrível e, mais tarde, quando Sana apresentou Jihyo como sua namorada, a primeira coisa que veio à mente de Dahyun foi o incidente do VHS.

Desde então, Dahyun raramente testemunhou a mulher irritada, mesmo depois de começarem a morar juntas.

Mas hoje claramente não era um desses dias.

Já se passavam alguns minutos desde que Dahyun tentava pacientemente ensinar Momo a mexer no computador. Cada clique do mouse era como um pequeno avanço na batalha para Monica desvendar os mistérios da tecnologia. Enquanto isso Sally e Sharon conversavam entre si, a segunda parecendo, ainda, levemente preocupada com Katarina.

No entanto, Dahyun não conseguia determinar se Monica simplesmente não estava entendendo ou se era realmente incapaz de entender alguma coisa. A frustração começava a se infiltrar em sua voz, enquanto ela tentava encontrar uma maneira de explicar as nuances da navegação na internet. O olhar de Momo oscilava entre a tela do computador e o rosto preocupado de Dahyun, uma mistura de determinação e confusão refletida em seus olhos.

No entanto, o breve instante de calma foi abruptamente interrompido por um estrondo na porta. A Kim soltou outro suspiro resignado, esperando ver Georgia e Katarina entrarem na cozinha. Porém, para seu horror, ouviu passos de salto alto pesados ecoando por toda a casa, e foi Jihyo quem irrompeu pela porta, com o rosto ruborizado de raiva, as mãos na cintura e as roupas amassadas.