- prólogo!

304 54 52
                                    

— Classificação indicativa: 16 anos

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

— Classificação indicativa: 16 anos.

— Alerta de gatilho: violência típica de Criminal Minds — descrição leve de violência contra criança, descrição de sons provenientes de tortura, visão de uma criança de uma situação séria acontecendo (meio triste?). 

Jeanine Arceneaux estava com fome

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Jeanine Arceneaux estava com fome. Ela não sabia há quanto tempo tinha comido pela última vez, nem há quanto tempo estava longe de casa; a única coisa que Jean se lembrava era das palavras claras de sua mãe antes dela ser levada: não abra os olhos, não importa o que aconteça. A voz desesperada de Amelie Arceneaux soava em sua mente repetidamente, como um alerta de que ela não deveria abrir os olhos mesmo com a fome, a dor no corpo e o frio que sentia.

Não. Abra. Os. Olhos

Mesmo quando seu pai tentou lutar por suas vidas e foi jogado contra um armário de ferramentas, Jeanine não abriu os olhos. Em vez disso, ela apertou ainda mais os braços em volta da cintura de sua mãe, escondendo a cabeça na curva de seu pescoço. Em vez de dar atenção aos grunhidos de dor de Paul Arceneaux e à sua voz trêmula implorando para que soltasse as mulheres de sua vida, Jeanine respirou fundo o perfume de rosas de Amelie, feito na França especialmente para ela, que ela guardava a sete chaves no fundo de seu armário. Jeanine amava aquele perfume.

Não. Abra. Os. Olhos.

Mesmo quando sua mãe foi brutalmente tirada de seus braços e depois o seu grito estridente ecoou através das paredes de concreto frio, Jeanine não abriu os olhos. Em vez disso, ela se encolheu mais no lugar, abraçou os joelhos e escondeu o rosto entre as pernas. Tudo ia ficar bem, ela sabia que ia — sua mãe tinha prometido comprar sorvete de limão para ela quando saíssem dali, e sua mãe nunca quebrava suas promessas; quando saísse daquele lugar, Jeanine iria comer um pote inteiro de sorvete de limão com calda de caramelo e… Seus pensamentos foram interrompidos pelos gritos de dor e pelo choro desesperado de sua mãe, implorando para que a tortura parasse, para que aquele homem soltasse sua filha, sua filhinha querida.

Não. Abra. Os. Olhos.

Mesmo quando mãos grandes e fortes a seguraram pelos braços e a obrigaram a ficar de pé, Jeanine não abriu os olhos. Mesmo sendo guiada por um longo corredor frio e fedido, despida de seu vestido xadrez vermelho, deitada em uma maca de metal fria e presa pelos pulsos e tornozelos, ela não desobedeceu sua mãe. Mesmo com a barriga doendo e se revirando de fome, com o corpo tremendo de frio e com a garganta dolorida de tanto segurar o choro, Jean não abriu os olhos. Quando a ponta fria da faca passeou por seu braço, fazendo cócegas e depois causando uma dor terrível, Jeanine fechou os olhos com ainda mais força e tentou se encolher, tirar o braço do que estava a machucando. Ela não chorou alto, não gritou, não abriu os olhos. Jeanine foi a boa garota que sua mãe pediu que ela fosse, o tempo todo. Durante todo o tempo em que esteve lá deitada, Jeanine foi a melhor criança que já passou pelas mãos daquele assassino; aquilo só o compadeceu ainda mais — precisava poupá-la das dores daquele mundo cruel, precisava livrá-la de sentir decepção, tristeza, dor, luto… Jeanine era uma criança boa demais para aquele mundo terrível, ele precisava salvá-la. 

Não. Abra. Os. Olhos

Jeanine sentiu seu corpo antes que pudesse abrir os olhos. As palavras de sua mãe vieram novamente em sua cabeça e, em vez de abri-los, ela fingiu que estava dormindo. Ela sentiu gotas de chuva pingando em seu rosto, um tecido quente e fofinho cobrindo seu tronco e braços fortes a carregando, segurando-a tão forte contra o próprio corpo que Jean chegou a pensar que ficaria roxa e incharia até sua cabeça explodir, como nos desenhos animados que via pela manhã, antes de ir para a escola. Seu corpo todo doía, e ela não conseguiu evitar de gemer quando foi colocada em outra maca, dessa vez coberta por um cobertor quentinho e peludo. 

— Ela está acordando. — uma voz masculina constatou, emanando preocupação. 

Enquanto isso, a maca começava a andar com suas rodinhas, dando a sensação de que ela cairia. Segurando as bordas da superfície de plástico com a maior força que conseguiu reunir, Jeanine sentiu a maca ser erguida e colocada em algo ainda mais alto. Ela respirava devagar, ainda tentando fingir que estava dormindo — talvez não tivessem visto ela se segurar na maca conforme andavam ou se encolher quando foi erguida. 

— Ei, garotinha. — a voz masculina de antes voltou a falar, tocando em seu braço. Jeanine apenas apertou mais os olhos fechados, se recusando a abri-los. Não abra os olhos, não abra os olhos, não abra os olhos. — Você está segura, pode abrir os olhos agora. Ele não pode mais te fazer mal. 

Então a mão quente do homem encontrou a sua, tocando-a com tanto cuidado que, se não fosse pelo calor que emanava, Jeanine mal conseguiria senti-la. Era um toque acolhedor, tal como sua voz, e aos poucos o volume da voz de Amelie em sua mente foi diminuindo até sumir por completo: não abra os olhos, não abra os olhos, não abra os olhos, não… Então, Jeanine abriu os olhos, sendo recebida por uma claridade desconfortável. 

A primeira coisa que reparou foi na jaqueta estilo aviador que a cobria até o pescoço; a segunda coisa que chamou sua atenção foram as manchas de sangue que haviam na jaqueta, revestindo o tecido marrom; a próxima coisa que os olhos de Jeanine pararam em cima foi o rosto preocupado do homem que tinha a resgatado: cabelo castanho cacheado, rosto alongado, nariz proeminente e grandes olhos castanhos preocupados; depois, Jean percebeu que estava em uma maca, dentro de uma ambulância ainda parada, sendo tratada por um paramédico.

— Ei, como você se sente? — ele sorriu levemente ao ver que Jeanine tinha aberto os olhos e relaxado um pouco — Você está bem agora, tá? Vamos parar hospital e lá vão te dar um remédio para melhorar. Eu sou Jason Gideon e vou cuidar de você por enquanto, tudo bem?

— Gideon, e aí? A perícia está… — outro homem entrou na ambulância, parando de falar assim que percebeu que a garotinha estava acordada, sorrindo de forma acolhedora para ela — Oi, como vai? Eu sou o David Rossi. Você consegue falar? Consegue nos contar o que aconteceu?

Jeanine não conseguia falar. Assim que despertou por completo, a única coisa que ela conseguia sentir era a dor de seu corpo, tomando conta de todos os seus pensamentos e sentidos. Tudo nela doía, cada mínima parte de seu corpo. Jean abriu a boca para dizer o que sentia, mas sua voz não saiu; no lugar, um choro desenfreado se iniciou. 

Jeanine chorava intensamente, soluçando e tremendo. Ela queria contar o que tinha acontecido, queria contar que só tinha ido passear em um parque com seus pais e que foram levados em um piscar de olhos, queria perguntar onde estavam seus pais, como eles estavam, se também estavam com dor… Mas sua voz não saía. No lugar, apenas um choro alto se fazia presente. Jeanine chorou, chorou, chorou, até sua visão escurecer lentamente e sua consciência desaparecer totalmente. 

Ela não deveria ter aberto os olhos. 

FICSKADI, 2024

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

FICSKADI, 2024

PROBLEMS | spencer reidOnde histórias criam vida. Descubra agora