Capítulo IX

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HAZZ

Lá fora, Louis se dirige ao lago, e eu o sigo. Quantas vezes fiz esse trajeto com ele? Umas cem, no mínimo.

—Lembra aquele verão em que dissemos que correríamos oito quilômetros por dia, independentemente de qualquer coisa? — pergunto.

Nos afastamos do dormitório a um ritmo tranquilo. —Claro.

—Então veio aquele dia quente com dois treinos e levantamento de peso. Mas você disse: A gente ainda tem que correr, ou o verão inteiro não vai contar. — Sorrio só de lembrar.

—Ninguém mandou você tomar sorvete antes.

—Eu estava morrendo de fome. Claro que nunca mais tomei sorvete de pistache.

Louis sorri conforme nos dirigimos ao lago. —Vômito verde-claro em todo o gramado.

—Bons tempos. — Eram mesmo. Eu vomitaria na grama todos os dias se isso significasse que poderia voltar a essa época mais simples. Seguir o cabelo loiro de Louis em volta do lago era tudo o que eu queria da vida.

Tá, é mentira. Eu preferiria derrubá-lo no chão e tirar sua roupa. Vê-lo de novo está me matando.

Mas tenho algo a dizer, e tem que ser logo. Corremos o próximo quilômetro em silêncio, enquanto repasso tudo na cabeça. Minhas grandes desculpas. Se Louis ficar horrorizado, vai doer.

Tem alguns caiaques no lago, balançando a cada remada. Me sinto igual a eles.

—Sobre o que você queria falar? — Louis finalmente pergunta.

Não tenho mais como enrolar. —Só fico aqui até julho. — É melhor deixar tudo claro desde o início.

—Eu também. Tenho que estar em Detroit antes de primeiro de agosto. Você vai pra Toronto, né? Animado?

—Claro. Mas escuta... Só quero dizer que, se não quiser dividir o quarto comigo, posso pedir para Pat me mudar de lugar. Não vou ficar ofendido.

Louis para de correr, e eu me detenho pouco antes de bater em suas costas. —Por quê? — ele pergunta.

Lá vou eu. Sai tudo de uma vez só. —Tomlinson, sou gay. E, beleza, pode não ser muito importante no dia a dia. Só que, da última vez em que estive aqui, eu meio que... forcei você a fazer certas coisas. Não foi legal, e passei os últimos anos me sentindo um merda por causa disso.

Por um longo momento, ele só me encara. Quando finalmente fala, não é o que eu esperava. —E? — E?

—E... sinto muito.

O rosto dele fica vermelho. —Você sabe que eu cresci no norte da

Califórnia, né? Tem noção de que conheço um monte de gays?

—Então... tudo bem?

Louis abre e fecha a boca. Então abre de novo. —Foi por isso que você não me ligou por quatro anos? Por que ignorou todas as minhas mensagens?

—Bom... foi. — Estou muito confuso. Acabei de me confessar culpado num caso de babaquice extrema e por uma noite muito egoísta. E ele está preocupado com as mensagens.

Seu rosto fica um pouco mais vermelho. Então Louis volta a correr, e fico tão surpreso que demoro um segundo para ir atrás.

Está mais rápido agora. Dá passadas mais longas e movimenta os braços com força. A camiseta que está usando abraça seus músculos a cada passada, e tenho inveja daquele pedaço de poliéster.

A volta em torno do lago tem um pouco menos de cinco quilômetros. Não sei o que se passa na cabeça dele enquanto percorre o resto. Me mantenho alguns passos atrás, confuso e desanimado. Passamos por pontos conhecidos — a loja de doces e a loja de brinquedos que vendia arminhas de elástico. Uma padaria chamada Milagre no Glacê.

Não vejo o rosto de Louis até que ele para na frente do tobogã, fechado de novo por causa do verão. Queria voltar à época em que pular uma cerca era a coisa mais errada que eu podia fazer.

Quando vira a cara suada para mim, ainda vejo a raiva. — Você não falou comigo por quatro anos porque achou que eu ia pirar pelo fato de ter me chupado.

—Bom... é.— Mas, dado o ressentimento na voz dele, eu ferrei tudo de um jeito que não tinha levado em conta.

Suas mãos estavam fechadas em punho. —É assim que você me vê? Como um babaca preconceituoso?

Em um banco ali perto, vejo uma jovem mãe pegar o filho pequeno e se afastar da gente, com a testa franzida.

Mas Louis não para. —Foi só uma chupada, pelo amor de Deus. Ninguém morreu.

Eu provavelmente ia me arrepender, mas falei mesmo assim:

—Me senti um... sacana.

—Ah. Obrigado por me punir por sua desonestidade. Uma sentença de quatro anos. Eu tinha acabado de começar numa escola nova, onde não conhecia ninguém, e não conseguia entender o que tinha feito de tão ruim pro meu melhor amigo.

Cacete. —Desculpa— murmurei. Pareceu a coisa errada a dizer.

Tanto para mim quanto para ele, tenho certeza.

Louis chutou uma lata de lixo. —Preciso de um banho.

Meu pau traidor se voluntaria para ir junto, mas mantenho minha boca enorme fechada enquanto percorremos o último quarteirão e subimos a escada. Não foi nem um pouco do jeito que eu imaginava. O pior cenário envolvia Louis se contorcendo em horror diante da minha gayzice e me acusando de manipulá-lo.

Tinha passado quatro anos com vergonha do que eu havia feito, e agora me dava conta de que devia me envergonhar de algo completamente diferente. Louis não ligava para o boquete. Ligava para o fato de que o abandonei. E saber que tinha machucado meu melhor amigo muito mais do que imaginava fez com que me sentisse ainda pior.

Parei no topo da escada. —Tomlinson?— falei para suas costas rígidas.

—Quê? — ele murmurou sem virar.

—Preciso achar outro lugar pra dormir hoje à noite?

Ele suspira. —Não, idiota. 

HIM - Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora