Morango

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Era impossível voltar a dormir!
Eu sempre acordava muito cedo, costumes que se tornam regras com o passar do tempo. Geralmente malhava às 6h da manhã. Mas mesmo assim, estava "passeando". Estava em outro estado, meus compromissos com o evento estudantil estavam findados, e o plano era descansar, aproveitar um pouquinho a cidade e curtir esse dia livre que a muito tempo eu não me dava o luxo de ter. Talvez eu gostasse de participar desses eventos por isso. Por mais cansada que eu ficasse do "trabalho escravocrata" como César dizia, eu tinha pelo menos um dia só pra mim no fim do evento, o que nunca acontecia em minha rotina normal de trabalho. E agora 5h40 da manhã, 20 minutos depois do maldito sonho, eu daria tudo para voltar a dormir.

"De repente né... ela e eu, assim... sei lá. Pelo menos mais um sonho né?!"

Eu não estava fazendo sentido nem pra mim mesma, então resolvi levantar, tomar banho e descer para o café que era servido a partir das 6h.
Coloquei um salto mais modesto que ornava com meu macaquinho casual de cor laranja, e estava pronta para uma volta na cidade após o café.

O restaurante estava praticamente vazio. Boa parte dos envolvidos no evento já haviam ido embora após a premiação, e outros voluntários  provavelmente estavam aproveitando a folga, dormindo mais. O "alto escalão" da educação faria a tal reunião do conselho em um dos auditórios do hotel, eu nem havia me preocupado em memorizar o horário. Tomara que fosse tarde, eu não queria ter que socializar com ninguém, principalmente com ela.
Sentei-me ao lado da vidraça do restaurante em uma mesa individual. Sem dúvida era a parte mais linda daquele ambiente, que mostrava um Recife novo e ruas bem movimentadas antes das 7h da manhã. Peguei frutas para começar o desejum.  O mamão estava delicioso, e comer observando a vida alheia é um tanto terapêutico. Faz-me refletir o quanto as pessoas vivem no automático, correm de um lado para outro para sobreviver e se esquecem de viver.

_Boooom dia, Soraya.

A voz rouca e bem humorada de Simone me fez engasgar com a salada de frutas. Susto? Nervoso? Sei lá! Dei graças a Deus de ter um copo inteiro de suco de laranja ao lado, e o virei de uma vez só. Um pico de glicose não me faria ficar pior do que eu estava, faria?

_Fôlego - Simone refletiu enquanto me observava secar o copo.

_Desculpe-me, estava distraída... engasguei. Bom dia, Simone. - respondi enquanto sentia o rosto corar.

Ela sorriu carinhosamente.

_Desviei o caminho para ter certeza se a loira isolada no canto do restaurante, perdida em pensamentos era você. Pensei que dormiria até mais tarde, já que está a salvo da reunião chata do conselho.

_Esse era o plano, um dia relaxante. Mas perdi o sonho... digo, sono. - falei ao lembrar de como tinha parecido real o sussurrar dela, arrepiando minha nuca.

O sorriso simpático dela era tão natural.
"Essa boca..."

_ Bem, deixe-me levar o chocolate quente de Leila, antes que vire chocolate frio. - disse Simone, quebrando meus delírios.

Ela fez um sinal mostrando uma xícara em cada mão. Em uma delas, eu podia ver a cordinha do chá e na outra, provavelmente o chocolate de Leila. Senti uma pontinha de incômodo.

"Porque ela sempre está acompanhada por no mínimo uma mulher?! Parece carregar um fã clube."

Essa mania que as pessoas têm de andar em grupos. E Simone...Simone parece um imã. Talvez ela seja simpática demais. Popular demais para andar sozinha.
Olhei para algumas mesas a distância e lá estava Leila, nos encarando. Talvez ela estivesse pensando o mesmo que eu. E Leila, tinha fama conhecida na área educacional, eu a conhecia de vista, mas sabia que era uma das poderosas do conselho, e trabalhava no prédio da secretária que Simone tanto devia frequentar.

Roda Gigante  |  SimorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora