Entre as chamas se manifesta. Nas matas se esconde. O Fantástico, A Bondade e A Misericórdia são os pilares que sustentam a Lenda da Raposa de Fogo.
Algures na época feudal, havia uma velha aldeia, situada num monte que era abraçado por uma vasta extensão de floresta. A sua população era próspera e bem equilibrada entre a suacrença, a sua abundância e a sua cultura. No topo desta paisagem, facilmente identificada pelos viajantes dos quatro cantos do mundo, residia um grande templo habitado por monges. Já era do conhecimento de todos que sempre que alguém de fora visitava a aldeia, iria sempre encontrar um lugar seguro, tranquilo e com comida caseira, para poder descansar da sua jornada.
Mas não era apenas a hospitalidade destes aldeões que atraía os desconhecidos, porém sim, o mistério da abundância da floresta que ficava encostada à aldeia. No seio daquele verde havia de facto algo fantástico que vagueava entre as árvores. Mesmo que estivesse fora da época, os aldeões voltavam de lá com belas frutas, a pesca no seu riacho era abundante e o vento trazia ar puro até às janelas e às portas das casas. Os mais velhos conspiravam que um demónio vivia lá e que tudo o que traziam tinha um preço alto e que um dia iam pagar.
No entanto, voltemos um pouco atrás.
Os monges, sábios e conhecedores dos segredos do Universo, continham uma lenda sobre a mata. Há muito tempo, aquelas terras foram alvo de uma passagem de duas presenças divinas. Uma representando o caos e a outra sendo a renovação. O Caos, esse sim, era umdemónio, uma besta de fogo feroz e caçador de almas. A Renovação, por sua vez, era uma brisa primaveril que espalhava vida e paz por onde passasse. Na mente destes humanos isolados na fé, havia a válida teoria de que estes dois seres se tivessem cruzado e dado um fruto. Confirmaram isso mesmo quando um deles assistiu um episódio muito curioso. Um dia, enquanto passeava na floresta, viu que uma raposada vivia lá. O que era muito invulgar. Como todos os animais selvagens estas caçavam animais mais pequenos, bebiam do riacho e brincavam umas com as outras. Jamais passavam da floresta para a aldeia, logo, não eram um problema para os aldeões. O facto mais incomum neste cenário era a existência de uma criança, aparentemente humana, entre os animais. Era de muito tenra idade e quase se podia confundir a sua presença no meio de tanta cor de fogo e caudas felpudas.
Deram-lhe o nome de Aya, era uma menina. Na sua cultura, este nome significava cor, conhecimento, rapidez, características que se aplicavam perfeitamente nela. Desde muito cedo na sua vida que Aya vivia naquela floresta, pois, foi deixada lá pelos seus pais e acolhida pelas raposas. Aya, sendo filha de demónios, tinha de ficar escondida. Apesar de ter traços humanos, os seus poderes eram imensos e demasiado perigosos para a mente daquelas pessoas poder entender. A criança era ruiva, os seus olhos eram semelhantes aos das raposas, bem alaranjados, e tinha dentes caninos afiados, o que chamava muito a atenção para o estranho. Gostava de criar ilusões que enganavam humanos e os outros animais, chamuscava os cabelos das senhoras arrogantes que passeavam perto do riacho e, junto com as suas raposas, roubava algumas roupas de nobres, enquanto as criadas as lavavam. Tudo isto sem nunca ser descoberta, num longo jogo de toca e foge. Os monges do templo acreditavam que a vida abundante da floresta se devia ao facto de Aya viver lá, o que fazia sentido tendo em conta quem era sua mãe. Era definitivamente uma dádiva para a aldeia, daí então ser necessário afastar as atenções de cima dela, para que não corresse risco, sendo ainda tão jovem. Espalharam então a mensagem que Deus tinha enviado a fartura para aquela terra, através da floresta, e que esta tinha de ser preservada.
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A Raposa de Fogo
FantasyNuma uma terra esquecida pelo tempo, no coração do Japão antigo, jaz uma aldeia envolta pela serenidade de uma floresta densa. Conhecida como o berço de dádivas, a floresta abençoa os aldeões com frutos suculentos, peixes prateados e um ar de pureza...