Capítulo 8

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Emma

Aula de biologia às oito e meia não seria minha primeira opção, mas, quando
Cora postou os horários dela no Facebook mês passado, foi a única matéria que
ainda tinha vaga. Então, acho que agora me interesso por organismos vivos.
Respiro fundo e ajeito o cabelo sobre os ombros antes de puxar a porta pesada
e entrar no auditório.

Dou uma olhada nas fileiras. Vejo alguns alunos de aparência quieta sentados
sozinhos na frente, grupos de amigos conversando sobre as férias no meio e uns
atletas da Pitt no fundo da sala, com as pernas em cima das mesinhas.
Não há uma única pessoa que não pareça sonolenta por causa de alguma festa.
É uma aparência que reconheço perfeitamente bem, pois era a mesma da
segunda-feira depois da formatura e dos domingos no clube de esqui.
Pela primeira vez, no entanto, entendo mesmo o sentimento. Também estou exausta. Sinto uma pontada de tristeza ao pensar na aula de contos de que abri mão por essa. Contudo, apesar de biologia ser principalmente uma aula introdutória para medicina na Pitt, também cobre meus requisitos básicos de ciências. Ou seja, me poupa de fazer aula de ciências em outros
semestres.

Portanto, não estou aqui só pela Cora, repito para mim mesma. Abro caminho pelo auditório e finalmente vislumbro seu cabelo curtinho castanho. Ela está conversando com Abby, com um sorriso que me aquece até os ossos. Acho que é a única pessoa sorrindo aqui.
Seguro as alças da mochila e ando até a terceira fileira, onde ela está sentada.
Abby está digitando no celular, e dou meio passo à frente, até estar perto o
suficiente para encostar nas costas da cadeira de rodinha ao lado de Cora, se
quisesse. A gente se viu ontem. Sentar junto dela é totalmente normal.

— Tem alguém sentado aqui? — pergunto de trás delas, tentando soar… não sei, sedutora, sei lá?

No entanto, sai basicamente um sussurro teatral. Entre minha voz e os atletas
gargalhando no fundo, ela não me ouve. Olho por cima do ombro e vejo a garota
da fileira de trás jogar o cabelo ruivo-fogo e me encarar como se dissesse “Senta
ou sai daí, porra”. Pigarreio, prestes a repetir a pergunta, mas, simultaneamente, Abby diz:

— Cora, olha isso!

Cora vira a cadeira quando Abby levanta o celular para mostrar alguma coisa
no Instagram. Eu me viro para o outro lado e hesito, encontrando o olhar da
ruiva irritada, até finalmente decidir sair da fileira e encontrar um lugar no fundo
antes que elas me notem parada ali.
Mandou bem, Emma. Que eficiência.
Solto as alças que estava apertando com força e largo a mochila no chão, me
jogando no assento, tentando ao máximo deixar aquilo para lá e me concentrar
na aula. Pego meu fichário e minhas lapiseiras, arrumando tudo à minha frente.

Tudo tão diferente, novo e pronto.
É exatamente como gosto, mas, ainda assim, não consigo afastar o desconforto
na barriga sempre que meu olhar recai em Cora e no assento vazio que deveria
ser o meu. Enquanto o professor ajusta o microfone no pódio, a porta se escancara, e por ela entra ninguém menos do que Jenna Blackwood. Atrasada. Sem mochila. Só
um livro enfiado debaixo do braço e um sanduíche barato pela metade na mão.
Abaixo a cabeça e finjo estar muito interessada na ementa presa no fichário,
rezando para ela não me ver. Pelo canto do olho, a vejo parar e cumprimentar
Cora e Abby, que a veem e ouvem, claro, mas finalmente ela sobe os degraus
saltitando e se esmaga para passar por cinco pessoas antes de se jogar na cadeira
vazia, bem ao meu lado.

Ela dá uma mordida enorme no sanduíche e se apoia na mesa compartilhada à
nossa frente, se voltando para mim. Continuo a olhar para baixo, mas ela não
para de me encarar, mastigando alto no meu ouvido.

— Você sabe que sua garota tá sentada bem ali — praticamente grita, apontando com o sanduíche para a frente da sala.

— Shhh!

𝐄𝐥𝐚 𝐟𝐢𝐜𝐚 𝐜𝐨𝐦 𝐠𝐚𝐫𝐨𝐭𝐚 | 𝐉𝐞𝐦𝐦𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora