CAPÍTULO I

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ʟᴏɴɢᴏꜱ ᴏʟʜᴀʀᴇꜱ ᴇ ᴀʀǫᴜɪᴠᴏꜱ ᴘᴇꜱꜱᴏᴀɪꜱ

Ambientado aproximadamente na segunda temporada, episódio 20 - "Honra entre ladrões".

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ELA AINDA PODIA SENTIR  a mão dele cortando sua bochecha, com pequenas veias vermelhas. A perda de equilíbrio que embrulhava sua visão enquanto ela alcançava o objeto mais próximo, não para se defender, mas para se segurar em algo. Algumas batalhas não podem ser vencidas e ela já tinha muito delas para saber que, se você levanta a bandeira branca, acabará mais cedo. Assim que recupera sua visão, a imagem assustadora do sangue espalhado por todo lado se penetram em sua mente. O chão. Suas mãos tremulas. O cadáver à sua frente, amarrado a uma cadeira com um buraco de bala na cabeça. O rosto de Aubert. Seu lábio aberto. O sabor metálico em sua língua. Ela ainda poderia sentir isso hoje. Mas hoje, Louise já estava muito longe.

__... portanto, escreverei para seu psiquiatra que, na minha opinião, não há necessidade de duplicar a dosagem de seus sedativos. O que acha? — A Sra. Russel, sua terapeuta, sentou-se atrás dela imóvel, guardando sua sombra, enquanto os pensamentos de Eleanor vagavam distraidamente. — Eu vejo que os efeitos colaterais ainda estão prevalecendo neste exato momento. — Ela continuou, consultando seu relógio. Eram muito além do meio-dia e, normalmente, a dissociação, entre outros efeitos colaterais, ocorria durante a primeira parte do dia. Era uma sensação estranha, a qual sentia agora. Ela ainda podia ouvir a voz de sua terapeuta zumbindo na parte de trás de sua cabeça, mas não conseguiu processá-la completamente. Sua mente estava totalmente focada em outra coisa.

__ Eu estava apenas pensando...— Finalmente conseguiu articular, com a ideia de que seu próximo o relatório poderia dizer muito sobre seu presente estado. — É apenas- eu tive um caso difícil e a coisa toda com a BAU tem me incomodado. — Ela suspirou, os olhos ainda grudados na enorme janela.

Sempre houve barulho e conversas paralelas na rua movimentada de Adams Morgan. Eleanor não esteve lá há meses, o que desagradava muito a Sra. Russel. Trabalhar em longos casos pra o FBI e estar afastada de casa por meses realizando trabalho de cobertura não era uma rotina adequada para as lutas internas de Eleanor. A Insônia crônica não pode apenas se alimentar das pílulas e esperar que o melhor aconteça enquanto ela perde seu horário de sono. E, embora não tivesse tido um tempo, as coisas também não estavam inteiramente calmas. Mas ela sempre se certificava de aparentar estar no caminho certo.

Eleanor havia estado morando com sua bússola moral incomum por alguns anos agora. Tudo começou no momento em que pisou no solo parisiense, depois de receber uma oferta do DGSE. Ela havia terminado sua segunda missão no Afeganistão trabalhando com a contra-inteligência militar para o governo americano quando recebeu a proposta, e naquela época, retornar ao país onde uma parte insignificante dele ainda era controlada pelas pessoas que mataram sua familia soava atraente para ela. Mas isso não era mais o caso.

Quando retornou, ela não conseguiu esconder suas lutas ou compreender todo o trauma que trouxera de volta. No entanto, nenhuma delas estava listada em sua avaliação psicológica. Se houver algo que Corine Trudeau lhe ensinou em todos esses três anos de trabalho no DGSE, é que, se você e não pode controlar a si mesmo, você sempre pode controlar sua aparência. E Trudeau sempre se certificava de que seus agentes aparentassem estar impecáveis. Mais tarde, ela percebeu que alguém tagarela é melhor visto que um não-falante em sessões de terapia. E que o que estava escrito nesses relatórios determinaria o futuro de sua carreira como agente da lei. Então ela mentiu até se tornar uma mestra nisso. Até que acreditassem. Até que esses relatórios se tornassem tão limpos quanto o sangue ainda espalhado na palma de suas mãos. A única pessoa a quem ela não conseguiu enganar era Jason Gideon. Ela culpou isso pelo fato dele ser um perfilador e ter um olho treinado para desmascarar os pequenos gestos que deletavam, algo que um simples psicólogo parecia ignorar. O alarmante era que ela escolheu deliberadamente se juntar a um grupo cheio de perfiladores, apesar de suas habilidades de mentira não terem melhorado.

PARANOIA  | ᴄʀɪᴍɪɴᴀʟ ᴍɪɴᴅꜱ [Versão em Português]Onde histórias criam vida. Descubra agora