DONT BLAME ME

Capítulo 1

Meu olhar percorre toda mansão onde minha irmã mora atualmente com seu marido. Seguro com força a sacola que carrega o vinho caríssimo e me obrigo a caminhar até a entrada acompanhada dos meus pais. Que merda eu estou fazendo aqui mesmo?

A porta é aberta por Isabella que abre o sorriso mais falso ao nos ver. Vadia descarada. Ela corre para abraças nossos pais e logo depois vem até mim, gritando sobre o quanto estava com saudade. Se ela ganhasse um euro a cada mentira que conta, com certeza ficaria mais rica do que já é.

– Estou tão feliz em ver vocês! Entrem, entrem! – ela acena para meus pais, que são rápidos em iniciar uma conversa sobre sua vida de casada.

Ela e Kaden moram atualmente na Itália, apesar dos negócios de Kaden serem em todo mundo, ele prefere ficar perto da mãe após a morte de seu pai.

– Kaden estava animado para esse jantar.

– Ter duas de sua esposa deve ser mesmo um colírio para os olhos dele. – comento sem nenhum pudor.

Isabella apenas escolhe ignorar minha fala, até porque ela nunca teve coragem de me enfrentar.

– Eu convidei algumas pessoas para nos acompanhar no jantar de hoje, mas não se preocupem que são amigos da família. – Isabella nos guia até sua enorme sala, onde Kaden se mentem concentrado em algo no notebook.

Olho para o homem que nunca deixei de amar. Ele parece tranquilo mesmo depois de tudo o que fez contra mim. A forma como ele sempre exibe sua esposa é a prova disso.

– Ainda viciado nesse jogo? – me sento ao seu lado sem me preocupar com a presença daquela que um dia já chamei de irmã. – Você não tem negócios importantes a tratar?

Kaden sorri.

– Tenho, mas isso é mais importante. – ele responde antes de reparar na presença dos meus pais. – Pietro e Mariana, é sempre um prazer ver vocês. Se me permite dizer, Pietro, sua mulher fica mais bela a cada dia.

– Apenas não mato você porque é o marido da minha filha. – meu pai brinca.

Reviro os olhos com essa baboseira.

– Estou tão animada por hoje! – Isabella se anima, caminhando até Kaden e passando os braços em volta do seu pescoço.

– Você sempre foi muito fácil de agradar. Lembra quando nossos pais esqueceram daquela sua apresentação de valer boba e logo depois você se conformou ao ganhar uma boneca? – pergunto em tom desafiador.

Sempre que olho para essa estúpida tenho vontade de cortar sua garganta.

– Bem, não poderia ficar brava se eles não fizeram por mal. Mas enfim, pedi para preparem a sobremesa favorita da mamãe. – ela muda de assunto.

Encaro o casal com o mais puro desgosto. Não tenho tido um dia de paz desde que Kaden assumiu seu relacionamento com Isabella. Algo dentro de mim sempre se agita da forma mais agonizante ao vê-los juntos, mas também nada do que eu fiz ao longo dos anos foi capaz de separa-los.

Nem mesmo todos os bebês que Isabella estava esperando e eu matei.

Parece que nada é suficiente para Kaden enxergar a inútil que minha irmã é.

– Ah, antes de tudo, tenho uma novidade para contar para vocês! – Isabella exclama, seguindo para o meio da sala enquanto arrasta Kaden pela mão. – Nós temos uma novidade.

Meus pais olham para eles curiosos e apenas tento não demonstrar todo meu desprazer em estar aqui.

– Sei que não temos uma boa história com isso, mas... – Isabella bate palmas feliz, ao mesmo tempo que Kaden deposita a mão na sua barriga.

Não.

De novo não.

– Estou grávida!

As palavras entram nos meus ouvidos com facilidade, me fazendo lembrar de sete anos atrás.

"Infelizmente o feto não resistiu"

Engulo em seco e tento espantar esses fantasmas que me atormentam todos os dias. Ela não vai ter esse bebê. Não enquanto eu estiver aqui.

Se eu não pude ter o meu bebê, por que ela teria?

Mamãe se levanta rapidamente para abraçá-la, gritando aos quatro ventos sobre como está feliz com a novidade. Papai faz o mesmo, desejando felicitações a Kaden e dizendo o quanto ama Isabella.

É engraçado a forma que o ódio costuma agir em um ser humano. Ela te transforma em um monstro incapaz de se olhar no espelho e se reconhecer. Eu sei muito bem disso.

Porque faz sete anos que me olho e não reconheço meu próprio reflexo.

Percebo que toco involuntariamente na minha barriga e trato de disfarçar. Ninguém nunca pode saber o que aconteceu. Busco respirar fundo para não causar nenhum dano, mesmo que isso seja quase impossível.

– Uau. – bato palmas enquanto me levanto. – Vamos ver se agora você consegue manter o bebê em seu ventre seco.

Isabella se encolhe como costuma fazer quando quer se fazer de vítima e todos na sala olham para mim em repreensão.

– O que foi? Falei alguma mentira? – questiono sincera.

– Você nunca consegue esconder sua inveja, não é? – Isabella se defende, segurando a barriga.

– Inveja de uma ratinha como você? Tenha dó, Isabella. Você é tão incompetente que sequer conseguiu dar um herdeiro ao seu marido. – retruco, limpando um fio de poeira invisível da minha jaqueta.

– Já chega! – Kaden agarra meu braço com força, sem a menor preocupação de estar ou não me machucando. – Deixe de ser uma cobra.

– Cobra? Eu? – dou risada. – Sabe, sinto saudade dessa sua brutalidade. – sussurro no seu ouvido. – Deve ter se arrependido de ter me trocado pela idiota da Isabella.

Kaden me empurra e acabo caindo no sofá, mas em nenhum minuto deixo o sorriso desaparecer do meu rosto.

– Saia da minha casa. – ele grita, totalmente alterado.

Será que minha querida irmã sabe do seu probleminha de raiva?

– Com prazer.

Pego minha bolsa e ignoro totalmente o olhar de tristeza dos meus pais. Faz anos que ficou claro a qual filha eles preferem.

– De qualquer forma, boa sorte para vocês. – pisco para Kaden e depois olho para Isabella. – Mal posso esperar para ser titia.

É tudo o que eu digo antes de ir embora.