01. Lee Minho

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Lee Minho



— A supervisão desse colégio é uma grande porcaria! É um absurdo que não tenham impedido algo desse tipo acontecer! — Minha mãe repetiu pela segunda vez, parecendo se segurar na cadeira para não ser, mais uma vez, chamada atenção pelo policial perto da porta. — Vocês não conseguem tomar conta de um estudante de dezessete anos? Me pergunto onde os inspetores estavam quando aconteceu. O que é? Agora tenho que bancar a mamãe preocupada? Como se meu filho fosse uma criança?

— Nenhum colégio têm funcionários o suficiente para dar conta de todos os alunos. — Franzi o cenho com o tom compassivo da diretora. — Quero frisar que seu filho não se queixou sobre os colegas em nenhum momento. Não estamos falando de uma criança, estamos falando de um adolescente perto de sua maior idade. — Argumentou em um tom pouco interessado, fazendo o rosto de mamãe se tornar ainda mais vermelho.

— Então está tentando dizer que a culpa é dele?  — Se levantou, fazendo o policial se aproximar, pronto para interferir caso ela tentasse algo contra a mulher do outro lado da mesa.

— Não estou dizendo que esse conflito é culpa do seu filho, estou dizendo que o colégio não  consegue ajudar quem não pede por ajuda. — A diretora intercalou o olhar entre nós dois e bateu a caneta no tampo da mesa. — Tomaremos as medidas cabíveis.

— Nenhum pedido de desculpas ou uma punição severa aos responsáveis? Acha que vou apenas concordar e pedir para que Lee Minho siga em frente? Olhe para o meu filho! — Apontou para o meu rosto e eu abaixei a cabeça, me sentindo mais do que constrangido por minha mãe estar interferindo. — O rosto dele lhe parece bem? Um olho inchado e três pontos acima da sobrancelha, lhe parece apenas uma discussão entre adolescentes? — Passou as mãos pela testa antes de respirar fundo. — A covardia que fizeram com ele não pode ser justificada pela idade.

— Seu filho revidou. — Afirmou em um tom baixo, mantendo a expressão inalterada enquanto mamãe parecia enlouquecer aos poucos. — Seu filho está com um corte acima da sobrancelha e um dos olhos inchados, mas os outros dois alunos estão com narizes quebrados, bocas cortadas e membros deslocados. Os dois. — Deu ênfase a última frase. — Está agindo como a mãe uma criança indefesa, quando na verdade, é a mãe de um adolescente totalmente capaz de se defender.

— Ele teve que se defender pois ninguém fez nada para impedir que os outros dois realizassem um ato covarde! Lee Minho é um garoto doce e estudioso e foi atacado exatamente por isso. O que queria que ele fizesse? Ficasse parado? Se deixasse apanhar? — Respirou fundo e e eu segurei sua mão, indicando a cadeira ao meu lado com os olhos.

— Lee Minho... — A diretora virou sua atenção para mim. — Já é quase um adulto, então vou me dirigir diretamente a você. Por que não informou a direção o que estava acontecendo? Contou que vem sofrendo bullying de seus colegas de classe desde o início do semestre e que as coisas saíram do controle hoje, quando tentaram lhe trancar no banheiro do primeiro andar... — Fez uma pausa e eu concordei com a cabeça. — Por que não evitou que as coisas piorassem entre vocês três?

— Sempre fui incomodado por ser o dito nerd. Não é como se as coisas fossem melhorar com uma denúncia a direção. Não sou criança e consigo lidar com as brincadeiras de mau gosto, de pessoas que não tem o mínimo de noção da realidade. Jamais achei que pioraria ao ponto de ser agredido. — Cruzei os braços acima do peito e a vi assentir devagar, não esboçando nem um sinal de empatia ou compreensão.

— Até então, estavam apenas nas ofensas e piadas, certo? Por que acha que as coisas evoluíram para uma agressão física? — Me remexi desconfortável na cadeira, mesmo que já esperasse uma pergunta como aquela.

Minha mãe se levantou mais uma vez, prestes a questioná-la, mas eu a impedi com um dos braços, levando-a se sentar novamente. 

— Porque perceberam que eu não dei a mínima. Eu não lhes dei a devida atenção, não reagi como eles gostariam. — Dei de ombros e engoli em seco, antes de completar. — E porque eles leram uma conversa em meu celular.

— Uma conversa? — Assenti duas vezes e abaixei a cabeça, sentindo a frustração tomar conta. — Que tipo de conversa?

— Que tipo de conversa? — Mamãe repetiu a pergunta da mulher, me olhando com um semblante preocupado. — Não me contou essa parte.

— Eles leram algumas das minhas conversas com o meu amigo virtual e descobriram que eu sinto atração por garotos. Eles descobriram que sou homossexual. — Pressionei meus lábios em uma linha fina quando percebi a surpresa das outras três pessoas na sala.

— É uma denúncia bem mais grave que a de bullying escolar. Estamos falando de um evidente ato homofóbico. — O policial deu um passo a frente e apoiou as mãos no encosto da minha cadeira. — Vocês podem formalizar uma denúncia.

— É o que faremos!  — A voz de mamãe saiu firme. — Entraremos com uma denúncia contra o colégio também. Sei muito bem que não existe um modo de cuidar de todos os alunos e saber de tudo que acontece entre eles, mas a forma que meu filho foi tratado, mesmo depois de sofrer a agressão... — Riu amarga e ajeitou a alça da bolsa em seu ombro. — Por favor, providencie o histórico escolar. Ele será transferido ainda essa semana.

A vi apontar para a porta com a cabeça e eu me pus a segui-la, depois de fazer uma rápida reverência ao policial.

Caminhamos em silêncio até o carro estacionado a frente do colégio. Mamãe desabou em lágrimas assim que nos sentamos.

— Por que não me disse, meu filho? Por que não disse o motivo da agressão? — Perguntou em um tom quase magoado e se inclinou para me abraçar. — Não deve apenas aceitar essas coisas, eles não têm o direito de agredir você. Não há motivo algum para eles fazerem isso com você. — Choramingou e acariciou meus cabelos.

— Está tudo bem, mamãe. Está tudo bem. — A abracei de volta, deixando que ela apoiasse a cabeça em meu ombro. — Eu não me importo com o que dizem ou o que fazem. Ser inteligente e homossexual não me torna menos que eles. 

— E porque deixou chegar a esse ponto?

— Não achei que chegaria a esse ponto. Não achei que teriam a coragem de levar tão longe. — Suspirei cansado, sentindo a lateral do meu rosto arder. — O bullying não me afetava tanto. Ser inteligente é algo que me orgulho e não consigo entender como pode ser interpretado como uma característica ruim. — Dei de ombros, assim que ela se afastou. — Mas... Confesso que... Não estava querendo expôr minha sexualidade. Não me importo com o que dizem sobre minha inteligência ou aparência mas me importo com o que dizem sobre...

— Não deve se importar. Deve pensar da mesma forma que pensa sobre todo o resto. Eles têm um problema com isso porque são infelizes e ignorantes. Os errados são eles, não você. Não é algo que pode mudar, sei bem disso. Não deixe que eles te envergonhem por ser quem é. E por favor, não aceite mais. — Fungou e passou as costas das mãos sobre as bochechas, tentando secar as lágrimas,

— Sou inteligente o bastante para saber como o ensino médio funciona. Sou inteligente o bastante para saber como as pessoas são cruéis. 

— Nem todas. Eu não sou cruel com você, sou? Você não é cruel com ninguém. — Fez um leve carinho em meus cabelos antes de puxar o cinto e dar partida no carro.

— Você é minha mãe e eu... Eu não me conheço o bastante para dizer se sou capaz ou não de ser cruel.

— A ignorância é uma benção, meu filho. As vezes, o conhecimento atrapalha.

— A ignorância pode até ser uma benção, mas a falta de senso da realidade pode ser uma maldição. — Dei de ombros e me recostei no banco, direcionando minha atenção para a janela.

...

Heey,

Um capítulo apenas para resumir a personalidade de Lee Minho e o motivo da transferência ;)

Acho que vocês vão gostar da personalidade caótica do Jisung hahah 💚

+5 comentários e eu volto? Vamos começar assim? ;)

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