Vizinho

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As pessoas de Toulouse são bem tranquilas, e em sua maioria não gostam de se meter em problemas. Eu não sou diferente delas, mas existe um problema de olhos verdes, que suspiro só de imaginar, e incontáveis corações imagináveis flutuam ao me redor. Esse par de olhos verdes tem nome e sobrenome: Tyler Sanchez.

Tyler era meu amor “platônico” desde que brincávamos juntos no quintal da minha casa. Eu tinha apenas sete anos. Nos afastamos com o tempo, e mesmo não trocando palavras ou olhares, era inevitável não pensar nele ao ganhar a maldição de ser sua vizinha. Mas como tudo, isso possui seu lado bom. Tyler toca flauta e saxofone, e confesso que devorar meus livros ao som de suas melodias é algo realmente prazeroso. Isso me faz pensar que ainda gosto dele um pouco; com destaque no “um pouco” — mas não se tornar algo para me preocupar. Para falar a verdade, acho que ele nunca simpatizou muito com minha presença, mas era divertido desejá-lo.

Nossa falta de contato está prestes a mudar. Acordei e são exatamente três e quarenta da manhã, faltam alguns dias para minha formatura, e nem comecei o meu vestido. Minha cabeça está um caos, e como sempre, minha única cura seria correr até minhas pernas não aguentarem mais. Saio às pressas e corro como se não houvesse um amanhã. Minutos se passam e sento na grama, fecho os olhos e sigo na esperança de que os primeiros raios de sol queimem qualquer coisa que a corrida deixou ficar. Mas ao invés de raios solares, ganhei uma sombra e no segundo em que abro meus olhos, reconheço rapidamente a figura à minha frente. É Tyler, ele abriu um sorriso e sentou-se ao meu lado. Surpresa com sua presença, permaneço em silêncio. Ele veio até aqui, então que fale. Na esperança de encorajá-lo, apoio meu cotovelo em meus joelhos e fico o observando. Nossos olhares se encontram. Ele está lindo, seus olhos à luz do sol eram verdadeiras esmeraldas....... Não! Foco, Andy!

Onde estão seus modos, Andy? Ouço mentalmente a voz da minha mãe me repreendendo.

Eu deveria dizer algo?

Óbvio, mas minha dignidade não me permite.

Ele pigarreia e desvia o olhar.

— Se eu não me engano, pirralha, e olhe que tenho quase certeza, você falava, não era?

— Não me chame de pirralha, Tyler Ele solta uma risada que logo é finalizada com um suspiro.

— Tem coisas que realmente nunca mudam, não é mesmo Andy?

Ele permanece com um sorriso de canto enquanto me olha.

— Olha, Tyler, por que isso agora?

— Isso...... isso o quê exatamente?

— Você sabe. Por que está aqui?

— Porque me deu vontade de estar aqui, e não vejo placas sinalizando que não posso estar aqui.

— Realmente, Tyler, tem certas coisas que não mudam, e essa sua mania de achar que o mundo gira em torno de suas vontades é uma dessas coisas.

Tyler logo levanta e começa a dar passos curtos.

Merda, Andy! Por que foi tão grossa?

— Espera, me desculpe por isso, não queria ter agido dessa forma.

— Relaxa, pirralha, te conheço a ponto de saber que isso foi um “bem-vindo de volta”

Ele dá um sorriso

— Pois é — ouso murmurar, mesmo envergonhada — preciso ir.

— É, eu também.

Seguimos juntos o trajeto de volta para casa. Não falamos nada durante o trajeto todo, e acho que foi melhor assim, afinal de contas, se reconciliar com uma pessoa requer tempo, e no nosso caso........muito tempo.
Tyler foi o dono do meu primeiro beijo. Eu era uma garota de dez anos, e não se beija uma garota com essa idade sem a deixar completamente afogada em ilusões. Quando fiz quinze anos, estava decidida a me declarar para ele, nunca fui boa com palavras, então lhe dei uma Carta. Tyler não era de fazer cerimônias. Mas não recebi uma resposta, e eu não estava disposta a lutar por um amor se ele não fosse me encontrar no meio do caminho.
Fico olhando Tyler entrar em sua casa. Não sei se estou olhando para ele por achá-lo um idiota ou porque os sentimentos que já existiram continuam aqui. De qualquer forma, vou para dentro de casa. Passo um tempo imaginando onde essa história pode chegar, mas logo resolvo tomar um banho e vestir uma roupa. Saio do banheiro enquanto seco meu cabelo com uma toalha, e vejo uma nova mensagem no meu celular.

   Número desconhecido

Tenha um bom dia, pirralha.

Ass.

Tyler

Me pego rindo para a mensagem. Como ele tem meu número? Pelo visto as coisas com Tyler nem começaram, mas estão longe de acabar.

— Pera, como é?

Jessie minha melhor amiga, quase derruba seu celular em espanto.

— Isso mesmo, exatamente o que ouviu –Suspiro e sigo mexendo no celular.

Jessie abre um sorriso como nunca vi antes. Seus longos cabelos completam perfeitamente seu rosto, fazendo-a parecer uma pintura, que inveja! Das boas, claro.
Jessie faz parte da minha vida desde o fundamental, lembro perfeitamente de ter chorado de rir da sua calça legging da peppa pig no primeiro dia de aula, algo histórico que me recuso esquecer. De alguma forma começamos a nos falar e não nos largamos mais.

— Mas você não parece animada com essa história. É o Tyler lembra? O cara pelo qual você era apaixonada.

— Eu já te disse, eu sei que é o Tyler, mas não sei até onde ele vai.

— Mas pensa comigo........pelo menos ele voltou.

— Até quando? Esse é o problema.

Jessie recebe uma mensagem em seu celular, é seu namorado. Hoje tem a final do campeonato de jiu-jitsu e ele a convidou para ir assisti-lo, e com toda certeza ela vai me arrastar junto mais uma vez. Não é como se eu tivesse planejado alguma coisa para essa noite, por isso aqui estou me arrumando para ver um campeonato de jiu-jitsu, e sim, isso mesmo, não sei absolutamente nada a respeito.
Já se passaram horas e eu continuo sem entender nada. Aviso a jessie que irei ao banheiro. Passo por várias portas até que avisto a placa; banheiro feminino, mas outra coisa chama minha atenção, o provador masculino. Para minha surpresa, Tyler estava lá. Não devo ser julgada, a porta estava aberta. E ver Tyler envolto em uma toalha é o espetáculo que todos deveriam ver ao menos uma vez na vida. Logo Tyler nota minha presença, e eu não penso duas vezes antes de sair às pressas de lá.
São 00:30 quando chego em casa, finalmente aquela tortura havia acabado. Meu celular vibra em meu bolso. Todos que conheço estão com certeza dormindo. Quem me mandaria mensagem a essa hora?

    Tyler ♡.

Gostou do que viu?

       
        Não me lembro de ter visto nada.

Hm..... deveria começar a usar óculos.

                   
                    E você a fechar as portas.

Um tempo se passa e imagino que ele não irá dizer mais nada. Resolvo ir comer alguma coisa. Quando volto, vejo uma nova mensagem no meu celular.

    Tyler ♡.

Por que não vem terminar de conferir o que viu mais cedo?

A mensagem é de quinze minutos atrás. Isso me pegou de surpresa. Tyler está me convidando para ir até ele? Mais que diabos está acontecendo aqui?
  
   Tyler ♡.

É divertido te assustar. Boa noite, pirralha.

Ele estava mesmo brincando?! Claro que estava, é o Tyler...... não é como se ele realmente achasse que eu fosse atravessar a rua para vê-lo. Mas em toda essa história, o que me surpreende é eu não ter pensando em sair correndo atrás dele. Pelo visto, ainda tenho um pouco de vergonha na cara.

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