Pac engoliu em seco, nervoso, ansioso, com medo. Sentado naquela mesa azul clara redonda com duas cadeiras da mesma cor, em sua casa ou cubo de metal que chamava de lar, com sua mãe, Charlotte.
Tinha passado os últimos dois dias enfurnado na biblioteca do refúgio, engolindo e consumindo qualquer informação sobre a superfície que tinha por ali. Aquelas paredes de metal pareciam tão chatas e robóticas, ele precisava de novas cores, cores que fizessem sentido ao clima natural ou o que tivesse sobrado de um clima natural.
Não era segredo o estado devastado que a superfície se encontrava, ele sabia sobre as criaturas perigosas que vivem lá em cima, sabia que também havia sobreviventes vivendo na superfície. Porém, ele queria ir ver com seus próprios olhos, ele precisava ver o mundo.
O erro dele, no entanto, foi pedir permissão para tal ação.
Era estritamente proibido sair do refúgio.
– Esses livros encheram sua cabeça com uma magia inexistente, eu acho melhor deixar isso para lá, mochinho. – A mulher disse impaciente, guardando alguns potes no armário.
Charlotte cuidava da estufa de alface, a plantação principal do refúgio 28. Viviam de forma simples, afinal não tinha muito o que fazer naquele enorme bunker.
Pac, no entanto, não tinha de fato uma obrigação ainda, e além das atividades esportivas como ginástica e tiro ao alvo, não havia muito o que fazer a não ser explorar a vasta biblioteca que quase ninguém usava.
– Não encheram porque eu sei que magias são derivadas de contos de fada, fantasias e ficção científica que existiram em filmes, séries e livros a muitos anos atrás, na vida real isso teoricamente não existe. – Rebateu passando uma mão por seus olhos, estava tarde, já era quase hora de descansar. Sua mãe lhe lançou um olhar repreensivo.
– Não insista, você não vai sair. E eu espero que essa conversa e sua atitude fiquem dentro desse quarto. – Ordenou fechando as portas dos armários após terminar o que fazia. O homem uniu as sobrancelhas frustrado.
– Mas mãe, os livros me disseram que as cidades lá fora foram devastadas, não há nada além de pessoas mortas e sobreviventes radioativamente modificados. – Ele parou de tentar quando recebeu mais um olhar repreensivo.
Pac se levantou, ainda olhando para a mais velha, respirou fundo.
– Boa noite, mãe. – Desejou antes de seguir seu caminho para fora da casa de sua mãe, entrando na da frente, a sua própria.
Não ouviu resposta, nem soube se houve alguma. Pac trancou seu espaço e se jogou no sofá cama.
Por um lado, ele sabia que a mãe estava certa, até mesmo nos livros com apenas desenhos como imagens, parecia que a superfície era assustadora. Mas o tanto que tinha de assombroso, tinha de curioso.
O moreno não percebeu que tirou um cochilo. Quando acordou, o relógio marcava uma hora e meia depois da hora que havia ido dormir. Ainda era de madrugada. Em seus sonhos, a superfície parecia uma terra ótima para se aventurar, seu corpo se arrepiou.
Ele precisava ir lá fora.
Sua mochila não carregava tanta coisa, havia comida, água, um casaco, medicamentos para enjoou, febre e dor de cabeça. Ainda faltava um stimpak e uma arma tranquilizadora, que ele iria pegar na área de equipamento.
Seu espaço foi aberto, ele saiu com a mochila em suas costas, seguindo em passos apressados para onde precisava ir.
Se alguém lhe visse, certamente chamariam a supervisora que certamente não permitiria sua saída e então ele receberia uma punição, odiava lavar todos os banheiros dos mais de cem dormitórios, então era melhor ele não ser pego.
Virando um corredor, se assustou com uma pessoa passando ao fundo, o fazendo dar alguns passos de volta se escondendo numa pilastra. Por que tinha alguém acordado naquele horário?
Verificou se já estava sozinho, confirmando, seguiu seu caminho. O caminho da pessoa era oposto do seu, mas era o caminho para a área do portão de saída do refúgio.
Não tinha tempo pra isso.
A área de equipamento era como um espaço, ou dormitório, porém não havia porta ou móveis, eram apenas estantes repletas de armas, munição e seringas de cura. Não era difícil acesso, nada era de difícil acesso naquele refúgio, o poder de ir e vir em qualquer lugar era livre para todos.
A arma tranquilizadora foi posta num coldre amarrado em sua coxa, a caixa com dois stimpak foi guardada num dos bolsos da mochila. Com tudo pronto, ele só precisava continuar se esgueirando até a saída.
Porém, algo deu errado. O alarme geral começou a soar alto, as luzes mudaram para vermelhas e começaram a piscar.
– Merda. – Murmurou saindo correndo dentre os corredores para a área do portão.
Ele não queria saber o que tinha acionado o alarme geral, era uma distração para os de mais, era sua chance de sair sem ser impedido.
A porta do elevador se abriu, respirou fundo antes de entrar e apertar o botão mais alto.
– Pac. – Ouviu ser chamado, dentre a porta de ferro que se fechava, viu sua mãe lhe olhando apreensiva, um pouco decepcionada.
Pac encarou seu reflexo no metal gelado da porta fechada, continuava o mesmo. Não era um olhar decepcionado e palavras com autoridade que lhe parariam.
Apesar do coração apertado, sentia seu corpo tremer em ansiedade. Estava próximo de saber como era a superfície de verdade.
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Hideout Boy. - Hideduo.
FanfictionEra estritamente proibido sair do refúgio. Pac encarou seu reflexo no metal, continuava o mesmo. Não era um olhar decepcionado ou palavras com autoridade que lhe parariam. Ou... Fit desceu os olhos, reparando na vestimenta do homem a sua frente, aqu...