02. A Desconfiança.

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Seu capuz foi posto para baixo, a brisa fria da noite arrepia a pele recém exposta. Sentia seus pés formigarem precisando de um bom descanso, havia andado bastante até então, e ainda teria mais um bocado de chão para caminhar.

Às vezes pegava se questionando porque continuava fazendo aquilo, indo atrás de recompensas, era cansativo e ele não precisava de tantas tampas assim, também não tinha do que cuidar, não tinha pelo que viver, então pra que sair do conforto de seu esconderijo e andar por vários dias até a Cidade Comercial?

Poderia culpar a necessidade de comida e água, mas isso poderia ser facilmente resolvido com uma viagem unica a cada duas semanas pagando pelo tanto necessário de suprimentos.

Então não era por sobrevivência, talvez fosse para se distrair do nada que tinha no mundo atualmente.

Se lembrava de ter escrito algo similar em muitas folhas velhas, e que naquela altura já haviam sido desgastadas o suficiente para se tornarem difícil de ler.

Respirou fundo, finalmente parando em frente a uma casa.

A casa não era a mais convidativa que poderia existir após uma explosão nuclear, mas estava de pé e para Fit aquilo era suficiente para ter uma excelente noite de sono.

Seu manto escuro foi retirado de seus ombros e pousado no chão de madeira velha. Escolheu um lugar que não tivesse tanta areia para se sentar e se apoiar na parede, pronto para dormir por no máximo uma hora e meia, não queria perder tanto tempo.

Ele precisava chegar à Cidade Comercial antes do anoitecer do próximo dia e isso lhe dava aproximadamente um dia de caminhada. Se não fosse pelos atrasos, também conhecidos como criaturas grotescas, que encontrou pelo caminho, certamente estaria na metade de sua viagem.

O careca respirou fundo, cruzando os braços e as pernas para enfim poder fechar os olhos. Porém a brisa ressou novamente, trazendo pelas janelas vazias um cheiro desagradável e familiar.

Fit pegou seu manto, mas não o pôs sob o corpo, manteve-o firme em mãos. Se levantou de onde estava, pressionou-se contra a parede próxima a porta de entrada, e em silêncio esperou que o necrótico que estava por ali cruzasse seu caminho.

O resmungar gosmento alcançou os ouvidos do mercenário que assim que viu os primeiros pedaços adentrarem pela porta, enrolou seu manto envolta do pescoço da criatura. Segurando os dois lados do tecido com uma mão, a mão livre pegou uma faca média do coldre e enfiou na cabeça do necrótico que se silenciou, Fit deixou que caísse ao chão.

A faca foi limpa em sua calça surrada e guardada de volta no lugar. O manto não havia sido sujado, após algumas batidas no ar, o pano voltou para cima dos ombros do careca, que por fim pegou seu rumo para fora da casa saindo por uma das janelas vazias.

– Não se pode ter noites tranquilas na superfície. – Resmungou colocando o capuz do manto.

Fit olhou ao redor, procurando se localizar melhor para saber onde ele poderia tentar descansar e que não fosse na presença de um necrótico apodrecido.

Seus olhos bateram onde uma luz amarelada saía dentre algumas árvores ao longe, não saberia dizer se era outro necrótico, um mais inteligente, ou se era um sobrevivente burro o suficiente para não saber que a noite criaturas são atraidas pela luz.

Talvez um conselho e uma visita fossem bons para quem quer que fosse. Com sorte ainda conseguiria alguns recursos de graça. Precisava achar papel e caneta, ainda não tinha feito anotações desde que chegou na área desértica, mas isso não era prioridade de qualquer forma.

Fit se aproximou em passos lentos, a mão preparada para puxar a arma que descansava em um segundo coldre.

A luz amarelada foi identificada como uma fogueira, bem estruturada no chão, acima de galhos secos e um pouco de folhas também secas, o barulho do estalar das chamas era satisfatório, certamente ficaria ligada por um bom tempo, poderia arriscar dizer que era uma fogueira profissional. Porém, Fit não ligava para nenhuma dessas observações inúteis, o fogo se apagaria da mesma maneira que um feito por um bebê de dois anos de idade.

Hideout Boy. - Hideduo.Onde histórias criam vida. Descubra agora