Então eu cresci brincando nas festas da família dos patrões, que eles sempre nos levavam as vezes pra minha mãe ajudar na festa ou as vezes porque os donos da festa pediam pra que nós levassem.
Pra minha sorte, as crianças amavam brincar comigo e eu não deitava pra ninguém! Ou a brincadeira era louca do meu jeito ou eu não brincava.E eu cresci assim, no meio deles, aprendendo a falar como eles e sempre sabendo que eu não era como eles e isso nunca me incomodou de jeito algum. Pelo contrário.
Quando lembro da minha infância eu fico feliz por saber que eu nunca deixei me afetar por não ter o que aquelas crianças tinham ou por fantasiar na minha mente que eu era aquilo e encher meu coração de arrogância.
Cresci brincando com filho de juízes, advogados, médicos, engenheiros e por aí a diante. Eu adora brincar com eles e eles amavam brincar comigo. Até aquele aniversário.
Aconteceu de a patroa da minha mãe me levar pra um aniversário que minha mãe não foi, não me recordo o motivo, mas fui sem minha mãe ir. E era na casa de uma irmã da patroa da minha mãe, na mãe de um dos meus melhores amigos da época de infância. E ela eu estava brincando com ele e com as filhas de um médico até a Francisca chamada de quinquinha chegar aonde estávamos e mandar todo mundo ir se servir que o jantar já estava sendo servido, eu lembro que todo mundo correu pra entrar e quando eu fui entrar ela me puxou pelo braço e disse : " se comporte! Pare de ficar brincando e fazendo barulho você não é que nem eles você so é a filha de uma empregada e você vai ficar aqui nesse quintal sujo com as vassouras pra entender o seu lugar."
Eu lembro da sensação, parecia que eu tinha esquecido até como se enxergava. E ela me deixou trancada no quintal até que a dona nereide, uma senhora extremamente carinhosa me achou e me levou pra garagem onde tava tendo a festa e perguntou o que tinha acontecido e eu contei. Mas nunca imaginei que o mundo ia cair sobre minha cabeça se eu contasse. Ela tirou satisfações com a Francisca que negou tudo, óbvio. E eu passei o resto da festa queta e sem conseguir comer porque eu estava segurando o choro. Eu só queria minha mãe, eu só queria saber voltar pra onde minha mãe estava. Eu lembro que as crianças me chamaram pra brincar novamente mas eu só balançava a cabeça dizendo que não ia mais. E passei a noite toda segurando a bolsa da patroa da minha mãe. Afinal, seria por esse motivo que ela me levou? .
Até que finalmente chegou a hora de ir embora.
E quando chegamos na rua da casa eles pararam o carro e a patroa da minha mãe disse: " não conte nada do que aconteceu pra Célia ( minha mãe ) se não teremos que dispensa-la e aí você vai fazer sua mãe passar fome. É isso que você quer?"
Balancei a cabeça negando. Eu nunca que iria querer colocar ela em qualquer situação ruim.Quando entramos eu corri pra abraçar minha mãe e chorei. Ela perguntou o que aconteceu e a patroa já respondeu dizendo que cedo eu aperreei pra ir embora porque queria ela. Realmente tudo que eu mais quis foi nunca ter entrado no carro e ido com eles pra qualquer lugar, mas eu sequer emiti um som. Eu só confirmei e fomos pro nosso quartinho.
Depois desse dia eu entendi de forma clara que aquele lugar jamais seria pra mim e minha mãe crescer e viver, era uma prisão.
YOU ARE READING
Diário de Ariany
Teen FictionEu tenho uma mente muito barulhenta, tem coisas que eu penso e sei que não deveriam ficar só na minha mente porque poderia ajudar alguém e outras eu quero escrever talvez pra lembrar.