Um mês se passou, mas não fiz tanto progresso com Anastasia, não o tanto que eu desejava. Usei visões, todas as ferramentas que eu tinha em mãos, feitiços e encantamentos, mas nada melhorava a saúde de Ana.
Ela fazia, sim, progressos. Eu lhe dava sempre poções de curas, chá e sopas, encantamentos em seu corpo e quarto, o que a fazia melhorar esporadicamente, voltando de novo ao seu estado, só que ainda pior.
O Tsar continuava sendo um enigma para mim. Minha clarividência não conseguia lê-lo. Misterioso como o oculto, mas que diferente dele, eu conseguia dominar muito bem.
Nossos encontros eram ocasionais, ocorrendo majoritariamente nos jantares. Certa vez, estávamos num banquete com outros lordes e membros da realeza. O assunto era sobre adivinhação — algo que eu conhecia muito bem, apesar de não ser minha especialização — e os lordes começaram a discutir sobre, se era certo ou não.
"Mas está no manual da caça às bruxas que elas dominam essa arte maligna!", disse o comandante Ivan.
"Oras, mas está no texto sagrado de que o espírito santo pode te agraciar com certos dons!", contestou seu amigo, Peter.
"Estás falando heresias, Peter! Que Deus tenha piedade de sua mente profana", Ivan argumentou.
"Por que não perguntamos a quem tem experiência no assunto?", o Tsar interrompeu, causando silêncio na mesa. Naruto direciona o olhar para mim e pergunta: "Hinata é uma curandeira, ela entende bastante sobre o corpo humano, suponho que saiba sobre a mente também. Por que não nos conta um pouco sobre?"
Uma gota pequena de suor cai por minha testa. Ele está me testando.
Coço a garganta e me recomponho.
"Não há estudos que comprovaram que tais atos sejam possíveis, na verdade, creio que adivinhações não passam de truques."
"Truques?", questiona ele, levantando uma sobrancelha.
"Sim, truques."
"Prove-me."
Solto um suspiro. Todos me encaram curiosos, sinto que vou ceder à pressão.
"Por exemplo, o comandante Ivan está tentando a qualquer custo passar a imagem de ser alguém extremamente religioso, o que me diz que, na verdade, ele não é. Nikolai não para de se remexer na cadeira, mostrando-me que está desconfortável com o jantar ou sua presença. Serguei alisa seu bigode a cada minuto, sem dizer suas roupas da mais fina costura, ou seja, ele é extremamente vaidoso, querendo passar a imagem de ser muito rico, o que sabemos que é mentira. Então, moy Tsar, acha que eu tenho um dom?"
Naruto permanece calado. Os demais na mesa estão perplexos, surpresos com minhas falas, afinal, ninguém espera ser humilhado na frente do Tsar e da Tsarina da Rússia, e ainda mais de toda sua corte.
Vejo-o morder a bochecha e sorrir.
"Não sei, Shcherbakova, talvez você seja inteligente e conheça sobre o comportamento humano, ou talvez realmente tenha um dom. Disso, só Deus poderá responder."
Meu coração pula em meu peito. Ele sabe que não sou um ser sobrenatural. Ao menos, é no que eu quero acreditar, mas as evidências me dizem outra coisa.
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Três meses se passaram ao todo. Anastasia estava morrendo e cada dia que passa, sinto seu coração falhar, assim como eu estou falhando também.
O Tsar me procura cada vez mais, interessado em meus conhecimentos. Estou ganhando sua confiança e ele acredita que eu seja uma espécie de santa. Troco olhares com ele na igreja, nos jantares e passeios reais.
Não sei explicar a razão, mas cada vez que o vejo, sinto meu coração arder.
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O inverno estava chegando e com ele vinha a morte. A morte da natureza, de animais, de pessoas sedentas por alimento, e a morte assolaria o Kremlin também. Em exata uma semana antes da chegada do inverno, um pássaro morto apareceu em minha janela, que era sinal de mau agouro. Eu já sabia do fim, mas não sei como o prepararia para Naruto, para os filhos que tiveram e para toda a Rússia.
A doença de Anastasia havia chegado em um nível irreversível. Assim que o manto branco do inverno pousou sobre nossa nação, eu e Naruto descobrimos quem estava envenenando Ana: sua mais fiel dama de companhia, Zoya. Como punição ela foi decapitada na praça central de Moscou. Zoya se recusou a me contar do que era fabricado o veneno, e o resto ela havia bebido, causando danos severos em seu estômago. Há anos atrás, Zoya se converteu para a resistência do monarca atual, e desde então, ela vem envenenando a mãe Rússia.
Naquela tarde, o destino de Anastasia e da Rússia foi travado, como um prego martelado na madeira, não havia reversão. Não haveria piedade também, nem sobre mim, e nem sobre o Kremlin.
Estava bem frio quando minha querida Anastasia me chamou ao seu quarto. Ela estava enrolada sob mantas quentinhas e sob pele de cordeiro. Estava fraca, extremamente fraca, e o frio lhe açoitava violentamente. Funguei o nariz e peguei suas mãos delicadas, envolvendo-as com as minhas, numa tentativa de transmitir calor.
"Mandou me chamar, Ana?"
"Sim, Hinata", confirmou tossindo. "Preciso lhe dizer algo."
"Pode me dizer."
Em momentos como esse, por ela, tento me manter o mais firme possível.
"Quero lhe agradecer por ter cuidado de mim durante todo esse tempo. Por ter achado minha assassina, e por ter cuidado de nós, de minha família."
"Não precisa me agradecer, Ana! Eu faria isso mil vezes se fosse necessário. E não diga como se já estivesse morta."
"Hinata, sejamos francas." Ela sorriu fraco. "Todos nós sabemos que não irei durar muito. A morte já está batendo em minha porta."
"Mas Ana, eu posso tentar mais..." Tento lhe convencer e aperto ainda mais forte sua mão, mas ela me interrompe.
"Sh... Está tudo bem, Hina. Sua missão já foi cumprida. Agora quero que me faça mais um favor."
"Farei tudo que me pedir", respondo, tentando segurar as lágrimas.
"Quero que cuide de meus filhos. Guie-os, leve-os para um bom caminho, ensine sobre a vida, a natureza, por favor, só confio em você para cuidar e educar eles. Também peço que cuide de Naruto... ele já perdeu pessoas demais em sua vida, não quero que mais uma partida assole-o. Por favor, Hinata, prometa que ficará por perto e que o ajudará a lidar com o luto."
"Prometo, Ana, eu prometo!", digo entre lágrimas, estas que faziam meus olhos arderem.
"Perfeito... Fico feliz que esteja aqui, minha primeira e única amiga! Amo lhe mais que tudo, moy dorogaya."
"Eu também te amo, moy Tsarina."
Anastasia fecha os olhos e diz: "Agora posso ter uma boa noite de sono. Nos vemos amanhã?"
"Sim." Fungo o nariz. "Até amanhã."
Me retiro de seus aposentos e vou até meu quarto. Meu coração estava rachado, partido ao meio. Anastasia também tinha sido minha primeira e única amiga, e eu não estava preparada para sua ida.
Adormeci em meio às lágrimas, e ao acordar, recebi uma agradável notícia: a Tsarina estava morta.
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A Bruxa e o Tsar - 𝐧𝐚𝐫𝐮𝐡𝐢𝐧𝐚
FanfictionHinata Hyuuga Shcherbakova era uma bruxa que morava na floresta escura da Rússia. Era conhecida por ser uma ótima curandeira e por suas habilidades de clarividência, até que um dia, Anastasia Romanovna, Tsarina e esposa do Tsar, Naruto Uzumaki Vasil...