Um Pedido Diferenciado

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Kunikuzushi estava pronto para rosnar furioso, com intuído de amedrontar seu colega de trabalho, que já juntava as mãos e rezava pela própria vida antes mesmo de acontecer algo.

Seus ouvidos caprichavam em prestar atenção caso qualquer palavra desnecessária saísse da boca presunçosa de Aether, procurando qualquer motivo para estraçalhar ainda mais o convívio desconfortante entre eles.

— Insuportável, extrovertido idiota, como ousa chegar mais cedo do que eu — cuspiu para o vento enquanto arrumava a loja, junto da pessoa que não cansava de insultar.

Ele odiava a forma como esse loiro metido a merda o fazia sentir, simplesmente distante da lei natural de bem estar entre relacionamentos humanos. O maldito tinha sempre a porra de um sorriso no rosto, chegava cedo e cumprimentava todo mundo, cantarolava o tempo inteiro como se fosse a disgraça de um passarinho, além de deixar infinitas mulheres com tesão agudo sempre que entregava um simples café.

Não, Kunikuzushi não só detestava Aether como também sonhava em pular na garganta e tirar o máximo da voz dele, quem sabe assim o pedaço de bosta amarela deixasse seu papel de obstáculo de uma vez por todas.

Afinal, quem nunca teve um rival, talvez nunca entenderia quão desconcertado Scaramouche — como Kunikuzushi gostava de ser chamado — ficava, assim que a campainha da loja tocava para indicar um certo cliente todos os dias.

Scaramouche congela, observando aquele jovem rapaz que costuma aparecer diariamente na cafeteria antes de vagar para o trabalho. Nem havia conferido as horas, ficando surpreso em ver o sorriso dos seus sonhos raiar tão cedo quanto o sol naquela manhã preguiçosa.

O de cabelos índigo falhou em acalmar seu coração, ficando indignado por sua carranca habitual já ter partido pelo simples sorriso bobo que enfeitava seus lábios. Queria afastar aquilo, aquelas sensações toscas que formigam sua barriga, as mãos suadas pela ansiedade, a dor que martelava seu peito por qualquer ação insignificante que Kaedehara Kazuha ousava transmitir.

Mas era impossível, quando aquele pedaço de bom caminho invadia seu local de trabalho e andava igual celebridade, só pra pedir a merda de um café americano.

E lá estava ele, arrastando os pés até o balcão enquanto Scaramouche verificava seu cabelo no reflexo do pote de gorjeta. Apaixonado demais para reparar que estava louco para atender, se vendo na esperança que aqueles olhos vermelhos como o pôr do sol lhe vissem primeiro, que falasse consigo, que ouvissem o que tinha a dizer, que simplesmente-

— Bom dia, Aether!

— Oh, olha só quem chegou cedo hoje. Acordou com o pé direito?

Kazuha sorriu para o barista loiro de olhos âmbar, assim como fazia todos os dias. Scaramouche congela, vendo a forma como o platinado jogava sua mecha vermelha para trás da orelha e cumprimentava o outro, ele ouviu um pequeno bom dia direcionado para sua pessoa, mas só durou milissegundos e os dois passaram a conversar como bons amigos.

Não podia gritar, chorar, muito menos jogar a cafeteira elétrica na cabeça do seu rival. Péssimo dia para ser ciumento de algo que nem ao menos é de seu pertence, Scaramouche se sentia um tolo com seu batimento cardíaco acelerado por assistir dois pombinhos, que nem ao menos tinham um caso e mesmo assim o pobre coitado imaginava uma fanfic entre eles.

Mas a culpa era dele? Claro que era, mas isso não mudava o fato que os dois seres conversando pareciam sempre próximos um do outro, íntimos ao ponto de entenderem perfeitamente o que queriam dizer, bonitos demais para ficarem solteiros, hobbies parecidos como se fossem almas gêmeas? Não, Scaramouche não se enganava com essa história de opostos se atraem, era ridículo em sua cabeça já que casais desse tipo sempre acabam em divórcio, ou nem ao menos chegam a casar. E era exatamente o que acontecia na mente de Kunikuzushi, sempre que ousava imaginar uma vida com Kazuha.

Teu Gosto Amargo - {Kazuscara; KazuhaxScaramouche}Onde histórias criam vida. Descubra agora