Capítulo um

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Meus sapatos molhados pela chuva, cada passo era frio e líquido, sentia meus pés afundarem nas ruas de Nova York, movimentadas com um vento leve espreitando no ar, o calor humano das pessoas passando por todos os lados, encostando em todos e sentindo a respiração acelerada deles, rápida,
como aquela cidade. Por essas ruas, aqui estou eu.
Chegando na cafeteria o ambiente instantaneamente mudou, o clima calmo e aconchegante que eu sentia tanta falta, olhando ao redor vendo cafés sendo servidos, mesas cheias de famílias e amigos, pessoas trabalhando focadas, eu sempre adorei isso tudo.
Me sentando em uma das cadeiras altas feitas de madeira escura, fico no balcão esperando para ser atendida até ver um rosto familiar.

- Sarah! quanto tempo né? - Jake pergunta limpando as xícaras de café atrás do balcão

- Olá Jack, sentiu muito minha falta? - digo sendo sarcástica

Jake Tholmes, meu melhor amigo.
Uma das pessoas que sempre esteve comigo quando precisei em Nova York, encontrei ele em York's enquanto comemorava minha chegada, bar famoso por aqui, acho que o destino traçou que ele me encontrasse bêbada e derrubasse bebida nele.

- Puff! Você acha que uma chata que nem você faz falta? Porque você saiu da cidade justamente quando as coisas estavam começando a ficar boas. - Jake prepara o café conversando comigo, o aroma maravilhoso estava me deixando louca.

- Jack, você sabe o motivo de eu ter saído daqui...
acha mesmo que eu queria realmente sair de Nova York? Eu adoro esse lugar, e tem você aqui para me apoiar, seu idiota. - me envergonho um pouco dizendo estas palavras para ele, não sou boa em demonstrar sentimentos abertamente.

Esperando ansiosamente pelo meu café quentinho que Jack estava preparando. Ele chega com o café, põe sobre a mesa e eu assopro a fumaça, tomo um gole, sentindo meu estômago esquentar lentamente, após beber um pouco, respiro profundamente aproveitando aquele doce momento.

- Sarah, você não presta, só você me chama de Jack.
Eu entendo os seus motivos, eu sinto muito pelo aconteceu, você não merecia, ninguém merece passar por isso... - Jake se desanima um pouco dizendo isso, eu sinto um nó se formar na minha garganta e meus olhos se enchem de lágrimas.

- Jack, eu não quero falar sobre isso, desculpa. - viro meu rosto para ele não ver meus olhos vermelhos por conta das lágrimas que querem descer.

- Olha, tá tudo bem. Você sabe que eu estou aqui, certo? - Jake toca nos meus dedos gentilmente como um gesto de preocupação - Eu tenho que voltar para o trabalho, aproveite seu café, qualquer coisa me ligue - ele coloca meu cabelo para atrás da minha orelha e segue para o caixa anotando os pedidos dos outros clientes.

Eu termino de beber o meu café e deixo um recadinho perto do copo para o Jake.
Novamente, pelas ruas da cidade, e para minha sorte, a estação de metrô fica perto da cafeteria, quando me deparo, eu já estou na frente dos trilhos aonde o metrô passa todos os dias, escuto um barulho vindo daquele vazio, o vento lento que pairava no ar muda repentinamente, quando abro meus olhos só vejo o metrô passando rápido com suas luzes abafadas dentro dele, eu sinto aquela brisa passando pelos fios do meu cabelo. Era aqui mesmo que eu deveria estar? Neste exato momento? Eu sinto tanto a sua falta.
Logo, o metrô que sempre pego para o centro da cidade chega nos trilhos, aquela confusão de pessoas saindo e entrando é enjoativo, em pouco tempo consigo respirar de novo, entro no metrô e me aconchego em seus assentos duros, gelados e plastificados. Não era muito confortável mas já estava acostumada com essa sensação, coloco meus fones de ouvido e minha cantora favorita, é a única coisa que me faz sorrir desde um tempo, porque me lembra você, como você estivesse aqui do meu lado, desejo tanto o dia que te verei, eu deveria fazer esse dia chegar logo porém, eu não posso deixar tudo para atrás, você não gostaria disso.
Observo o prédio do meu apartamento, passou bastante tempo mas não mudou nadinha, ando alguns passos até a porta, abro com minhas chaves que tem um pequeno detalhe de uma nota musical, uma pessoa especial me fez comprar isso.
Apesar de tudo sentia um conforto de estar em "casa", subo as escadas segurando o corrimão de madeira meio desgastada, chego no meu andar e bato na porta ao lado do meu apartamento.

- Só um minuto! - escuto a voz distante da porta.

Coloco as mãos nos bolsos enquanto aguardo, assobio a única música que me ensinaram quando você ainda estava aqui.
A porta faz barulhos de chaves e trancas abrindo rapidamente. Quando ela se abre, vejo minha vizinha, Casey.

- Olá! Sarah! Ah quanto tempo que eu não te vejo! - Casey parece empolgada enquanto fala e obviamente tinha acabado de sair do banho com seu corpo meio úmido.

- Oi Casey, sim. Faz um tempo né? - Solto uma risada nem um pouco sincera.

- Como foi a viagem? Eu soube, eu sinto muito, meus pêsames. - Casey diz aquilo como estivesse com dó de mim.

Porque todos só falam sobre isso? que droga.

- Não precisa disso tudo, tá tudo bem e foi tranquila, obrigada por perguntar - após essa fala ficou um silêncio constrangedor entre nós - Enfim, onde está a Millie? - questiono preocupada com minha gata, Millie.

- Eu vou buscá-la, você pode entrar se quiser querida - ela me convida para entrar e vai até outros cômodos do apartamento procurando por Millie - Com licença.

O apartamento de Casey não é muito diferente do meu, paredes de tijolos em tons acizentados, com muito espaço e bem mobiliada. Sinto um pouco de cheiro de cigarro ao entrar, esse cheiro me incomoda mas é suportável, a casa dela tem discos de vinil de bandas famosas, por incrível que pareça ela tem um bom gosto, Casey me ajudou com Millie porque precisava que alguém ficasse com ela enquanto eu viajava, Jake estava fora de cogitação por causa de sua alergia a gatos, eu tenho um pouco de confiança nela mas não conheço ela super bem, ela parece ser uma pessoa gentil, pelo menos comigo.

- Aqui está a felpudinha mais fofa! - vejo Casey com minha adorável gatinha em suas mãos.

- Millie! - quando ela me vê sinto seus olhos brilharem, pego ela no colo e ela ronrona em mim - Que saudade eu estava de você meu amor - dou beijinhos em Millie que parece feliz com o carinho, balançando o seu rabinho agitado.

- Ela comeu direitinho e se comportou muito bem, dei 1 banho na semana como você pediu, escovei os dentinhos dela e cortei as unhas - Casey fala como estivesse fazendo uma lista em sua cabeça de coisas que precisava para cuidar de Millie corretamente.

- Oh Casey, não precisava disso tudo, muito obrigada por fazer esse favor para mim, prometo que um dia irei te recompensar - achei muito fofo o carinho de Casey com ela, sinto que isso fez eu gostar mais dela, que bom que posso contar com alguém caso precise.

- Ah! não foi nada Sarah, sei que não somos muito próximas mas eu sei o que é passar por um momento difícil e perder alguém especial... - ela olhou nos meus olhos e respirou fundo - Enfim, vou me lembrar dessa promessa - Casey sorriu para mim - agora, eu preciso voltar ao trabalho mas apareça por aqui um dia ou quando precisar!

- Claro! Desculpa o incômodo - digo sentindo culpa por dar todo esse trabalho para ela

- Não se preocupe, relaxa - ela fala me levando até a porta - tchauzinho Millie e Sarah! - ela ri e faz um carinho na nuca de Millie.

- Tchau - ela fecha a porta e eu olho para Millie que parece mais fofa desde da minha saída de Nova York. - Acho que agora é irmos para casa - eu ando até a porta e pego minhas chaves, a porta está aberta novamente depois de tanto tempo pegando poeira.
Coloco Millie no chão que sai correndo, provavelmente está com saudades de casa também, fecho a porta e vejo minhas malas com um bilhete dos meus pais.

"Por favor se cuide filha, não faça besteiras, estamos esperando a sua próxima vinda aqui.

Com beijinhos,
Pai e Mãe "

Vejo o bilhete e sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, nenhum lugar vai ser minha casa, nunca mais.

Continua...

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