Capítulo dois

55 15 122
                                    

Um novo dia começa, eu acordo na minha cama quente e macia, nem lembro como cheguei nela, a noite passada foi um vulto, meus olhos inchados de tanto chorar. Vejo Millie deitada do meu lado, faço um pequeno carinho em sua barriguinha enquanto ela dorme pesado, ela foi dos motivos de eu não deixar aqui, imagino quantas noites e dias você ficaria na porta me esperando, aguardando que eu voltasse para casa, sem saber o real motivo de eu não estar em casa, porque estaria na minha "nova casa", meu coração não conseguiria lidar com mais essa dor, já perdi demais.
Eu levanto e sinto o mundo girar, uma dor de cabeça que tem me consumido constantemente chega, meu banheiro com uma luz forte faz eu perder a visão um pouco por alguns segundos, só um banho para fazer essa sensação ruim do meu corpo sair. Eu tomo uma ducha quente, sinto minha pele queimar, eu me sinto pelo menos um pouco viva no meio disso.
Eu vejo suas roupas no meu armário e sinto meu peito pesado, minha respiração ficar rápida e meu rosto se entristecer mais, eu me visto nelas para tentar, nem que seja um pouco, sentir seu cheiro, sentir sua alegria, sentir você. Ela é exatamente como você, seu estilo descrito em um conjunto de roupas só, uma blusa branca com uma estampa de pinguins, você era louca por pinguins e música, era o que te movia todos os dias para explorar mais o mundo, se eu pudesse eu exploraria ele todo por você. E não poderia esquecer suas calças largas que te faziam quase tropeçar no chão com seus sapatos de cano alto azuis, eu amava como você era apaixonada por si mesma, eu queria ser mais como você, talvez quando eu crescer um pouco mais.
Na cozinha eu preparo meu café da manhã, panquecas, o meu e o seu favorito, meu estômago está desejando isso há dias, faz um tempo que eu não como...
Não importa.

- Millie? É você ai? - escuto barulhos no sofá de arranhados, olho do balcão e é minha fofa - Millie! Olá meu amor, dormiu bem? - Chego perto do sofá enquanto as panquecas estão ficando prontas, acaricio a nuca de Millie, sempre foi seu carinho favorito. - A mamãe ama você, muito - eu ouço seu estômago roncar - Hm... Parece que alguém está com fome, certo? Vou colocar comida para você - eu pego a ração de Millie, seu sabor favorito é de Carnes e vegetais, chamo por ela, quando ela vê, corre ansiosa por sua comida - Prontinho, beba a água também - após todo esse diálogo eu me lembro que estou falando com a minha gata, me senti uma louca.

O cheiro das panquecas preenche a casa, também não teria como não preencher, é a receita da minha Abuela, sinto saudades dela e dos seus cafés da manhã exagerados para nós, eu e minha irmã no caso. Eu como com um enorme prazer as panquecas com minha xícara de café preto que não pode faltar pela manhã porém, eu sinto culpa, eu olho para a comida e sinto que não mereço isso, não mereço me alimentar disso, eu não deveria estar aqui comendo, a culpa chega em minha mente como uma nuvem nublada, desde criança eu sempre tive problemas com a comida, ou eu como compulsivamente ou eu como nada.

Merda, só coma.

Eu termino meu café e organizo as coisas, eu escuto o meu telefone tocar. Será meus pais? Será Jake? Não faço a mínima ideia, só tem uma maneira de descobrir.
Pego meu celular e são mensagens do meu secretário, ele cuida das partes burocráticas do meu trabalho, provavelmente ficou bastante atarefado com minha saída da cidade urgente. De repente, ele está me ligando no meu telefone ao perceber que eu visualizei suas mensagens. Sinceramente, não estou com mente para o trabalho mas a vida tem que seguir, era o que ela iria querer, que eu seguisse minha vida.

- Alô? Sarah? Tudo bem? - meu secretário está com a voz agitada e rápida de sempre, nunca vou me acostumar com isso.

- Olá Matthew, está tudo bem sim, e você como vai? - nada bem para ele me ligar a essa hora do dia.

- Tem ocorrido tudo bem, cuidei de tudo quando você estava fora da cidade, entretanto... - sempre que Matthew diz isso é porque vem uma bomba.

- Entretanto...? - questiono começando a me preocupar.

- Entretanto, o Sr. Andrew está ao aguardo da obra que ele pediu e anda me perguntando bastante quando ela ficará pronta - Matthew fala com uma voz ansiosa e nervosa, Sr. Andrew é um cliente importantíssimo nosso, ele se interessou por uma das minhas obras e pela primeira vez quis comprar uma para uso pessoal.

- Espera, você contou o que aconteceu comigo? o motivo de eu ter saído da cidade com urgência? - estava perdendo minha paciência, odeio pessoas que não tem o mínimo de empatia, eu não estou no meu melhor momento.

- Eu contei mas de alguma forma ele descobriu que a senhorita voltou para cidade - às vezes quando Matthew fala, sinto que ele tem um pouco de medo de mim, acho até um pouco hilário. Mas merda, como alguém descobriu que eu voltei para cidade? Eu nem dei as caras nas redes sociais ou entrevistas, de certeza que algum paparazzi idiota me viu andando pelas ruas.

- Argh, só diga a ele para me dar mais um pouco de tempo, eu voltei faz apenas 1 dia e já estou sendo cobrada, enfim, faça esse favor para mim - digo suspirando de ranço mas peço com gentileza a Matthew.

- Um pedido seu é uma ordem, vou fazer isso senhorita, tenha um bom dia - Matthew parece aliviado, certeza que o Andrew colocou pressão no garoto.

- Obrigado, você também, qualquer coisa me avise - desligo o telefone.

Parece que o trabalho me chama, certo? Não sei se irei conseguir voltar para as telas agora, alguém me ajude.

Continua...

Pelas ruas de Nova York Onde histórias criam vida. Descubra agora