Capítulo três

16 4 43
                                    

Eu sinceramente não queria voltar a pintar no momento, entretanto, o mundo está contra a minha pessoa ultimamente, de todas as formas possíveis.
As minhas pinturas sempre foram sobre coisas que eu acho lindas, plantas, paisagens, pessoas...

Eu vou para um dos cômodos mais confortáveis da minha casa, a sala de estar, com um sofá que eu sou completamente apaixonada, só de sentar nele me sinto no colo da minha avó novamente, é como ela estivesse me acariciando enquanto estou nele. Tudo foi feito a mão especialmente por mim, cada cômodo da casa foi desenhado para o meu conforto e sonho.

Eu chego na minha zona de arte, me aconchego na cadeira de madeira que tem uma almofada costurada em seu assento, vejo meus matérias, pincéis, tintas, lápis e misturas, sentia saudades disso mas a ansiedade me consumia por inteiro. O que eu vou pintar? Como eu vou fazer isso de novo? Será que serei boa o suficiente como eu era?

Passo 30 minutos buscando alguma inspiração, alguma coisa que preencha esse vazio que falta para eu conseguir pintar algo. Finalmente, eu dou a primeira pincelada na tela, pensei em fazer algo como um campo, parecido com o que havia na casa da minha avó, eu estava tendo muitas lembranças da minha infância ultimamente, nostalgia daquele tempo, eu amava brincar com minha irmã nele, rindo e fazendo penteados malucos com as flores do campo, sendo criança. Senti fluir as ideias em minha mente, a tempestade que tinha dentro de mim já não era enorme, o ar entrava nos meus pulmões novamente, a concentração corria em meu corpo.

MERDA.

Não estava nada bom, eu nunca fui uma pessoa muito impulsiva mas pela primeira vez, eu rabisquei minha pintura com tinta preta e joguei a tela no chão.

- QUE DROGA! Porra... - eu apertei o cabelo em minha nuca e observei minhas mãos, eu estava tremendo, as lágrimas da fúria que escorriam do meu rosto se tornaram amargas e dolorosas. - você não consegue fazer nada? - meu tom de voz era triste, meu peito se contorcia. As memórias invadiram a minha mente:

...

- Sarah - dizia ela sem parar por um segundo de mexer em seus caracóis.

- Fala anjo - respondi com tranquilidade.

- Sabe, eu queria aprender um dia a pintar como você, enxergar o mundo como você vê através das suas pinturas - ela parecia sincera em suas palavras.

Senti meus olhos arregalados, eu amava a curiosidade dela, seu carisma e modo de pensar.

- Ah! Qual foi? Você deveria saber que estamos fazendo isso só para nos divertir! Isso não é uma competição, e você pinta melhor do que você pensa - às vezes, ela é tão negativa sobre si mesma, eu odeio a maneira como ela se vê, na minha opinião, ela é perfeita, do seu jeito.

- Você tem razão Sasa - eu vejo seu sorriso de canto do outro lado.

- Você tá pronta? - eu pergunto ansiosa pelo o que poderia vir.

- Eu acho que estou - ela olha para seu quadro segurando a risada.

- Então agora vai! VIRA! - viramos as telas uma para a outra, observamos os quadros, eu vejo o que ela fez, uma versão minha com muitas linhas fortes.

Eu e ela começamos a rir instantaneamente, a ideia de pintar uma a outra foi surreal, estavam horríveis, os dois quadros. Claro que eu não iria fazer uma pintura magnífica, queria que fosse algo justo para as duas, mesmo que eu pintasse muito melhor que aquilo.

- Sarah! Essa coisa tá uma porcaria! - ela ainda ria enquanto falava - sério! suas ideias são malucas. você é incrível. - vi um sorriso genuíno em seu rosto.

- Oh, você também idiota - olho para seu rosto e para pintura - eu estou parecendo um pedaço de graveto - começo a rir novamente com ela.

...

Que ódio. Eu não queria lembrar disso, nem dela, nem de nada! Simplesmente, pior momento possível, sinto meu coração a mil por hora, suor frio escorrendo pelo meu corpo, não consigo parar de tremer, minha garganta fechando...
Eu estava tendo uma crise de pânico.

Continua...

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 18 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Pelas ruas de Nova York Onde histórias criam vida. Descubra agora