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Confronto final parte III

Marreco,

— Marreco... — A voz debilitada da Aline cessa o falatório dos manos instantaneamente.

No primeiro momento em que olho seu rosto assustado, penso que ela pode ter visto alguém no mato ou algum bagulho, mas aí...eu olho pras suas pernas.

— QUE ISSO, ALINE?! — Corro maluco para ela, passando o ferro pelo peito e o botando para trás. A apanho a tempo, quando ela cambaleia.

— Nossa filha... — Ela aperta a cara de dor, com a mão por sobre a blusa.

— Jiló... — O olho com lamento, recolhendo a Aline nos braços; ela recosta a cabeça no meu ombro.

Não preciso dizer, eu amo ele, porém, se tratando dela e da minha filha... ele tá ligado.

— Vai, Marreco! Eu seguro daqui pra tu, irmão! Tô contigo! — Fiel, ele apunha o fuzil, disposto a se sacrificar pra me dar tempo.

— Tamo junto, chefia! Nós é família, vamo brecar esses bosta! Também vou ficar! — Boca diz, e os outros concordam com ele.

— Daqui eles não passam, Marrequera! — Jiló destrava a peça, se virando para a mata atrás dele, gritando pros vermes. — NÓS É PCR NESSA PORRA, CARALHO! PODE VIM, SEUS FILHO DA PUTA! VÃO MORRER COM NÓS!
Geral solta a voz, se voltando para a direção de onde eles estão vindo.

— TROPA DO GANSO TÁ NA PISTA, PRONTA PRO QUE DER E VIER! É BALA NESSES GAMBÉ, PORRA! - Boca dá o papo, neuróticão.

— BROTA! NOS MORRE, MAS VOCÊS MORREM TAMBÉM!

Deixo eles gritando e corro pela mata, sentindo o sangue dela molhando meu braço. Ela se segura no meu pescoço, contorcendo o rosto de dor.

Nem enxergo caralho nenhum, ainda está meio escuro, sigo por instinto pela trilha. Meu coração quase estoura de tanto bombear pesado no peito, minha mente divagando no sonho.

As luzes de lanternas surgem no meio das árvores além da trilha. Penso em ir por outro lado; mais luzes!

Por todo canto, por onde eu olho!

Estamos cercados!

Aline corre os olhos pelo mato e me olha, a face retorcida.

— Cercaram a gente! Não dá mais... — Deixando umas lagrimas cairem, ela enterra o rosto em mim. — Acabou!

— Eu  vou dar um jeito... vou dar um jeito... — giro, tentando achar uma brecha, um espaço pra passar, fodido, ferrado por dentro.

PORRA! NÃO TEM!

Não faz isso comigo, Deus! Se tu existe não faz isso comigo... eu suplico!

Com o olhar estacado e airado, ando a passos largos, sem saber muito bem para aonde, é o lado que está mais escuro.

— Patrão... lombrou, eles me pegaram.. — A voz desiludida do Farinha apita.

Vai dar! Vai dar! Vai dar, caralho!

— MARRECO, PARA! PARA! — Aline bate no meu peito, sacode minha nuca. — PARAAA, MARRECO! ACABOU! JÁ ERA! ELES ESTÃO EM TODO CANTO!

Só olho a escuridão! Não vou aceitar... não aceito...

— MARRECOOO, ME ESCUTA! PARA AGORA! SE VOCÊ CONTINUAR ELES VÃO ATIRAR, VÃO NOS MATAR!

Não aceito! Não aceito!

- PARA EM NOME DE JESUS, PARAAA!

O desespero em seu brado, me para. Caio de joelhos no chão com ela, a deitando no meio das folhas. Nos abraçamos; choro como há muitos anos eu não chorava.

— O que eu fiz... — resmungo, enquanto ela funga no meu pescoço. — Vocês são o amor da minha vida... o que eu fiz? — Espremo minha voz na pele dela.

Abro os olhos e, nas folhas escuras da mata, meu sonho se desenrola.

Me separo da Aline, examinando seu rosto banhado, o sangue nas pernas...

Tiro a pistola de suas mãos, apertando o cano na minha, com ódio!

É a mesma cena!

É o meu sonho! Eu destruí tudo que eu mais amo!

As lanternas avançam, as vozes...

— Aline... eu não queria... não queria! — O choro faz meu peito balançar. Nego com a cabeça, olhando aquela arma e sentindo a mesma parada que senti quando o pai dela tirou ela de mim: impotência!

Mais uma vez eu não posso fazer nada para impedir!

Ela segura minha mão e pede:

— Olha pra mim!

Obedeço, morto por dentro.

— Não é culpa sua!

— Nossa filha, pô... como não? — Toco sua barriga, as lágrimas vazando como uma torneira aberta pelos meus olhos.
— A Alice... acabou tudo...

Choro de fazer barulho, choro de raiva de mim mesmo, choro porque minha vida já era!

Seu rosto reflete a mesma tristeza, a mesma angústia. Então, galhos sendo pisados atrai seu olhar para atrás de mim. Ela foca lá, vira para mim com um movimento lento dos olhos.

— Ergue as mãos... — Diz, abrindo suas próprias no ar.

Eles chegaram...

Perdi minha vida, talvez a vida dela e da minha filha...

Puta que pariu...

Solto a pistola e levo minhas mãos na altura da cabeça.

— Um movimento e vocês morrem! — A voz de um maluco avisa, e depois disso, centenas de policiais saem do mato, nos rodeando.

Love na Rocinha 3 - Pradoxal Onde histórias criam vida. Descubra agora