Marreco,
O tá tá tá das hélices zumbem, o helicóptero mal pousa e pulamos para fora, no campo. Os tiros nos recepcionam. Farinha traz a Natália pelo braço para fora, os outros moleques descem atrás. O segundo helicóptero voltou também, da metade do caminho, e traz outra remessa de soldados.
Corremos pelo campo para não sermos surpreendidos e, ao lado de fora, Tinem e Adriano nos esperavam. Tem uma casinha velha, azul, ao lado do campo, um cômodo só, o vestiário em dias de jogo. Nos enfiamos todos lá dentro.
Tinem ia falar, quando o rádio apitou. Pus a mão em frente ao rosto dele, pedindo que esperasse. Era a Aline avisando que o pior que poderia acontecer, aconteceu.
- Marreco, eles estão aqui! Eles nos acharam...
"Caralho… " os resmungos dos manos eram a primeira resposta ao que foi dito no rádio. Meu sangue parou de circular, um sufocamento foda subindo minha garganta e, rastejando em minha direção, a sombra daquele pesadelo.
Eu queria explicações pra esse vacilo, não tinham nem vinte minutos e os caras já estavam lá.
- Como esses desgraçados acharam elas, porra?! E os caras que estavam de vigia na casa? - Interrogo o Tinem e o Adriano.
- Não sei, Marreco... a única explicação pra eles terem ido direto na casa certa, é que sabiam antes. - Tinem pendurou o fuzil de lado para sacar o rádio dele. - Deve ter alguém com eles que sabe andar aqui, que conhece. Não teria como eles chegarem lá tão rápido sozinhos se não soubessem o caminho exato.
- O Renanzinho, aquele viado traíra, pô! Só pode ser ele, pulou o muro e se aliou com os caras aquela vez, agora veio junto pra guiar o caminho! - Adriano especulou, entrando numa pira fodida, as mãos na cabeça, repetindo que pegaram a Yanka.
Tinem tentou contato, mas ninguém respondeu o rádio.
- Traz essa mina aqui! traz ela aqui, porra! - Eu gritei pro Farinha, que estava com a Natália mais atrás, e apontei o lugar ao meu lado, no centro do cômodo.
Os outros abriram passagem, os dois chegaram perto; a mina batendo as pernas e o Farinha imparcial, exalando pena da garota que ele pegava antes.
Enganchei meus dedos nos cabelos dela, ela encolheu os ombros e a nuca, chorando sobressaltada.
- Você ouviu? - Chego o rádio em sua fuça. - Teu pai tá com a Aline! Tu sabe o que isso significa? - Os nós dos meus dedos perderam a cor, devido a força usada para apertar o rádio em minha mão. Bolado, cheio de ira, perdendo a razão nessa porra!
Ela não teve outra reação a não ser choramingar, incapaz de proferir qualquer palavra.
Iniciei a transmissão no rádio, mergulhado no ódio.
- Aline... — Dei um tempo, fechando os olhos. Manter o sangue-frio é fundamental agora.
— Eles encostaram em tu? Te machucaram? - Prossegui.
- A Yanka, mano! Pergunta da Yanka! - Adriano pediu, no puro afobamento.
O rádio chamou.
- Não, Marreco... em mim não. O Bk está mirando no Jack, cercaram a casa e pegaram os seguranças, um foi abatido e levaram a Yanka daqui. - Num tom profissional, Aline contou.
Adriano entrou na noia:
- Caralho! Tenta comunicação com os que estão em campo ai, porra! Pegaram a Yanka, porra! - Ele exigiu do Tinem, esmurrando a parede com a lateral da mão em punho. Tinem não perdeu tempo, chamando pelos moleques.