1986, Bahia, Salvador. 7AM.
Era uma manhã calma na rua Flores belas, como sempre. Bem-te-vis pousando nas fiações dos postes, entoando seus cantos, o ronco do motor dos carros e motos a passar pela estrada de tijolos, o tilintar dos sinos de lojas ao receberem pessoas, e o variado cheiro de café correndo por todas as casas.
Na varanda de uma casa verde pastel simples de dois andares, com uma cerca pequena de madeira branca e um jardim levemente extravagante lotado de orquídeas roxas, sentava Moacir, com uma xícara de café na mão e um jornal na outra.
Os adultos conheciam Moacir como um homem forte, pai de família, esforçado. Os adolescentes, o viam como um velho rabugento, controlador. As crianças, por sua vez, o viam como um senhor levemente assustador.
Moacir é um homem de 42 anos, branco de cabelos negros curtos, olhos pretos cintilantes, que se veste de maneira elegante porém simples. O moreno tinha a vida que todo rapaz na casa dos 20 sonhava: uma casa grande, um emprego fixo que paga bem, uma esposa gentil e bonita, dois filhos homens fortes.
Descansado em sua cadeira de balanço, tomando um gole amargo café enquanto folheia o jornal em suas mãos. Seus olhos se moviam lentamente pelas páginas, digerindo a informação de maneira lenta.
Enquanto isso, dentro de casa, sua esposa Isabel lutava para controlar os filhos:
— Mizael! Largue esta obra do diabo, garoto! - ordenou a mulher, arrancando o cigarro das mãos do seu mais velho, que por sua vez riu.
— Mãe, por favor! Eu já sou um adulto, qual o problema de um cigarrinho? A senhora também fuma, oras!
Isabel é uma dama de 39 anos, cabelos trevosos longos sempre amarrados em um coque perfeito, pele negra radiante, olhos verdes escuros que davam um charme a mais em sua feição bondosa. A moça usava um vestido longo azul, sandálias marrons e luvas brancas.
— Eu fumo apenas quando me estresso, e talvez eu não precisasse me estressar se você largasse este maldito tabaco!
Mizael, um jovem de cabelos ondulados negros, pele branca, olhos negros. Estava nos seus 19 anos, estudando para o vestibular. O rapaz estava usando uma bermuda preta, chinelas brancas levemente sujas, uma blusa larga da banda "Beatles" que ele roubou de seu irmão, Fernando.
Enquanto Isabel e Mizael discutiam na cozinha, Fernando adormecia em seu quarto com aparentes zero preocupações. Um rapaz de 15 anos, cabelos negros e olhos verdes, pele negra, rosto que esbanjava uma clara timidez.
Moacir suspirou, pondo o jornal de lado e se levantando da cadeira, seguindo até a cozinha e colocando sua xícara na pia. Ele se virou pra sua amada, lhe dando um leve beijo em sua bochecha.
— Querida, deixe o garoto fumar! Ele já tem idade, então qual o problema? - Isabel bufou, pegando a esponja e começando a lavar a xícara de Moacir.
— Bem, eu não quero que ele fume aqui em casa! Por que ele não tem pelo menos a consciência de ir soltar essa fumaça em outro lugar?! E até uns dias atrás você era super contra ele fumar, por que agora você não se importa mais? - questionou Isabel.
— Bem, ele era um adoslecente e ainda vivia debaixo do meu teto. O que ele faz no tempo livre dele não me importa mais.
Mizael deu um sorriso orgulhoso.
— Viu mãe? O papai não se importa que eu fume.
— Sim Mizael, eu não me importo que você fume, mas como sua mãe disse, tenha ao menos a descendência de ir fumar longe de nós. E se sua vó vinher nos visitar? A mamãe vai ter um treco se ela ver você fumando, e vai ter problemas pra todos nós.
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Você me confunde!
RomanceMoacir é um pai de família clássico, vivendo nos anos 80 no belíssimo Brasil recém livre da ditadura. Ele compartilha sua vida com sua linda esposa e dois filhos. Moacir é meio rabugento e conservador, então não tem bom relacionamento com pessoas ma...