Capítulo I

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~1 ANO DEPOIS~

Cindy estava escondida atrás de um barril, e esperava os guardas passarem com as lamparinas acesas procurando por marginais. Ela ainda não consegue entender a guinada que a vida dela deu depois daquele fatídico dia. Foi do inferno ao céu em segundos e do céu ao pior dia da sua vida em questão de horas. Quando os guardas passaram, ela correu para a lata de lixo e procurou avidamente por comida. Ia fazer dois dias que não comia de verdade. A última vez em que havia tido um banquete de verdade foi no dia da morte de Phillipe, que ela jurou vingar.

Vasculhou o lixo e achou pão mofado e um presunto goguento. Já havia comido coisas piores. Colocou tudo numa mochila de lado de couro que havia ganhado em um abrigo que era fervorosamente contra o governo monarquiano do Rei Augusto, os Lâminas da Liberdade. Grupo esse que tinha Cindy como exemplo por ter supostamente matado o príncipe. Ela, claro, não desmentiu - mas também não confirmou - que na verdade não fora ela que havia assassinado o sucessor do rei.

Voltou ao abrigo da facção Lâminas da Liberdade apenas para dividir o pouco de comida que ela tinha conseguido no lixo. Além daquele pão velho e o presunto, ela também havia pegado torradas quebradas do lixo de mulheres da alta sociedade. Passou a noite toda em busca de comida para levar ao abrigo. No total dava para alimentar 4 pessoas, mas infelizmente havia mais de quatro naquela gruta no meio da floresta.

Os Lâminas da Liberdade eram em sua maioria homens que não aguentavam mais as mazelas daquele reino. Pobreza extrema nos bairros distantes do castelo, uma cavalaria opressora que tinha como único dever extorquir comerciantes e óbvio um rei que finge ligar para seu povo, mas na verdade passava a noite escondido em bordéis e gastava o dinheiro dos impostos em putas e bebidas.

Eles sempre bolavam um plano para invadir o castelo e matar o rei Augusto, mas nunca dava certo e sempre perdiam homens. Além disso, havia mulheres e crianças que moravam na gruta que foram vítimas dos impostos absurdos que o castelo cobrava. Por mais que eles fossem bons de briga, nunca parecia serem bons o suficiente.

Cindy atravessou a floresta encantada, chegou no bosque que dava em direção a uma gruta e deu de cara com o Robin.

- trouxe o que hoje, minha dama?

- deixa de ser mulherengo se não, não vai ganhar o pão mofado que trouxe - rebateu ela

- Então nesse caso: trouxe o que hoje parceiro - dando um soquinho no ombro dela -

- Pão mofado, presunto pegajoso e algumas torradas quebradas. Além de uma garrafa de - ela dá uma tossida de quem vai fazer um anúncio - RUM

- Agora estamos em sintonia, milady! - disse ele beijando sua mão - e não esqueça que amanhã teremos treino de combate e você não está se saindo muito bem no corpo a corpo ein

- Mas me dá uma besta e 100 metros de distância pra ver se não acabo com você rapidinho - disse rindo

Logo em seguida, eles chamaram Khalid e Lana.

Khalid era um ladrão sem vergonha na cara, era um felino humanóide que não tinha as unhas porque ele mesmo tinha arrancado para ser o mais mão leve possível. Apesar de ser a verdadeira denominação de ''gatuno'', era sério e levava tempo para confiar nas pessoas. Menos com Cindy, por algum motivo sabia que poderia confiar nela. Já a Lana, era uma ex-guarda do castelo que foi exilada por se recusar a atirar com uma besta numa criança que havia roubado uma maçã da mochila de um guarda. A maçã estava dando sopa e a criança, que se chamava Aria e por pouco não morreu nas mãos de um dos guardas do rei. Lana se pôs na frente dela na hora do disparo e até hoje carrega a cicatriz em seu ombro esquerdo. Depois disso ela percebeu que estava do lado errado da guerra. Levou a menina, que era órfã consigo e juntas encontraram a facção da Lâminas da Verdade. Lana não confiava em Cindy. E como de costume, já que Aria a via como uma inspiração, ela também não, só não entendia o porquê.

Cindy jogou o que havia conseguido na mesa de pedra, e os outros fizeram a mesma coisa. Logo, quase todos da gruta já haviam jogado tudo que conseguiram em cima dela e se organizaram numa fila.

Quando todos estavam posicionados, esperando para receber sua parte da comida, o líder da facção entra na gruta, trazendo mais um saco de comida. Bolachas, pães, carne de cervo que havia recém assado do lado de fora e um barril de cerveja pela metade que conseguiu roubar de uma taberna no momento em que ele incitou uma briga.

Ragnar Donar.

Ragnar era imponente, com mais de dois metros de altura e uma estrutura muscular impressionante. Seus ombros largos e braços robustos são evidências de anos de treinamento e batalha. Ele tem cabelos negros e uma barba espessa que contribuem para sua aparência temível. Seus olhos são penetrantes e expressam determinação e autoridade.

Ele nasceu numa família de guerreiros. O último da sua linhagem, já que toda sua família foi morta num massacre dentro de sua própria casa por seu pai se recusar a pagar uma quantia exorbitante de moedas de ouro nos impostos. Mas os guardas foram tão covardes que atacaram de madrugada, na calada da noite. Ragnar foi o único que sobreviveu. Seu pai, sua mãe e seus 3 irmãos mais velhos morreram lutando contra mais de 12 dos melhores guardas do castelo, justamente por saberem que a batalha seria árdua.

Todos se viraram para ele enquanto esperavam ele distribuir igualmente toda a comida que haviam conseguido. No total deu um sanduíche de carne de cervo para cada um e um copo de rum ou cerveja.

Quando finalmente terminaram de comer, Ragnar deu a ordem para apagar as lamparinas e irem dormir. Cada um em seu saco. Alguns no chão frio, se cobrindo apenas com uma matinha.

Cindy deitou e apagou sua lamparina e fez sua mochila de travesseiro. Quando estava quase pegando no sono, sentiu algo tocar sua cabeça. Parecia que tinham jogado uma pedra. Não era uma pedra. Era um graveto com um bilhete escrito. Ela levanta e olha para o lado de fora da gruta e vê os galhos e arbustos balançando, mas seus olhos não detectam ninguém. Ela segura o bilhete e deixa para ler amanhã. Mas novamente é acertada por um pedaço de galho com outro bilhete. Então ela se levanta e pega a besta que estava em suas coisas e vai para a floresta.

- Quem tá aí?

- ...

- EU PERGUNTEI QUEM TÁ AÍ!


Uma voz sussurra em seu ouvido:

- Leia o bilhete

Mesmo sem confiar no que estava acontecendo, ela desenrola o papel e tenta ler com a luz da lua. O bilhete dizia:

''Eu sei quem matou o príncipe.''

Ela lê o segundo:

''Tome cuidado com a facção''

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