Capítulo 1

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Reino de Atharum, 1432.
Antes da guerra

Vislumbres de raios de sol pairavam nos aposentos reais da princesa Aneliese. Incrédula que já estava amanhecendo mais um dia, recusava-se a levantar apressadamente, como de costume. Não desejando vivenciar tudo que estava programado para acontecer naquele dia. Mas como ela não mandava em si mesma, logo, passos apressados ecoavam da escada aproximando cada vez mais de sua porta. Uma voz conhecida e animada a despertara:

__ Alteza!! Está na hora de seu café da manhã! O Rei e a Rainha desejam vê-la para começar os preparativos do casamento real... -disse Victoria, sua fiél ama real, preocupadando-se pelo atraso da princesa

__ Só mais um pouquinho... Prometo que já vou! -Retrucou Anelise - conhecendo bem a sua princesa, Victoria entrou em sua quarto, e começou a abrir ferozmente as cortinas da janela. __ Vamos, princesa!! Você sabe como eles não toleram atraso!!

__ Vic, não quero isso! como eu queria fugir! -falou desabafando, lamentando por estar em uma situação forçada.

__ E como eu queria ser rica! Infelizmente não temos essa opção! -falou esboçando um sorriso

__ Ta bom! Já estou indo!! - Apressadamente, esforçou-se para levantar da cama.

__ Agora sim! Bom dia, flor do dia! -falou enquanto penteava seus cabelos, fazendo um penteado de tranças para trás, o preferido da princesa. Victoria notou um olhar angustiado de Aneliese, que não parava de fitar a janela.

__ Majestade, perdoe-me a intromissão, mas o que a preocupa tanto? Sabes que podes me contar qualquer coisa.

__ É que... Eu só queria que tudo fosse diferente, sabe? Nunca tenho liberdade de escolha para nada! Veja, meus pais nunca me deixaram sair do castelo para conhecer o povo! Como eu gostaria de ver com meus próprios olhos o que o nosso povo passa. Sempre vejo reclamações dos parlamentares e sempre que estou curiosa, meu pai diz que está tudo sob controle e que tenho que me preparar para ser uma esposa perfeita. Quando na verdade, eu só queria ser mais útil! E como você sabe, não tenho nem o direito de me casar com quem eu quero. E tudo isso, para o bem de nosso povo, como eles dizem, pois pelo que parece, o tal príncipe de Arendel é rico demais.

__ Olha princesa, por que você não questiona a eles sobre isso? Sempre te vejo calada quando estão juntos. Você deveria relutar um pouquinho mais, vai que a rainha muda de opinião, tenho certeza que ela é mais acessível.

__ Questionar para que Victoria? Se isso não vai dar em nada. Todas as vezes em que exponho minhas opiniões, sempre são invalidadas e eles não dão ouvidos. Por isso preferi aceitar... Mas é tão difícil.... - Após, desabafar, uma lágrima perdida saíra de seu rosto. Como uma expressão de tudo que havia sentindo. Seu maior desejo era colocar tudo para fora e chorar. Mas não podia, não tinha tempo para isso. Ela tinha que se controlar, mais uma vez.
Victoria, sem saber como ajudá-la, disse:
__ Como eu gostaria de fazer mais por você princesa, mas...

___ Tudo bem, Vic, você já me ajuda muito por pelo menos ser a única pessoa com quem posso desabafar. Obrigada

__ Eu é que agradeço, Alteza!

Logo, Aneliese escolhera seu vestido real favorito de cor verde, que realçava seus cabelos ruivos. Aquela era única parte do dia que a deixava satisfeita, pois era o único momento em que ela poderia escolher algo para si.

Estava um dia ensolarado, o que deixava a vista do jardim do Palácio encantadora. Em dias assim, a rainha Leonor insistia para que o café da manhã fosse fora do castelo.

Ao ver Anelise, o rei Sebastian que já estava assentado na mesa real, dirigiu-lhe a palavra:

__ Aneliese! Minha filha, Que demora foi essa? Você terá muito o que fazer hoje mocinha! Preciso lhe lembrar sempre sobre suas responsabilidades? -Neste momento, a rainha Leonor interferiu:

__ Meu rei, tenha cautela com a princesa! Ela apenas está cansada do dia anterior, tenho certeza que isso não se repetirá mais, não é filha?

___ É claro!. Perdoe-me papai, estava apenas me produzindo um pouco mais para hoje....

__ Muito bem! -disse o rei, ansioso por apreciar os aperitivos da manhã.

Após a refeição, o jardim do castelo estava sendo invadido por decorações festivas do casamento de uma ponta a outra. Floristas esforçavam-se para preparar um arco coberto de flores, ao passo que várias mesas brancas e delicadas tomavam o espaço da grama. Aneliese, ao ver tudo isso sentia um embrulho no estômago. Como tudo estava tão lindo e apaixonante, apenas para um casamento que seria uma farça?
Mas não havia tempo para angustiar-se novamente, o estilista real não a deixara em paz, anotando suas medidas para o vestido de noiva. Como se não bastasse, o rei contratou uma tutora para lhe ensinar etiquetas de rainha.

Cansada de tantos afazeres, apoiu-se na varanda do castelo. Era um dos seus lugares preferidos quando queria pensar um pouco ou ao menos para ter um pouco de privacidade. E de repente, ouviu uma voz conhecida que chamou a sua atenção:

__ Aneliese! O que está fazendo aqui? -falou a rainha Leonor

__ Apenas aproveitando um último momento de liberdade que me resta - falou olhando para o chão.

__ Filha! Não seja assim! Você sabe que é necessário! Nem sempre teremos tudo que a gente quer! As necessidades falam mais alto para nós. E a riqueza do seu noivo irá proporcionar bem estar para o nosso povo!

__ Aham... -Neste momento, sentia um nó na garganta, querendo soltar tudo o que tinha vontade de falar mas não conseguia. Até ver que a rainha estava de saída. Lembrou-se dos conselhos de Victoria e cheia de amargura, tomou coragem e falou: __ Olha, mamãe sinceramente eu não engulo essa história de necessidade! A senhora e o papai sempre falam que estamos em crise, mas nunca me contam o que aconteceu nas nossas minas! Por que não mandam mais trabalhadores para lá, para ver se ainda resta ouro? E aliás, o que aconteceu com todo o nosso ouro havia no início da primavera?

__ Que comportamento é esse Aneliese, isso é jeito de falar com a rainha? E outra, como você sabe disso?

__ Eu sou uma boa ouvinte, mamãe. Mas isso não responde a minha pergunta.

__ O que eu sei é que isso não é da sua conta, o rei não precisa nos informar de tudo! Ele é quem toma as decisões por aqui! É por isso que nosso império durou até hoje! Ele sabe o que está fazendo. É o seu dever obedecer se ainda quiser a coroa! - disse Leonor com uma expressão misteriosa em seu olhar, como se ocultasse algo mais.

Neste momento, Aneliese saiu correndo, ela precisava encontrar um lugar para se recompor. Todos os sentimentos que a reprimia, foram soltos e lágrimas corriam livres por seu rosto. Como ela queria fugir! Mas para onde iria? Abandonando toda a razão e Sem saber para onde ia, ao perceber que não havia guardas na entrada do castelo, ela saiu e continuou correndo até não saber mais onde estava.

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