2NN - Complexo Do Alemão

prólogo

História sendo reescrita!

☀️•𝑨𝒏𝒏𝒂𝒏𝒅𝒂

A vida no Complexo do Alemão é uma luta diária, onde cada dia traz um novo desafio pra quem vive ali. Eu conheço bem essa realidade.

Aqui, a gente aprende a ser forte desde cedo, a encarar o sol forte ou as nuvens pesadas que insistem em pairar sobre nós.

Mas, apesar de tudo, é aqui que estou construindo minha história, tentando segurar as pontas da minha casa com todo o amor que tenho.

A violência já havia levado minha mãe embora, deixando apenas meu pai e a mim sozinhos.Mas mesmo que ele não entenda tudo o que eu faço,me condene todo dia e me culpe pela partida da minha mãe. Eu estou aqui.

— Ei, Annanda! — A voz da Lara rompeu o silêncio da casa, acompanhada de pancadas apressadas na porta.

Eu larguei a vassoura no canto e fui atender. Assim que abri a porta, ela entrou como um furacão, a respiração ofegante, parecendo que tinha corrido uma maratona.

— Você ouviu a parada que rolou no morro? — Lara perguntou, os olhos arregalados, quase sem fôlego.

— Não, o que foi? — respondi, sentindo a confusão começar a tomar conta de mim.

— Dizem que um novo chefe chegou e tá reivindicando o controle de tudo — Ela falava rápido, e a preocupação nos olhos dela só aumentava minha ansiedade.

— Então mataram o Maral? — Perguntei, a voz falhando. Se o Maral, que era o dono do pedaço, foi tirado do jogo, a situação podia piorar muito.

— Não sei ao certo. Só sei que tá rolando umas paradas sinistras. Todo mundo tá com medo — Ela passou a mão no rosto, tentando se acalmar.

Meu coração acelerou. Sabia que quando mudanças assim acontecem, é o morador comum que sofre. Aqueles que só querem viver em paz acabam no meio do fogo cruzado.

— Espero que não complique ainda mais as coisas por aqui — Falei, quase num sussurro, sentindo o peso da preocupação me atingir em cheio.

— Esse novo chefe veio com tudo mesmo, Annanda. Ouvi uns caras comentando que ele é mais bruto que o Maral.

Aquelas palavras me gelaram por dentro. Mais bruto que o Maral? Isso não podia significar coisa boa. Já vivíamos num clima de tensão constante, e agora isso?

— E tem mais, ele tá trazendo uma galera nova com ele, uns brutamontes que dão medo só de olhar.

Tentei processar tudo aquilo. Meu pai e eu já tínhamos tanta coisa pra lidar, e agora isso? Respirei fundo, tentando manter a calma, mas a preocupação era difícil de afastar.

— Tô começando a ficar preocupada, Lara. A gente já tem muita coisa pra lidar aqui no morro, e agora vem mais essa.

Lara me abraçou forte, tentando me confortar. — Vamos ficar de olho e nos apoiar, como sempre fazemos. E quem sabe, esse cara não seja tão ruim assim?

Enquanto ainda estávamos ali, abraçadas, um barulho alto vindo da rua nos fez soltar. Era como se toda a favela tivesse parado. O som de vozes exaltadas e passos rápidos aumentava, como um crescendo de tensão.

— Vamos ver o que tá rolando lá fora — Disse, já me dirigindo à porta.

Lara me seguiu, e ao sairmos, nos deparamos com uma cena que nunca vou esquecer. Dois caras, armados até os dentes, estavam no meio da rua, e todos ao redor os observavam em silêncio.

— Tô aqui pra dar o recado do Cão! — Um deles gritou, e sua voz ecoou pela rua inteira. — O novo chefe do pedaço é o Castos 2N, e quem não gostar, que vá tomar no cu!

Um silêncio pesado tomou conta do lugar. Ninguém ousava se mexer ou sequer respirar alto.

— E quero ver todo mundo obedecendo, senão o bagulho vai ficar feio pro lado de vocês! — Outro cara falou, apontando a arma pro céu antes de disparar.

O som dos tiros rasgou o ar, e em questão de segundos, disparos ecoaram de todos os cantos do morro. Era um aviso claro: havia um novo dono no Alemão, e ele não estava ali pra brincadeira.

Lara e eu trocamos um olhar cheio de preocupação. Sabíamos o que aquilo significava. A paz já frágil que tínhamos podia se despedaçar a qualquer momento. O Complexo do Alemão estava prestes a entrar numa nova fase, e não parecia que ia ser nada fácil pra quem só queria viver em paz.