1 . Um passo?

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No topo do Morro do Alemão, Castos se sentia como um rei. O poder que exercia ali era indiscutível, e cada decisão que tomava era uma jogada crucial em um jogo de xadrez que ele, apesar de não dominar, entendia como ninguém.

A vida de chefe do morro era cheia de desafios, desde mediar conflitos entre os seus até fechar acordos com os fornecedores de drogas. Mas, mesmo diante dessa montanha-russa de adrenalina, Castos sempre encontrava uma maneira de sair por cima.

Chegar até essa posição não foi nada fácil. Castos havia lutado muito, e cada passo foi marcado por malandragem, esperteza e até um pouco de sorte.

Ele sabia que, para alcançar o topo, precisaria ser implacável, e foi exatamente assim que ele superou Maral, o antigo chefão do morro.

Maral era respeitado, mas o poder havia subido à sua cabeça, e ele começou a perder o controle, abusando de sua autoridade e negligenciando a comunidade.

Castos, vendo a oportunidade, começou a tecer alianças, conquistando a confiança dos outros e provando que seria um líder mais justo e esperto.

Quando Maral caiu, 2n estava pronto para ocupar o vazio de poder. Em seis meses no comando, ele se consolidou como o novo chefe do Morro do Alemão.

Ser líder não era fácil; exigia pulso firme e uma atenção constante a tudo que acontecia ao seu redor, mas Castos estava preparado para tudo.

Naquela período de tarde, ele se aproximou de dois dos seus homens,ou melhor, seus amigos de guerra.

— E aí, rapaziada, como tá o movimento hoje? — perguntou, de olho na atitude de ambos.

Rodriguinho, sempre com o fuzil à mão, respondeu com tranquilidade:— Tranquilo, chefia! Só curtindo a brisa do morro.

Castos encarou o homem coberto por músculos,as expressões eram perfeitamente calmas e posturadas.

— Conta essa história pra tua vó irmão,
manda a ideia logo que já tô boladão.

Dudu, que até então estava quieto não resistiu,abriu o bico:— Ah, chefe, a gente tava pensando em organizar um churras no fim de semana, que tal?

Castos arqueou uma sobrancelha, desconfiado, fixado nos olhos caros do rapaz.

— Churras? E quem vai segurar as pontas aqui enquanto vocês tão lá comendo picanha?

— Relaxa, chefia, a gente deixa tudo nos conformes antes de ir. E prometemos trazer umas sobras pra você, só pra não ficar com inveja. — Rodriguinho, com um sorriso maroto, tentou tranquilizá-lo.

2n deu uma risada curta.

— Tá fechado, mas quero ver essa churrascada ser de respeito mesmo!

— Pode crer, chefia, a gente vai caprichar até nas linguiças! — Dudu acrescentou a piada.

Mas Castos não deixou de dar o aviso.

— Só lembra, nada de arrumar confusão depois de umas cervejas, senão o bicho pega!

Rodriguinho e Dudu garantiram que tudo ficaria sob controle, pelo menos até a terceira rodada de cerveja.

Era nesses momentos de descontração que Castos sentia um pouco da leveza da vida, mesmo estando sempre alerta. Contudo, algo mais capturou sua atenção. Ou melhor, alguém: Nanda.

Nanda, que mexia com ele de um jeito que Castos não conseguia esconder, passava por ali, e ele, mesmo tentando disfarçar, foi notado pelos amigos.

— Olha só o chefão, todo babando pela Nanda. — Rodriguinho não perdeu a chance de zoar.

— Não é possível, o Castos tá com cara de bobo quando vê a Annanda! — Dudu, rindo junto, completou.

— Qual é, Castos? Perdeu o jeito durão só porque a Nanda deu o ar da graça?

E Dudu, ainda provocando disse: — Isso aí, chefão, tá com cara de adolescente apaixonado.

Castos tentou desconversar, mas o sorriso o entregava:

— Bora parar com a zoação, não tem nada demais. Só tava de olho na situação lá embaixo.

Rodriguinho não deixou barato:

— Claro, a gente acredita… mas cuidado pra não deixar a Nanda te pegar suspirando desse jeito, senão ela vai pensar que tu pirou!

Dudu, com um sorriso, acrescentou:

— Mostra quem manda aqui, mas sem perder o foco, tá ligado?

Castos balançou a cabeça, tentando esconder o sorriso que teimava em aparecer. Era apaixonado por Nanda há muito tempo, mas sempre achou que não tinha chance. Na época em que ainda trabalhava para Maral, ele era só mais um entre tantos.

Rodriguinho, percebendo o dilema do amigo, perguntou:

— Pô, 2N, por que tu nunca deu um toque pra ela?

— Às vezes a gente tem que se jogar, sem medo.— Dudu concordou.

Castos suspirou, confessando:

— Não é tão fácil assim. A Nanda é diferente, brilha de um jeito que intimida. Sempre achei que não tinha chance, então fui levando na minha.

Rodriguinho, sério pela primeira vez, insistiu:

— Isso é coisa da tua cabeça, mano. Às vezes, só falta tu dar um passo pra frente. —Dudu, reforçando a ideia, completou.

— É isso aí, 2N, não custa nada tentar. Quem sabe a Annanda não tá esperando só um sinal teu?

As palavras dos amigos ficaram ecoando na cabeça de Castos. Talvez fosse hora de tomar uma atitude e mostrar para Nanda o que realmente sentia. Era arriscado, mas ele sabia que na vida, assim como no morro, quem não arrisca, não conquista.

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