Filantropia nunca foi uma das atividades mais frequentes na vida de Lalisa, uma mulher marcada por suas escolhas e por um passado em conflito. No entanto, a tragédia a encontrou em sua jornada pelo Quirquistão, onde os estrondos de bombardeios disruptivos ecoaram em seus ouvidos enquanto um hospital clandestino, repleto de esperanças, sucumbia em ruínas. Em meio ao caos e à dor, uma cena a acompanhou como uma sombra indesejada: viu uma criança deslizar pelo ar, seu corpo quebrando-se em um espelho metafórico da desumanidade que a guerra traz. O choro estridente da inocência perdida ecoou em sua mente, enquanto, num impulso instintivo, se viu arrastando uma menina frágil e assustava para longe dos corpos carbonizados de seus pais. O olhar da menina, que capturava a essência da perda, tornaria-se um elo indissolúvel entre elas, uma corrente de dor e empatia que nunca mais seria rompida. Vidas foram ceifadas, e cada uma delas carregava consigo um fragmento da história que se tornava cada vez mais obscura.
Em seus momentos de solidão, Lalisa costumava refletir sobre a morte. Ela dizia que sabia o que acontece quando se morre; a transformação inevitável em um fantasma, em um eco da vida anterior. Para ela, a morte não era um fim, mas um recomeço em um plano etéreo, um limbo habitado por experiências e memórias que resistiam ao tempo. Presa numa terra de sombras, num mundo invisível, Lalisa percebia que a solidão poderia ser tanto uma maldição quanto uma bênção. Era uma liberdade peculiar, a capacidade de vagar sem ser vista, de percorrer os cantos esquecidos do passado, longe do olhar crítico e da dor humana.
As noites se tornavam reflexões de sua existência contemplativa. No crepúsculo, quando o dia se despedia, ela se lembrava de como a solidão a libertava do peso das escolhas. Os fantasmas, em sua angústia, eram aqueles que não podiam evitar os ecos de seu sofrimento. Lalisa, ao compreender isso, percebeu que ela própria se tornara um eco; um espectro definido por tragédias que ela, de alguma forma, carregaria para sempre. Se tornara uma testemunha, uma guardiã das histórias que não podiam ser esquecidas, aqueles momentos que marcavam a fragilidade da vida.
Mas havia um poder ainda mais profundo que a acompanhava em sua jornada. Os fantasmas, assim como a própria Lalisa, tinham a capacidade de assombrar os vivos, fazendo com que aqueles que estavam ativamente envolvidos no tecido da vida sentissem o peso da culpa. Fazê-los pagar pelo que fizeram, mesmo que apenas nas pequenas cisões da consciência. Lisa se perguntou se, ao se tornar um fantasma, teria a chance de fazer algo a respeito. E assim, sua existência tornou-se uma busca incessante por redenção, não apenas para a menina que segurava, mas para todas as almas que, como ela, se tornaram parte de um lamento coletivo.
Os ecos do passado tornavam-se cada vez mais intensos, e a linha entre vivo e morto se tornava uma trama emaranhada. Lalisa dançava essa dança delicada, disposta a confrontar a dor, a perda e, quem sabe, encontrar um caminho para transformar suas lembranças em um legado. Um legado de esperança, resistência.
"Ninguém vai salvar o mundo, mas a gente pode deixar ele menos merda. Fazemos o que os outros não podem ou não querem". Era o que ela dizia por aí.
Há três anos, foi voando que elas morreram. O motor falhou e o avião caiu. Sem sinais, sem destroços, sem corpos, sem velórios, sem dignidade.
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Herdeiras Da Máfia ™ OT4/Romance - Short-Fic
FanfictionA vida de Lalisa tornou-se uma balbúrdia com a morte de sua mãe seguidamente do sumiço de seu pai. Tudo ficou ainda pior durante o ensino médio, quando foi matriculada numa escola de regime militar para garotas. Lá, descobriu tudo o que está por trá...