Fel, Maçãs e Bauru

Capítulo 1: Enlace.

Yelena Castillo:

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Suspiros, corpo gelado, arrepios, suor frio e ranger de dentes...

A preparação para subir ao palco pode ser assustadora. Encarar todas aquelas pessoas que parecem viver na mediocridade, presas a uma realidade que, se pudessem escolher, evitariam a todo custo, aglomeradas em um cubículo, movidos por uma sede ansiosa de experimentar algo mágico, um momento efêmero entre o sonho e a realidade.

Não que eu acredite que minha voz possa realmente transportar as pessoas para um lugar fora da realidade, mas tenho certeza de que a música pode. Ela sim tem o poder de cavar emoções profundas e criar instantes que abalam a monotonia do cotidiano. E isso é o que torna cada apresentação única e, ao mesmo tempo, intimidadora...

{...}

Apresentador: — Eu tenho certeza de que vocês aguardaram esse momento a noite inteira! E quem pode culpá-los? Depois de tanta expectativa, finalmente chegou a hora de agitar as coisas por aqui. Então, pessoal, vamos levantar esses copos, soltar esses ombros e deixar a energia rolar solta! Chega de papo sério, vamos dar uma sacudida nessa noite! Porque, sinceramente, quem é que não gosta de uma boa dose de diversão, não é mesmo? É como dizem por aí: a vida é curta demais pra ficar de braços cruzados esperando o que quer que seja. Então, pra deixar vocês no gás e continuar essa noite a todo vapor, apresento a todos, a mulher mais forte que conheço,  que recentemente passou por um problema difícil mas ainda sim continua a nos agraciar com sua magestosa voz: YELENA!!

Minha entrada é anunciada, consigo ouvir os assovios de entusiasmo, o holofote ilumina o palco refletindo a parte metálica do microfone em meus olhos. Por um breve instante, o tempo parece parar. O silêncio me ensurdecia e a tensão é tangível.

Eu subo no palco e cumprimento o apresentador com um sorriso, enquanto a multidão vibra de entusiasmo. A energia no ar é eletrizante, e todos me olham como se eu fosse uma estrela ou algo assim. Ao pegar o microfone, ouço o barulho da euforia crescendo, e meu nome sendo aclamado de todos os cantos.

Enquanto a luz dos holofotes refletem na maquiagem, meu olhar viaja pela plateia, absorvendo a energia e as expressões das pessoas, cada uma pronta para se perder no momento. No fundo do salão, aninhado entre os bêbados, vejo Bagual. Ele está sentado ao balcão do bar, debruçado sobre um copo de vodka, olhando para ele como se fosse o portador de uma verdade a qual ninguém mais poderia saber.

Bagual sempre fez parte da família, mesmo depois que ela foi desconstruída. Nós éramos inseparáveis: eu, Richard, Bagual e meu irmão, Clay. Éramos como uma pequena gangue, quatro contra o mundo. Crescemos juntos, compartilhando momentos, segredos e sonhos. Nossa amizade era mais forte que tudo... ou pelo menos parecia ser.

Mas algo mudou quando Bagual e Clay brigaram. O nível de tensão era tateável, mas nenhum de nós imaginava o quão sério isso se tornaria. Clay simplesmente sumiu após a briga. Hoje, dia vinte e nove de maio de dois mil e dezenove, completam três anos que Clay desapareceu sem deixar vestígios. Uma semana depois, o Richard tentou suicídio e logo após nunca mais tivemos notícias também. Nossa pequena família estava desmoronando diante dos nossos olhos.

E eu revirava a noite me perguntando o que havia acontecido com Clay. Será que ele apenas decidiu ir embora ou algo mais estava acontecendo? E o Richard? Onde ele foi parar? Bagual nunca falou muito sobre o motivo da briga, e eu comecei a me perguntar se ele sabia mais do que dizia. A cada dia que passava, a suspeita crescia, mas Bagual parecia sempre se manter distante do assunto.