Cartas anônimas

4 - Decepções e começos

  Nunca tinha tido uma noite de sono tão boa, fui dormir com sorriso bobo, aff, estou parecendo uma idiota mas é assim mesmo, todo mundo deveria ser bobo pelo menos uma vez na vida. Domingo foi tão chato, não fiz absolutamente nada, bom que passou rápido porque fiquei pensando que no dia seguinte iria ver Mateus.
  Lá vai eu acordando com o cabelo todo bagunçado, olho no espelho e falo sozinha:
  - Que bom que Mateus ainda não me viu nesse estado
  Tomei meu banho, meu iogurte com aquelas farinhas, escovo meu dente, uso o enxaguante bucal e ponho na boca a balinha que sobrou de sábado. Desci e Marta já estava lá, brava e com a cara fechada ela diz:
  - Bom dia, srta Helena.
  - Bom dia... o que houve?
  - Te esperei por 10 minutos
  - Desculpa Marta
  - Tudo bem.. como foi no parque?
  - Foi muito maneiro... - falei sorrindo olhando para o chão
  - Você está escondendo alguma coisa! Fala agora!
  - Eu e Mateus nos beijamos no Amor Expresso! - confessei
  - Como assim?! Caramba!
  - Não contei pra ninguém que eu já estava afim dele
  - Isso é ótimo Helena, só falta ver se ele gosta mesmo de você e tal
  - Vou ver se a gente se aproxima, porém não nesse sentido perverso
  Chegando na escola vi o pessoal do mutirão reunido, cheguei perto dei bom dia pra chamar atenção, eles responderam com um bom dia e eu continuei:
  - Entrei em contato com o asilo Casa da vovó
  - E como foi? - perguntou Marcos
  - Disseram que não precisa de cadastro, apenas aparecer com as doações meio de semana, 8h às 17h
  - Obrigada Helena. Queríamos 4 instituições carentes, já conseguimos então semana que vem vocês já trazem as doações e quem quiser escrever carta também pode, só diz pra qual você quer que seja encaminhada - Disse Marcos
  - Quais são as instituições? - perguntei
  - Asilo Casa da vovó, Orfanato Santo Antônio, asilo Dom Carlos e Centro de portadores de AIDS terminal - respondeu um garoto da outra turma
  - Ok. Tchau gente - me despedi e fui para sala
  Chegando lá me encontro com Júlia e pergunto tentando não mostrar meu entusiasmo:
  - Sabe se... Mateus veio?
  - Hahaha ele veio sim Helena, vão se pegar de novo?
  - Cale a boca garota - disse eu rindo
  Sentei-me na primeira carteira, hoje tinha aula de física no dois primeiros tempos então eu tinha que dar total atenção para o professor. Depois das duas aulas é hora do intervalo, e não teria mais aula de física então mudei de lugar para 4 carteiras a trás. Quando bateu o sinal cutuquei Júlia e perguntei:
  - Desce comigo por favor?
  - Se é pra falar com Mateus então é melhor você fazer isso sozinha
  - Muito engraçada você... Tchau
  Desci 4 lances de escada, minha sala é no último andar do colégio, quando finalmente cheguei no pátio com sorriso no rosto me deparo com a cena que eu nunca gostaria de ter visto, fiquei perplexa, não consegui me mover. Mateus estava beijando outra garota, mas essa garota é a mais piranha do bairro! Depois do beijo, ainda nos braços da bosta, ele olhou para mim, e nossos olhos se encontraram mas foi bem diferente do de sábado, suspirei, ele parecia assustado ou com a cara de quem sabe que fez besteira e pensa "fudeu", mas levanto o olhar vou na direção dele, ando da forma mais elegante possível com o cabelo jogado pro lado e passo por eles, logo na minha frente estava Marta que viu a "peça" toda e não sabia se continua com a boca aberta ou se ria. Parei no lado dela e disse:
  - É Marta... o mundo tá tomado de safados. Nem dá pra acreditar que ele prefere essa vaca, literalmente porque olha aquele piercing no meio do nariz?!
  - Realmente.. tá abalada amiga?
  - Você acha que vou sofrer, derramar lágrimas por gente que não as merece?! Nem se fosse o único homem no mundo - falei observando o pátio, finalizando olhando para ela - Vou te namorar Marta, você vale a pena hahaha - continuei em meio a nossas risadas
  - Você tem razão Helena, razão em tudo que disse - falou ela
  - Pra qual entidade carente você vai mandar carta? - desconversei
  - Vou para o Orfanato e você?
  - Estou em dúvida, vou pensar ainda
  Não falamos mais nada, Mateus não deu satisfação e o sinal bateu sinalizando o fim do recreio. As aulas foram interessantes, deu para distrair a mente. Não contei para ninguém sobre o que aconteceu, em breve iria desabafar com Marcos, conto tudo pra ele, o mesmo sempre me ouve e me entende.
  Cheguei em casa e fui almoçar, Dona Maria insistia em puxar assunto, fiquei irritada e deixei claro pra ela o que realmente queria:
  - Não estou afim de conversar, não estou afim de saber sobre o clima, sobre o último capítulo da novela das 9, muito menos que você está com cistite, vou almoçar no meu quarto
  - Desculpa Helena! - disse ela preocupada
  Depois de almoçar, comecei a pensar em para qual lugar eu mandaria carta, após refletir por um bom tempo cheguei em uma conclusão, iria mandar para o centro de portadores de AIDS terminal, não sei realmente por quê, mas eu mandaria para lá.