essa fanfic é apenas um desafio que fiz para mim mesmo 01 de janeiro de 2024 ㅡ um estudo de personagem em vinte minutos, levemente inspirada na música sweet de cigarettes after sex.
ela é somente isso.~
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Luzes apagadas, corpos esparramados ao chão e vozes quietas que por pouco surpassavam o tilintar das garrafas; uma extensa conjuntura de fatores seria necessária para elucidar aqueles momentos noturnos de unilateral sobriedade, todas as conversas profundas que mantiveram jogadas ao vento e cada intervalo entre as palavras pendendo pesado ao espalhar-se pelo ar. Porém, por mais que Killua Zoldyck jamais fosse admitir tal coisa de bom grado ㅡ muito menos em voz alta ㅡ, ele resguardava com carinho aqueles momentos balsâmicos ao lado de Leorio.
Afinal, ele mesmo não saberia como começar explicar para alguém os tópicos de suas conversas cansadas, porque suas vozes se mantinham tão baixas na calada da noite ainda que de dia quebrassem o silêncio cacofônicas, pois pouco tinham em comum além de um espírito resiliente e dores de cotovelo. Seus diálogos podiam ser resumidos em monólogos frustrados ㅡ desabafos aceitos por alguém que, estranhamente, sabia lhe confortar.E mesmo que Killua não pudesse explicar como acabou ali, deitado pela sacada observando a rua ao lado de Leorio ㅡ rodeado por garrafas da cerveja mais barata que o médico sovina conseguiu achar ㅡ, ele entendia a nostalgia que o envolvia naquele instante.
A música suave da playlist de Leorio viajava pelos seus ouvidos despertando lembranças melancólicas, todavia estranhamente confortáveis.Ocorreu pela primeira vez quando tinha quinze anos e Alluka ainda segurava sua mão com um aperto que demorou anos para ser desfeito ㅡ mais especificamente quatro anos, no instante em que ela fez dezoito e lhe avisou que queria um tempo com Biscuit para aperfeiçoar a si mesma, sem a presença masculina de um irmão superprotetor que, senão por um empurrãozinho, nunca soltaria sua mão.
E quando aconteceu, não foi muito tempo depois de ter se despedido de Gon, não, pois mesmo que tentasse demonstrar força para sua irmãzinha, o garoto estava perdido e seus passos incertos demonstraram isso durante toda sua jornada ㅡ quando menos esperava, viu-se em York Shin, frequentando os mesmos hotéis que havia frequentado com Gon, observando (num luto silencioso) os pontos da cidade que tinham perpassado, locais em que tinham sorrido, papeado, brincado. Foi numa dessas suas viagens acidentais que encontrou Leorio, dentro de uma loja de antiguidades barganhando com o vendedor pelo preço de um porta-retrato ㅡ dizia ser absurdo, um roubo, que não fazia sentido alguém pagar o preço de uma hipoteca em um pedaço de madeira; Killua riu, baixo e contido, quando o vendedor se estressou e perguntou a ele o porquê de estar assim tão fervoroso sobre o preço do artigo, mandou dar-lhe um valor que achava justo para comprar de uma vez (e Leorio respondeu, com a maior cara de pau possível, que na verdade não planejava comprar) ㅡ ele percebeu sua presença em um instante, virando-se agitado para perguntar o que fazia ali, fingindo uma falsa indignação ao lhe ver, mas alegre como se tivesse acabado de ganhar na loteria. Ele perguntou pela menina que segurava sua mão, e a levou nas costas até seu apartamento, insistindo para pegar suas coisas no hotel ㅡ porque jamais deixaria seu amigo na hospitalidade insalubre de um local de cinco estrelas quando poderia acolhê-lo em seu lar.
Naquela noite, após ter posto Alluka para dormir, Killua caminhou quietamente pela sala do apartamento, afogando-se em cada pequeno detalhe e conquista do ㅡ na época ㅡ estudante, e ao encontrar o mesmo porta-retrato que Leorio tanto barganhava naquela loja, abrigando a foto que os quatro haviam tirado quando Gon tinha lhe resgatado da mansão, Killua chorou pela primeira vez em semanas após a despedida.
Chorou porque não tinha mais doze anos e seu melhor amigo não estava do seu lado, porque palavras doíam e machucavam e sua mente não conseguia entender metade dos problemas que lhe tiravam o sono ㅡ Killua chorou, porque tinha quinze anos e amava alguém que tinha lhe deixado para trás; chorou porque se sentia abandonado, porque nada preenchia o vazio em seu peito que Gon tinha deixado.
Ele chorou porque as memórias ainda estavam frescas, porque o pedestal que havia construído para o rapaz tinha ruído e porque doía demais não entender o motivo dele ter preferido tentar se matar a pedir sua ajuda.
Porque fazia tempo, e ainda não tinha conseguido superar.
E ele não percebeu que era vigiado, que soluçava muito alto, e no momento que tentava desesperadamente limpar suas lágrimas, balbuciando como se tivesse sido pego fazendo algo humilhante ao tentar se explicar, Leorio tinha lhe abraçado.
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sweet [🍾] killua centric;
FanficPessoas tinham formas diferentes para lidar com a dor. Os Zoldyck, por exemplo, haviam masterizado uma técnica para superar qualquer dor física ㅡ mas foi por não terem conseguido aperfeiçoar a psicológica que perderam Killua e, bem, Alluka. Era por...