Capítulo 07 - O Dia Seguinte

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Ao amanhecer, eu saí para a rua e me deparei com a nossa TV que os bandidos teriam roubado da nossa casa no assalto, eu chamei meu irmãos e eles viram lá, a TV toda quebrada e espalhada pela rua. Isso mesmo, os bandidos se irritaram ao ver que a TV não funcionava, quebraram ela e a jogaram pela rua, em frente a nossa casa. Meus irmãos entraram ao escutar os vizinhos nos chamando para tomar café, mas eu não conseguia comer nada e só pensava no que teríamos passado na madrugada anterior. Fiquei na calçada sentada e pensando em tudo, nos meus pais, se os bandidos iriam voltar para nos matar e como iríamos ficar depois de todo o ocorrido. Lágrimas começaram a rolar no meu rosto e a tristeza tomava conta de mim.

Eu decidi entrar em casa e a vi toda bagunçada, o sangue da minha mãe ainda no chão, as coisas jogadas e quebradas por toda a casa. Me desabei em lágrimas, quando decidi ligar para a família da minha mãe que morava em outra cidade, mas no mesmo estado que nós. A minha avó se despesperou quando falei o que aconteceu e ela quase teve um treco. Meus tios e tias ficaram irritados com meus pais, pois eles sempre falaram que lá era um lugar muito perigoso de se morar, mas meus pais nunca deram atenção.

Eu liguei para minha tia por parte de pai e ela ficou mais desesperada que minha vó. Disse que era para todos nós ficarmos calmos que ela já iria para lá.

Nós passamos o dia todo na casa dos vizinhos e eu não esquecia de nada que tinha acontecido, não conseguia esquecer. No mesmo dia, ligaram para nossa vizinha falando que minha mãe iria receber alta do hospital naquele mesmo dia. Fiquei muito feliz ao saber que ela não teria sequelas e meu pai também não, mas ele teria que ficar no hospital, que por incrível que pareça ele ficou pior que a minha mãe que levou um tiro na perna.

Minha mãe chegou e nós entramos em casa, lá minha tia começou a discutir do nada com a minha mãe e eu fiquei sem entender nada do que estava acontecendo. Minha mãe acabou expulsando ela de lá e trancou a porta na cara dela. Eu, minha mãe e meus irmãos nos olhamos e começamos à chorar, lembrando de tudo que passamos. Limpamos toda a casa e ficamos todos na sala, trancamos bem as portas e janelas. Meus irmãos e minha conseguiram dormir, mas eu não. Fiquei acordada na sala assistindo com bastante medo. De repente escutei um barulho vindo da cozinha e lógico que não tive a mini a coragem de me levantar para ir ver o que era, quando escutei um barulho estranho de telhas sendo afastadas e barulho de pessoas falando. Me levantei rapidamente do sofá chamando minha mãe que acordou apavorada e sem saber o porque, eu falei:
- Mãe, tem alguém afastando as telhas na cozinha!!!

O barulho teria parado, mas começou novamente e minha mãe me falou que eram "gatos" andando pelo teto da casa e nada mais, mas eu me desesperei, criei coragem que não sei de onde veio, fui até a cozinha e vi que o barulho vinha da oficina do meu pai, corri com um cabo de vassoura na mão e ao acender a luz, me deparei com alguém já com o corpo para dentro da oficina, eu gritei pela minha mãe que não podia levantar pois estava com a perna machucada do tiro que havia levado no assalto. Eu fui mais ágil e comecei a bater no corpo da pessoa que ainda estava com a cabeça para fora, ela se desesperou também e começou a se debater para tentar sair. Meus irmãos levantaram e correram para ver o que estava acontecendo e me viram lá batendo na pessoa, meu irmão mais velho me puxou e a pessoa fugiu correndo pelo quintal do vizinho junto com outra pessoa.
Eu reconheci a voz da outra pessoa e tinha certeza que era algum dos caras que haviam assaltado minha casa na noite anterior. Eu, meus irmãos e minha mãe começamos a chorar novamente e não conseguimos dormir mais naquela noite.
Ao amanhecer, meu irmão saiu para comprar pão e tomamos café em silêncio.

As horas se passaram e quando chegou a tarde, meus tios junto com minha vó chegaram a minha casa falando que tinham arrumado uma casa perto de onde eles moravam e que éramos para nos mudarmos naquele mesmo dia de lá. Os vizinhos ajudaram à arrumar tudo conosco e meu pai chegou do hospital às 18:20, vendo toda bagunça pela casa, ele não acreditou e começou a brigar com minha mãe perguntando o que estava acontecendo e que ele não iria se mudar de lá. Os vizinhos, meus familiares, eu e meus irmãos começamos a discutir com meu pai dizendo que não podíamos mais morar nem ficar ali, ele não quis escutar e brigou feio com minha mãe na frente de todo mundo.

Depois de tanta briga e confusão, acabamos nos mudando mesmo naquela noite, saímos pela madrugada pois era bastante coisa para levarmos. Choramos bastante nos despedindo dos vizinhos e amigos que cresceram junto conosco. O caminhão que levou nossas coisas, foi e voltou 3 vezes, na última vez ele me levou junto com meus irmãos pois meus pais foram na primeira viagem que o motorista deu. No caminho fui orando muito, pois a estrada era escura e os carros andavam muito rápido por lá. Em uma curva o caminhão tentou ultrapassar e o caminhão onde estávamos parou com uma grande freada que o motorista deu. Ele por pouco, por muito pouco mesmo, quase bateu no carro que vinha na contra-mão. Quase morremos naquele dia, mas por milagre de Deus não aconteceu nada conosco e nem com as pessoas do outro carro.

Seguimos viagem assustados e ao chegar na tal casa, vimos alguns de nossos vizinhos lá ajudando na bagunça e meus pais dentro do terraço da casa, meu pai estava dormindo em um colchão e minha mãe estava sentada ao lado dele chorando. O rosto do meu pai estava horrível com uma espécie de máscara de gesso, pois ele havia quebrado o nariz de tanto ser espancado pelos bandidos no assalto.

Eu adentrei a casa com meus irmãos segurando nossas coisas na mão, nos abraçamos com minha mãe e começamos a chorar, quando meu pai acordou e falou que foi um erro termos nos mudado e isso foi motivo para ele e minha mãe começarem outra briga ridícula e infantil, pior que briga de criança era ver meus pais naquela situação constrangedora.

Foi Tudo RealOnde histórias criam vida. Descubra agora