Imoralidade

[4] - Fugitivos e suicidas

14 de Outubro de 2023 - Londres, Inglaterra.

Eu estendo minha mão com confiança e firmeza.

- Muito prazer Dominic

Ele sorri parecendo satisfeito e se senta ao lado de meu pai.

- Como andam as coisas Dom? Parece que fazem anos desde que nos vimos. - mamãe pergunta gentilmente enquanto dá uma olhada no cardápio.

- Ah Lena você sabe, a mesma correria de sempre, acho que ganhei mais cabelos brancos no último ano.

- Isso se chama velhice. - papai pontua.

Ele lança um olhar cético para meu pai e o ignora.

- De qualquer maneira fico feliz de estar aqui, sinto muito por ter perdido o último ano.

- Você sabe que não deve se preocupar com isso Dom, entendemos perfeitamente o motivo de não ter vindo.

- Exatamente, o importante é que o problema foi resolvido e este ano você está aqui. - meu pai coloca o braço em seu ombro.

- Certamente que eu não perderia esse ano tão especial.

Ele se dirige a mim quando diz isso, seu olhar penetrante e enigmático me deixa nervosa.

- Como se sente Angelina? Sabendo que esse é o seu ano? Nervosa?

A última palavra vem em um tom mais baixo me fazendo estremecer. Eu respiro fundo e coloco minha expressão mais serene no rosto.

- Ansiosa, espero por isso a muito tempo. - minha voz é fria.

Mamãe franze o nariz para minha resposta.

Dominic sorri, parece que era exatamente o que ele gostaria que eu respondesse.

- Eu vejo, tenho certeza que se sairá muito bem amanhã, seu pai a instruiu bem.

Eu sorrio de volta para ele, por algum motivo sinto que nenhum de nós dois está sendo sincero.

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15 de Outubro de 2023 - Londres, Inglaterra.

Encaro meu reflexo no espelho, procurando por falhas que não encontro. O cabelo perfeitamente alinhado, a roupa passada e lisa.

Procuro também respostas para as inúmeras perguntas em minha cabeça, sinto que estou só flutuando pelo mundo desde que acordei hoje de manhã. Olho no fundo dos meus olhos procurando a menina que sempre sonhou com esse dia, ainda posso sentir sua ansiedade, observar sua curiosidade, mas a sinto tão distante de mim, como se fôssemos duas pessoas separadas, que viveram duas vidas tão diferentes.

Abro a torneira para lavar as mãos, mais alguns minutos e é capaz de mamãe invadir o banheiro.

Como se alguém lesse minha mente a porta do banheiro é aberta, mas não é minha mãe que entra.

- Ah desculpe, não sabia que tinha gente, a porta estava destrancada.

A menina que entra está extremamente bem vestida, como todos aqui eu presumo, um vestido amarelo escuro que modela seu corpo junto com os cachos que caem como cascatas por seus ombros. Mesmo com os saltos brancos ela é menor que eu.

- Tudo bem, eu só vim lavar as mãos, já estou saindo.

Ela assente e sorri para mim.

- Também está tentando fugir das pessoas? É meio sufocante não?

Sua voz é baixa e melodiosa, demonstra seu nervosismo.

- Com certeza, infelizmente se eu sumir por mais de 10 minutos minha mãe enlouquece.