+1+ Sacred Mission

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Os passos soavam calmos, sem pressa, em direção á sala do arcebispo. A batina negra, tão austera, não condizente com a face jovem e tranquila daquele que a usava.

Duas batidas foram dadas antes de se ouvir a voz já cansada do outro lado. Recebida a permissão o jovem padre abre a porta e adentrou.

Atrás da mesa escura e pouco enfeitada, o senhor de cabelos grisalhos que tinha os olhos, antes fixos em um papel amarelado, levantam-se para olhar o rapaz á sua frente.

-Mandou me chamar, Vossa Excelência Reverendíssima?

O senhor, dono de um sorriso gentil, acena levemente com a cabeça.

-Pedi sim, Padre Lee. Gostaria de sua opinião e resposta sobre um pedido que recebi recentemente, por favor, sente-se. -Pediu, fazendo sinal, indicando a cadeira ao outro.

O Padre com suas feições joviais, acatou o pedido, sentando-se polidamente com as mãos sobre o colo. Aguardando em silêncio pela fala do reverendo.

-Como já deve saber, ultimamente estamos recebendo vários pedidos de ajuda de várias vilas. Muitos são aqueles que sentem falta do elo com o Pai. São tempos difíceis.... -Fez uma pausa e voltou a atenção ao papel que segurava. -Uma dessas vilas enviou-me um pedido, mas.... Devido a uma discordância entre os membros da sacristia, nem um dos nossos sacerdotes expressou o desejo de assumir a igreja de Saint Gregory.

-E por que não? O que há de tão errado com essa vila, para negarem tal pedido? -inclinou a cabeça levemente para o lado. -Pensei que fosse o nosso dever levar a palavra de nosso Senhor a todos os povos necessitados de ajuda. -O homem indagou com as sobrancelhas franzidas, não entendendo o porquê de nem um padre se dispor a atender ao encarecido pedido, era a missão deles afinal.

-A vila em questão....bem, eles convivem com seres da noite. Nenhum outro Padre quis envolver-se com o povo de lá.

O Padre não entendia direito a situação. Sabia que muitas vilas viviam em mútuo acordo com os seres da noite, dessa forma, mal eram vistos pelo clero, por tratarem tais criaturas como iguais. Entretanto, mera ideia dos sacerdotes em recusar um chamado provindo de socorro pelo Divino, não lhe descia a garganta se alguém lhes pedia ajuda, era por que queria estar mais perto do Criador, então por que não atender ao pedido?

-Gostaria de saber o que acha desse convívio mútuo entre ambas as espécies. E se....Estaria disposto a assumir o compromisso de levar a palavra do criador a essas almas necessitadas de acolhimento. -Observou o rapaz sentado em sua frente, os dedos entrelaçados enquanto os cotovelos apoiavam-se no tampo escuro da mesa, denunciavam a apreensão do reverendo quanto a resposta do ingênuo Padre. -Sabe rapaz...gerenciar a casa de Deus e todos os seus fiéis... - O silêncio prolongado logo ao concluir sua fala, fora motivação suficiente para uma gota gélida de suor trilhar uma rota compassada sob as vestes pesadas do velho; ele precisava que Lee aceitasse sua súplica. Afinal, se não o Padre Lee, quem mais o faria?

Félix abaixou a cabeça respirando fundo, em seguida encarou o ancião.

-Creio que não devemos julgar nenhuma criatura na terra, pois esse dever cabe somente ao Pai, Criador de todo ser vivente. Minha missão é apenas dar conforto àqueles que necessitam e procuram por nossa ajuda. Levar palavras de amor e consolo aos que anseiam por ela. Então, se queres minha resposta á isso, seria de meu agrado assumir tal compromisso.

O arcebispo finalmente pôde relaxar os músculos, um alívio grandioso. Sempre viu algo de puro no jovem Lee. E mesmo sendo tão novo, a visão que tinha a respeito dos assombros mundanos, sempre foram positivas e regadas de amor ao próximo. Alí, em sua frente estava alguém que abraçaria o voto selado, entregando-se de corpo e alma ao dom que lhe foi dado.

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