+4+Blessed New Day

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Lee acordou cedo com os cantos dos pássaros. Sentou-se na enorme cama e coçou os olhos, antes de jogar as cobertas para o lado. Enfim começava seu dia como o novo representante de Deus do lugar. Foi até a cômoda que havia ali, enchendo a bacia de porcelana, que estava em cima da mesma com água, lavando o rosto para retirar os últimos resquícios de sono.

Após secar com uma toalha, encaminhou-se até o armário para pegar suas vestes. Pretendia ler os livros de registros do antigo reverendo, fazer algumas anotações para em seguida, fazer uma reforma no cemitério. No dia anterior, notou que algumas das cruzes de alguns túmulos já estavam velhas, ervas daninhas nos mais antigos.

Pensando nisso colocou uma camisa de manga comprida e uma calça escura, assim pouparia a senhora Nam de lavar sua batina. Fez sua cama e deixou o quarto. Desceu as escadas encontrando a mulher com as mãos enfiadas em uma bacia.

-Bom dia, senhora Nam. A senhora sabe me informar onde consigo encontrar materiais para marcenaria?

A mulher o olhou com um sorriso.

Oh, bom dia, santíssimo Padre! -Disse ainda com a mão na bacia, enquanto via o padre se servir. -Mas o que queres fazer com madeira e pregos tão cedo?

-Ontem, enquanto passeava ao redor da igreja, notei que alguns túmulos estão sujos, as cruzes já muito velhas e algumas nem existem mais, eu gostaria de concertá-las.

-Se o senhor quiser posso pedir pra que chamem o coveiro, ele pode fazer isso pelo senhor.

-Muito obrigado por isso, Sra.Nam, mas desejo fazê-lo. Não me leve a mal, mas quero ocupar meu tempo e como apenas farei as visitas amanhã, posso cuidar disso. -O padre disse enquanto bebericava seu café.

-Se é assim, bem, o senhor deve ter visto uma casinha lá atrás certo? Tudo de que precisa estará lá dentro, apenas tome cuidado. Faz tempo que aquele lugar não é limpo.

-Tomarei sim, obrigado senhora Nam, e por favor me chame apenas de Padre Lee. Não precisa ser tão formal. -Tomou o café que havia servido e com um manear de cabeça, deixou a cozinha, indo de encontro do que seria agora seu gabinete.

Ao entrar pôde perceber que a mobília era bem cuidada, a mesa de cedro bem polida e envernizada. No canto direito havia uma estante com vários livros e cadernos de registros muito bem organizados. No canto esquerdo havia um sofá de veludo na cor vinho com uma mesinha de centro. Ao lado da estante com livros, havia uma escrivaninha para qual se encaminhou e, sentado na cadeira, abriu as gavetas achando algumas anotações sobre recolhimento de dízimo e das despesas com a igreja, bem como o montante de doações dos senhores da vila.

Olhou os cuidadosamente, seguiu até a estante procurando entre os livros, àqueles que continha os registros de visitas junto aos registros de nascidos e batizados ali. Quando o encontrou começou a folhear. Percebeu que eram poucos os registrados encontrados naquele livro, o que o fez franzir as sobrancelhas. Tinha certeza que o número de pessoas na vila era bem maior que o registrado ali. Pensando nisso, com o livro ainda em mãos voltou á conzinha.

-Com licença, senhora Nam. A senhora poderia me dizer o porque de haver tão poucas pessoas registradas aqui? Tenho certeza que não estão todos os nascidos e batizados na vila em todos esses anos.

-Bem -A mulher secou a mão no avental olhando para baixo. -O antigo reverendo era muito rígido, apenas quem podia pagar era registrado ao nascer e então receber o Sacramento do Batismo.

-Estás a me dizer que muitos aqui não são batizados? Mas... é direito de todo cristão receber o Sacramento do Batismo.

-Todos sabemos disso, padre, mas era o antigo reverendo quem decidia essas coisas por aqui...o senhor sabe que há um bordel na vila, certo? -Perguntou, e vendo o padre concordar, continuou. -Pois então, algumas daquelas moças acabam por engravidar pelo o que fazem, não que eu as julgue, por Deus não, elas o fazem para sobreviver, mas o antigo padre não registrava as crianças delas e nem as batizava, pois segundo ele eram filhos do pecado e já nasciam sem salvação. As visitas aos doentes eram feitas apenas aos Senhores, nunca questionei o porquê. Mas se alguém menos abastado quisesse ser batizado teria que pagar. Por isso não há tanto registros.

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