O Caçador de Grimórios

Capitulo I - O Mercador de Almas

Anteriormente em O caçador de Livros...

_EU NÃO POSSO DEIXAR MULHERES INOCENTES MORREREM, NÃO SEM TENTAR FAZER ALGO!

O grito de Julian quebrou o silêncio da noite. A bruxa se aproximou dele, colocou a mão por baixo de seu queixo e o admirou. Julian pôde notar um olhar deslumbrado e compassivo, diferente de todas as expressões que já havia visto nela. Ele enxergou um rosto gentil que poderia realmente ser sua verdadeira forma. No entanto, o momento foi interrompido pela visão turva e pelo peso repentino que Julian sentiu em seu corpo.

Julian lutou para articular as palavras, mas sua voz parecia fugir, deixando-o preso em um silêncio agonizante. Seus olhos fixaram-se no rosto da bruxa, testemunhando o súbito rubor de seu vestido branco manchado de vermelho, enquanto uma dor lancinante ecoava em sua garganta. A bruxa recuou, deixando Julian desamparado, seu corpo cedendo ao chão, exaurido e impotente.

O calor do sangue escorrendo por sua pele se misturava à frieza da morte iminente. Em um instante, Julian compreendeu que seu destino se esgotava, uma maldição tecida pelos momentos fatídicos que o levaram até ali: o momento em que se aventurou atrás da bruxa, o instante em que adentrou o circo, o momento em que acolheu a velha Nazira em sua livraria e, acima de tudo, o momento em que barganhou sua vida por outras.

Apesar da tormenta de sua existência, um breve lampejo de alívio o invadiu ao vislumbrar uma sucessora para sua amada livraria. Sua caçada, sua saga, tudo chegava a um fim inevitável, tão marcado pela fatalidade quanto sua própria história. O Conto do maldito Livreiro, cuja vida foi arrancada precocemente, cuja existência foi pontuada por mediocridade e cujo desfecho selava uma jornada de maldições e morte, uma vida belamente miserável.

A escuridão o envolveu, sua mente exausta rendendo-se ao abraço sereno da morte. Em seus últimos suspiros, Julian buscou purgar os tormentos de uma vida lamentável, enquanto suas memórias desfilavam diante de seus olhos já fechados.

Capitulo I - O Mercador de Almas

Quando tudo parecia desvanecer-se, Julian foi despertado por um toque em suas costas e uma voz estranha ecoando em seus ouvidos.

_ Julian, perderá o nascer do sol se mantiver os olhos fechados!

Os olhos se abriram em um sobressalto, deparando-se com um cenário desconhecido, um parque que jamais vira. Seu olhar cruzou com o de um homem sério, cujas feições joviais contrastavam com seus cabelos completamente brancos e um olhar que parecia carregar milênios de experiencia. O homem o encarou de volta por um instante, mas logo voltou seu olhar ao horizonte.

Julian seguiu com o olhar e deparou-se com uma visão deslumbrante: à frente deles, estendia-se um vasto lago, adornado por colinas distantes, enquanto os primeiros raios do sol pintavam o céu, imortalizando a paisagem como uma obra de arte surreal. Em silêncio, compartilharam a visão do sol despontando no horizonte, pintando o céu com os matizes do amanhecer. Contudo, a beleza avassaladora do momento não foi suficiente para dissipar as sombras que pairavam sobre a mente atribulada do outrora livreiro de Verdantia, rendendo-lhe mais dúvidas e interrogações sobre o que realmente estava acontecendo.

O homem misterioso voltou a fitá-lo, seus olhos percorrendo Julian de maneira penetrante, uma expressão neutra que deixava um desconforto latente. Julian, envolto em dúvidas e incertezas, se questionava se aquela seria a tão falada visão celestial, todavia, quando tentou falar, as palavras não saíam.

_Antes de falar você precisa respirar, Julian! – A voz do homem era como um sussurro que carregava consigo um conhecimento ancestral –.

Julian arregalou os olhos, finalmente percebendo que não havia respirado desde que se percebeu naquele lugar, então puxou o ar com toda urgência que pôde, como se estivesse emergindo de um oceano. Era como se tivesse esquecido não apenas como respirar, mas como existir, e as palavras do homem ecoavam como um despertar de sua essência.