Capitulo III - O Jardim das Flores Mortas

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_O que exatamente você quer saber, Ster? Você tem algum questionamento específico ou devo contar toda a minha história desde o início? – Julian tentava acalmar sua mente, uma tarefa nada simples dada a situação –.

_Você poderia começar me contando como se sentiu em relação à proposta feita pelo Ceifeiro, já que ela envolve matar minha raça. Achei um tanto arrogante de sua parte aparecer por aqui estando tão despreparado. – Ster mantinha um tom calmo enquanto analisava cada mínima reação de Julian – Eu devo lhe lembrar que estou excedendo a minha tolerância com você por conta do carinho especial que tenho por Azura, pois, por algum motivo, ela aparenta gostar muito de você. Pode se dizer que foi uma fraqueza minha, mas já me apaixonei por um homem uma vez, fato este que só me trouxe desgraça. Matar você ainda livraria minha pobre irmã desse destino maldito. Sinceramente, espero que você me convença, pois quanto mais penso, menos sentido faz mantê-lo vivo.

Julian entendia claramente o que Ster havia acabado de falar, e ela tinha razão, afinal, matá-lo seria muito fácil e resolveria, de fato, o problema dela. A única coisa que ainda mantinha o pescoço de Julian no lugar era o apreço que ela nutria por Azura, o que lhe fez perceber que mais uma vez, Azura estava salvando sua vida, mesmo não estando ali presente.

_Pra ser sincero, ainda não entendi bem por que Azura me escolheu, logo eu, um mero dono de livraria. – Julian tentava ganhar tempo para organizar seus pensamentos –.

_Quando você experimenta apenas desprezo em sua vida, apega-se a qualquer migalha de humanidade e gentileza que lhe é oferecida, garoto. Não menospreze a admiração que ela lhe deu; seja grato por isso. – Era perceptível o sentimento que a fala de Ster carregava –.

_Imagino que sim! – Concordou Julian – A história de vocês, mesmo que eu não conheça detalhadamente, está envolta em muito preconceito e perseguição. Sinto muito por isso. Espero um dia entender em detalhes o que levou Morgana e Caelynn a amaldiçoar sua linhagem dessa forma, apesar de acreditar que por terem uma parte humana, já se explica a natureza desta decisão, visto que não é preciso muito para que o ser humano mostre seu pior lado. Respondendo à sua pergunta, a proposta do Ceifeiro me deixou pensativo, pois acredito que ele mesmo é um dos culpados pelas ações de Azura. O fato de ela ter amaldiçoado a minha livraria e os meus clientes me fez sentir ódio e desejo de a eliminar em um primeiro momento. Antes de conhecer Henry e seus capangas eu realmente imaginei que todas vocês fossem seres desprezíveis, mas ao vivenciar a brutalidade com que os homens tratavam as mulheres que sequer tinham certeza se eram ou não bruxas me fez reavaliar com mais calma, querer entender a maldição de Azura, assimilar os critérios dela e principalmente compreender o porque a maldição parecia escolher suas vítimas.

Enquanto Julian falava, sentia o olhar de Ster dissecando cada mínima reação sua. Isso o deixava ainda mais desconfortável, já que seu corpo estava tomado por uma tensão terrível, causada pelo pavor das lâminas flutuando ao seu redor, prontas para atacá-lo ao menor sinal de imprecisão. Ele não sabia se deveria concentrar-se nas lâminas, ou se deveria focar em Ster, cuja expressão fria sugeria que ela estava no controle. A incerteza sobre de onde viria o próximo golpe, das lâminas impiedosas ou do comando mortal de Ster, o deixava paralisado de medo.

_Devo concordar que Azura criou uma maldição extraordinariamente complexa, Julian. Todavia, mesmo que você insista que por um momento tenha odiado Azura, é inegável que existe um conflito de ódio e desejo dentro do seu coração quando o assunto é a sua relação com ela. – Ster esboçou um sorriso enigmático – Não lhe ocorre que, talvez, essa confusão em relação a Azura seja apenas um desejo carnal? Já considerou que esteja apenas tentando justificar seu tesão por uma assassina?

O Caçador de GrimóriosOnde histórias criam vida. Descubra agora