Eu acordei no vestiário, deitado na bancada com os braços e pernas abertos. Olhei para o lado e Huaisang estava fumando, nostálgico, ao meu lado.
"Ei." Ele disse, sorrindo logo depois e me jogando um maço de dinheiro em cima do peito. Me sentei com dificuldade e passei a língua pelo local na boca onde tinha um dente, fazendo uma careta. "Ele ficou puto com você, por causa daquele cuspe todo."
"Foda-se." Eu disse, tirando as luvas e pensando sobre como cheguei naquele lugar. Provavelmente eu fui arrastado como um porco abatido e jogado de qualquer jeito, isso porque minhas costas doíam e Chao não havia batido nelas. "Acho que vou para um hospital."
"Aham." Huaisang disse, me mostrando um maço menor que o meu de dinheiro. "Pode ir até para a baixa da égua, que eu não ligo. Vou indo nessa, me divertir até dar uma dor."
Ele saiu e eu tirei as faixas das mãos, o short de luta e a sunga, tomando um banho frio no chuveiro do local. Vesti-me e peguei minha mochila, tomando caminho para a saída.
Tomei um taxi e fui até o hospital municipal, que era bastante perto do ginásio onde eu tinha lutado. Entrei e fui direto para a enfermaria, local completamente conhecido por mim desde que comecei a lutar.
Olhei em volta e vi quem eu procurava, andando em sua direção e cutucando o seu ombro. Quando ele virou, rolou os olhos e apanhou umas pranchetas de cima de um balcão para começar a andar.
"Você de novo por aqui, Lan Zhan?" Ele disse, andando até uma salinha que eu sabia que era onde ele sempre me escondia para cuidar de mim. Escondia porque eu não era prioridade, e porque ele sempre passava horas me remendando e estancando sangramentos.
"Dessa vez foi bem ruim, eu perdi um dente, Wei Ying." Ele virou-se para mim e me puxou para dentro do local, olhando para os lados de fora e entrando, trancando a porta depois. "Quanto será para arrumar essa porcaria?"
"Sei lá, senta na maca." Wei Ying disse, me apontando para o local sem olhar para mim direito.
Wei Ying era o enfermeiro plantonista todas as noites no hospital, isso porque ele precisava estudar pela manhã e tinha que ter turno extra além da tarde, devido sua vida difícil.
No começo eu sempre chegava à clinica e era tratado com desdém pelas enfermeiras mal humoradas, mas desde que ele havia tomado de conta do turno da noite e de minha constante presença no hospital (lhe implorando para me costurar) ele nunca me tratou mal ou me fez perguntas, mesmo que eu sempre acabasse falando muito. A verdade é que depois de algum tempo apanhando, eu quase nunca precisava mesmo de atendimento, podia cuidar de mim mesmo tranquilamente.
Eu ia para a clínica só para ver o Wei Ying. Ele tinha me interessado desde a primeira vez que me estancou um ferimento, sabe, romântico assim. Mas ele nem ligava para mim, acho que pensava que eu era o perdedor que aparentava ser. Mas lógico que eu não desistiria fácil de conquistá-lo.
"Sinceramente, Lan Zhan, você devia largar essa vida." Ele disse, enquanto juntava alguns instrumentos, agulhas, luvas, medicamentos e gazes.
"E vou viver de que?" Eu falei, desdenhando do humor fraco dele, talvez fosse um dia ruim. Ele geralmente me apertava nos inchaços de propósito, me fazendo reclamar e rir no final de contas. "Que bicho te mordeu?"
"Nada." Ele disse, colocando as luvas e começando a limpar meu ferimento aberto da sobrancelha, ignorando meus constantes 'ai' 'ow' e 'caralho'. Depois, pegou a seringa e encheu com algum remédio, provavelmente um anestésico e aplicou no local. "Vai levar uns sete pontos ou mais."
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Menino de Ouro
فكاهةLan Wangji, um boxeador fracassado, tenta ganhar a vida lutando aqui e ali em ringues ilegais. Sua vida não é das melhores e o cara que ele ama, o enfermeiro Wei Ying, também não parece lhe dar muita atenção. Um cara sem muitas perspectivas de vida...