| C a p í t u l o Q u a t r o

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    Votre fléau,

      Você falou sobre "títulos temerosos". Não esperava que tivéssemos esse ponto em comum. Também acho títulos coisas bastante amedrontadoras. Parece um pouco tolo, não é? No entanto, não sei se você se lembra, de uma noite em que nos escondemos sob a mesa do escritório e vimos o que meu pai fez com Gilbert... Meu irmão disse que nosso pai era assim por causa do título de visconde. Que o odiava por não conseguir se encaixar nele.

        Algumas vezes, me pego pensando se isso não é de família e se não herdei o mesmo traço. Mamãe tenta ter paciência comigo em tudo a fim de me transformar em uma perfeita dama. Mas não acredito que vá funcionar. Minha língua é mais rápida que meu bom senso, você sabe. E na maioria das vezes, não acho que meu cérebro é menor e que devo me calar apenas por ser mulher. Diferente de meu pai, não tenho ódio por não me encaixar, mas tenho medo que jamais encontre alguém que realmente me compreenda...

De uma senhorita bastante honesta à meia noite, C.G

Wilhelmine House, Gloucestershire, 1811


   Ps: Sinto muito sobre seu pai. Imagino que ele deva ter seus motivos, mas nunca se esqueça de que você continua sendo um bom filho, Cedric. Sempre está aí por ele. E é o que importa.


     Madmoiselle Jambes Fines,

     Não é tolo temer a vida que esperam para nós. Na verdade, nada do que você sente é tolo. Nunca será. Também não acho que deva podar sua essência. Ou se calar por ser mulher. Pelo contrário, você sempre tem algo inteligente a dizer, diferentes de muitos lordes de perucas e ideias frouxas que conheço.

    Infelizmente, lembro-me bem do incidente que presenciamos de mãos dadas naquela noite. Mas não acho que características como aquelas são traços que se herdem. Você é livre, Carol. Lembre-se sempre disso. E quanto a alguém que a compreenda, você sempre poderá me escrever cartas. Prometo me esforçar e também estar aqui por você.

De um bom compreendedor, C.R.

Surrey, 1811





   Aquilo era uma punição para o ato desgraçado e obsceno que ele estava prestes a fazer naquela carruagem. Sem dúvida, ser agarrado e arrastado por salteadores seria um castigo pequeno para um homem que desejara com todas as forças deflorar, em uma carruagem, a irmã de seu melhor amigo.

  Deus, ele tinha mesmo pensado em agarrá-la? Tinha mesmo imaginado com clareza como poderia simplesmente tombá-la atrás do maldito banco com um beijo e experimentar a maciez daquele corpo feminino embaixo do seu? E tudo pela segunda vez em uma mesma noite?

  Ó inferno sangrento! Ele pensara nisso e em muito mais! E era por isso que agora estava sendo arrastado como um cão sarnento. Cedric certamente não ligaria para isso depois do seu pecado, se Caroline não estivesse sendo arrastada pela maldita lama junto com ele.

   Ele tentou se debater e chutar os homens. Escutou Caroline tentar fazer o mesmo e se sentiu o pior dos cavalheiros de sua majestade por não conseguir defendê-la. Inevitavelmente, os dois foram arrastados por degraus. Portas se abriram e Cedric foi forçosamente sentado em uma cadeira. Arrancaram o saco mal cheiroso alguns instantes depois.

   — Carol! — Ele berrou tão logo se viu livre.

  Graças a Deus, seus olhos a encontraram ao seu lado, no centro do que parecia um velho porão saído diretamente de uma cena ilustrada por Mary Shelley. Lutando para recuperar a respiração e com seu cabelo completamente desfeito.

Arruinando Lorde Richmond | Damas Improváveis - 3Onde histórias criam vida. Descubra agora