MILLER'S GIRL

Two

cairo pov

— Então você é fumante agora? — Winnie perguntou deitada em minha cama com a cabeça para baixo.

— Eu estou fumando no momento, isso não me define.

— E seus pais, onde estão?

— Não faço ideia. — respondi séria, ainda fumando meu cigarro.

— Sabe quando voltam?

— Quem sabe...

A verdade era que eu sabia que eles não voltariam, devem estar felizes como casal, viajando pelo mundo e fingindo que eu não existo.

— O que você tá fazendo? — eu tinha meu laptop no colo, eu o encarava encolhida no canto próximo à cama.

— Estou desejando que minha história se escreva sozinha.

— Você não consegue escrever? — Winnie questionou, agora sentada na cama me encarando.

— Não sou qualificada.

— Qual é o assunto?

— "Qual foi a sua maior conquista até agora?". — praticamente cuspi as palavras, eu estava frustada por não conseguir escrever sobre aquilo. — Então que porra eu devo escrever? Que estou sobrevivendo ao tédio paralisante de crescer no nada?

— Desculpa Cairo, não consigo te entender com toda essa áurea poética dramática.

— O que eu estou dizendo é que minha maior conquista não pode ser não ter tido conquista nenhuma.

— Bom, e sobre ser representante da classe? — neguei com a cabeça. — E sobre ter uma média boa de notas?

— Entediante.

— E aquilo que você conseguiu... uhm...

— O que?

— Droga, acho que você é só mais uma garota comum e rica vivendo em uma mansão mal assombrada... — disse ela num tom de pena.

Apenas fechei meu laptop e continuei fumando, não é possível que não exista algo interessante para escrever, não é possível que eu não tenha conquistado nada, feito nada... É, na verdade para alguém como eu, é bem possível sim. Mas antes que eu pudesse transformar o ar com um clima teatral melancólico e dramático, Winnie levemente salta em seu lugar, demonstrando ter tido uma idéia.

— Experimenta algo novo.

— Que tipo de algo novo?

— Algo que vale a pena escrever... Como uma história sobre aluno-professor.

— Como exatamente isso seria uma conquista, Winnie? — ri nasalado.

— Pensa comigo Cairo, meninas com sexualidade ambivalente, feromônios saindo dos corpos. Eu gostaria de um envelhecido a seco, um pedaço de carne de homem quente perfeitamente marmorizado para me levar à cidade do prazer.

— E você acha que o treinador Filmore é esse tipo de homem?

— Ele é inteligente e gentil, mas também tem o Miller.

— O que tem o professor Miller?

— Eu nunca vi ele olhar um aluno como ele olha pra você. Ele vê você, mesmo que você se esconda.

— Para Winnie, que bobagem.

— Cairo, é como se ele vivesse numa escala de cinza e você é a primeira coisa que ele viu em cores.

— Não, você tipo... ah cala a boca. — neguei rindo dela.

Não poderia fingir que não notei que mesmo rindo, Winnie não brincou, ela falou muito sério, ela me olhava com os olhos mais genuínos de sua vida inteira.
Não sei com certeza ao que ela se refere com todo esse papo de carne de homem, então vou concluir que era uma metáfora para algo maior do que ficar com homens mais velhos.