MILLER'S GIRL

One

cairo pov

O que é um adulto? Me tornar uma não me transformou automaticamente em alguém notável ou significante. Eu no auge dos dezoito anos vivo no meio do nada, definhando numa selva, numa tumba de casa deixada por aqueles dois brilhantes egoístas (meus pais).
Eles não morreram nem nada, mas com certeza gostariam que eu estivesse morta. Em meio a essa solidão toda eu tenho a literatura, meu consolo, e escrever é meu meio de fuga.
Eu não costumo sair dos limites por aqui... é meio gótico realmente, "Uma garota solitária deseja escapar do enorme tédio de sua pequena aldeia, deseja ser significativa e... amada."

Hoje vou conhecer um cara igual a mim, um escritor, um professor, alguém que conseguiu encontrar inspiração num lugar como esse... é mesmo difícil de acreditar.

Fui a primeira a chegar na sala, seria surpreendente se não fosse algo que eu faço desde sempre, mas aparentemente surpreendeu o professor que deu um pulo ao ouvir meu curto e baixo "Bom dia."

Ele respondeu "Oh, bom-dia!" se virando e continuou me encarando ali parada em pé do outro lado da sala com meu material em mãos.

— Você sabe que a aula só começa daqui uma hora, correto?

— Saber eu sei, é que não gosto de multidões.. ficar sofrendo pra encontrar um lugar pra sentar...

— Uhh, você mora longe?

— Perto o suficiente para vir caminhando.

— Onde seria?

— Lovely hill.

— Você mora em lovely hill? — ele ficou claramente surpreso, não se vê todo dia uma garota jovem morando em uma mansão enorme.

— Você conhece?

— Conheço, mas achei que só viviam fantasmas por lá.

— E quem disse que eles não vivem? — sorri fraco.

— Você mora mesmo em lovely hill? — acenei sim com a cabeça e ele continuou. — Uau, lá parece enorme.

— Meus pais são advogados.. o tipo caro de advogado — falei meio envergonhada, esperando que ele não entrasse no assunto.

— E qual seria o seu nome?

— Cairo Sweet.

— Eu sou o Professor Miller.

— Eu sei. — sorri para mim mesma, obviamente não chegaria na aula de um escritor sem ler pelo menos parte de suas obras, e continuei dizendo. — Minha amiga Winnie comentou sobre sua classe, ela disse que eu deveria vir.

— Uh.. a Winnie... Ah eu tenho que entregar a lista de leitura. — e me entregou uma folha de papel recheada de nomes de livros, referências e listas de recomendações. — Eu sei que parece muita coisa mas acho que conseguiremos te atualizar o mais rápido possível.

— Eu li a lista inteira. — o interrompi de forma confiante, vendo novamente a surpresa em seus olhos.

— Espera, você já leu isso? — disse apontando para a folha como quem aponta para um bicho assustador, acenei sim novamente com a cabeça. — Tem mais de dez livros nessa lista.

— É que eu curto bastante as festas.

Ele pareceu entender meu senso de humor sarcástico mas antes que pudesse responder algo, Winnie aparece entrando pela porta.