POV Chloe Price
Naquela noite sombria, eu estava suando frio; algo me atormentava. Eram 3h da manhã. Enquanto todos dormiam sob o silêncio opressor de Blackwell, eu vagueava pelos corredores sombrios furtivamente. Enquanto eu estava parada em frente a uma janela, fui atraída pelo eco distante dos acontecimentos na floresta. Uma luz fraca tremeluzia na escuridão da montanha, guiando-me até a cena macabra que se desenrolava nos arredores do orfanato.
Sob a luz intensa da lua cheia, observei de longe uma carruagem; ela estava muito rápida. As rodas de ferro rangiam em protesto contra o solo irregular. O som do relinchar frenético dos cavalos ecoou, misturando-se ao vento que agora soprava com mais intensidade. Num piscar de olhos, o cenário foi iluminado por um relâmpago distante, revelando a carruagem avançando à beira de um penhasco íngreme. Foi um mergulho sem retorno. O impacto despedaçou o veículo. Madeira estalou, metal rangeu, e a carruagem se retorceu.
Não só eu estava prestando atenção ao evento; quando me dei conta, vi os cuidadores atravessando o grande portão de ferro com seus lampiões. Eu tentei segui-los sem ser notada, mas fecharam o portão, impedindo que eu saísse de Blackwell. Esperei escondida até eles voltarem, e quando voltaram, traziam uma garota toda ensanguentada e desacordada sendo carregada apressadamente para a enfermaria. Escondida nas sombras, assisti enquanto ela era levada, suas feições pálidas contrastando com o vermelho vívido que manchava sua pele. Uma sensação de déjà vu envolveu-me ao ver a garota, uma conexão entre o que testemunhava e o pesadelo que me assombrava desde a pré-adolescência.
Após voltar para meu quarto, a inquietude me envolveu como um manto. A urgência de descobrir quem era aquela garota me impulsionou a traçar um plano ousado. Na noite seguinte, enquanto todos estavam imersos em sonhos, deslizei pelas sombras, seguindo para a enfermaria. O medo e a curiosidade competiam dentro de mim. A porta da enfermaria rangeu suavemente ao ser aberta, revelando o interior escuro. A luz da lua filtrava-se pelas frestas das cortinas, pintando um cenário etéreo. Meus olhos buscaram a nova órfã, deitada silenciosa em seu leito. A visão fez meu coração bater mais rápido, enquanto a inquietação se transformava em temor.
Aproximei-me cautelosamente, observando-a de perto. Não havia ferimentos visíveis, e não havia nenhum rastro do sangue que a marcara antes. Seus cabelos dourados espalhavam-se no travesseiro como um halo. Ela permanecia inconsciente, imersa em um sono profundo. Minhas mãos tremeram enquanto eu me aproximava. O medo se mesclava com perplexidade enquanto eu encarava a garota que apareceu no meu pesadelo, agora crescida, cuja beleza perturbadora ainda ecoava nos recantos mais ocultos da minha mente.
Um calafrio percorreu minha espinha enquanto a observava. Foi então que o farfalhar dos passos do doutor Mark Jefferson, como um aviso sinistro, interrompeu meu fascínio momentâneo. Um instinto primal de sobrevivência tomou conta de mim, e me escondi, evitando ser capturada pela presença ameaçadora que se aproximava.
O doutor Jefferson adentrou o quarto com uma calma calculada, cujos olhos pareciam esconder segredos inomináveis, percorrendo o espaço como se pudesse sentir a presença de intrusos. Eu, escondida, segurei minha respiração, temendo a descoberta.
Meus olhos, porém, não se desviaram da cena. O doutor Jefferson, figura sinistra em sua postura, aproximou-se do leito com uma expressão serena. Seus gestos, meticulosos e estudados, revelavam uma faceta de sua personalidade que eu temia compreender.
Enquanto ele estava examinando a nova órfã, eu, cautelosa como um felino no escuro, deslizei para longe do quarto. Minha mente fervilhava com a necessidade de entender o que ele escondia, o que ele trazia consigo na maleta. Um pressentimento ruim ecoava em minha mente, como o rufar distante de tambores prenunciando algo iminente. Porém, eu me esgueirei pelas sombras como um fantasma em fuga, evitando ser notada por aquele que pairava sobre Blackwell como um predador paciente.
Do lado de fora do quarto, no corredor frio e silencioso, minha mente fervilhava com a urgência de um novo plano. Eu não podia ignorar o instinto que gritava em meu peito, alertando-me sobre os perigos que aquela nova órfã enfrentaria sob os cuidados de Mark.
Nos dias que se seguiram, planejei meticulosamente minha estratégia. Eu não permitiria que a nova órfã se perdesse nos abismos que Blackwell escondia, mas eu não sabia que quem precisaria dela seria eu.
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Carmilla
FanfictionChloe Price, uma órfã rebelde, conta sobre os dias passados na companhia da misteriosa Carmilla e os eventos estranhos que ocorreram na região após a sua chegada no orfanato Blackwell. As duas acabam se unindo para desvendar os segredos do passado o...