VII O Despertar

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POV Chloe Price

Os dias se desenrolavam lentamente, enquanto eu esperava a garota acordar, como folhas murchas carregadas pelo vento soturno. A nova órfã permanecia imersa num sono profundo, suas feições etéreas presas entre o limbo da inconsciência e a imprevisibilidade. Enquanto isso, eu, aguardava ansiosamente a oportunidade de vê-la acordada.

As noites eram cúmplices silenciosas do meu desejo. Em madrugadas fugir cobertas pelo manto prateado da lua, onde era possível sem ser notada, eu traçava meu caminho pelo corredor frio em direção à enfermaria. A necessidade de compreender a verdade que envolvia a nova órfã tornava-se uma chama inextinguível em meu peito rebelde.

Numa dessas noites, em que o silêncio sussurrava segredos ocultos, alcancei o quarto da nova órfã com a destreza de quem se move nas sombras. A luz da lua, cúmplice da minha intrusão, filtrava-se pelas cortinas, revelando a figura adormecida que descansava sob o lençol pálido.

Meus olhos famintos por respostas percorriam cada detalhe do quarto, havia velas ao lado da cama. Até que, de repente, a nova órfã estava diante de mim como um fantasma recém-desperto. Sua bela figura esguia estava envolvida pela seda macia da camisola. A luz lunar dava vida aos seus olhos verdes como uma floresta profunda, agora abertos e repletos de confusão.

"Onde estou? Quem é você?" A voz dela era linda, mas estava rouca, e ecoou no quarto silencioso, me fez recuar um ou dois passos.

Minha presença furtiva foi descoberta, e por um breve momento, fiquei petrificada sob o olhar curioso da garota. Era como se a lua, testemunha silenciosa das minhas incursões noturnas, tivesse decidido revelar meu segredo, até que limpei a garganta e disse.

"Eu... sou Chloe. Você está em Blackwell, o orfanato." Minha resposta foi direta e pouco esclarecedora.

Eu estava atordoada por que vi o mesmo rosto que havia me visitado em sonho, que continuava muito vívido em minha memória, e sobre o qual pensei tantas vezes, com horror, por todos aqueles anos, quando ninguém suspeitava em que eu estava pensando.

Era um rosto bonito, até mesmo lindo; e quando o vi pela primeira vez, tinha a mesma expressão melancólica e aflita. Fiquei perdida em sua beleza por alguns segundos e ela também me observava com atenção.

"Blackwell? Chloe? Quem sou eu? Por que estou aqui? " Ela questionou após um tempo, sua voz trêmula refletindo a incerteza que pairava sobre sua identidade. A segunda pergunta dela revelou que ela tem amnésia, então eu sabia que as respostas que eu pudesse oferecer não esclareceriam muito para ela.

"Você teve um acidente de carruagem. Chegou aqui inconsciente, e desde então, tem estado em um sono profundo por dias." Minha explicação foi breve, mas as linhas de sua testa denunciavam a dificuldade de absorver a própria história.

A incerteza e o medo dela se manifestavam nas perguntas seguintes. "O que aconteceu? Por que eu estou presa neste quarto?" A garota olhava-me com uma mistura de ansiedade e expectativa, como se cada palavra minha pudesse desvendar os véus que envolviam sua própria história.

"Você e os cavalos foram os únicos sobreviventes, enquanto o cocheiro... ele não teve a mesma sorte. Morreu sobre os destroços, não sabemos quem você é" A expressão dela tornou-se pesada, como se as memórias daquela noite atormentassem suas feições. Continuei dando voz às cenas que testemunhei. A respiração da garota tornou-se mais pausada, como se o relato estivesse tecendo uma trama de realidade e pesadelo. Seus olhos, ainda buscando compreensão, imploravam por mais detalhes, como se a narrativa fosse a chave para desvendar a fumaça que obscurecia sua própria existência.

As perguntas dela eram como um quebra-cabeça despedaçado, e eu, ansiosa por desvendar o mistério, respondi pacientemente a cada indagação, até que ela parou de perguntar e chegou a uma conclusão.

"Então se vocês não sabem quem eu sou, eu preciso de um nome. Chloe, por favor me dia alguns nomes? Eu fiquei surpreendida com o pedido dela, mas logo comecei a falar alguns nomes aleatórios.

"O que? Ok... Abigail...Charlotte...Eleanor...Carmilla..." Ela ponderou por um instante, como se folheasse as páginas em branco de sua memória, buscando por algo que ressoasse consigo mesma. Então, como uma melodia suave, sussurrou: "Carmilla."

O nome pairou no ar como um encanto, e um sorriso confiante curvou os lábios dela. "Carmilla. Eu gosto desse nome. Quero ser chamada assim."

Assenti, sentindo que o nome se encaixava na aura misteriosa que envolvia a garota. Carmilla, agora acordada e consciente de sua própria existência, parecia pronta para desbravar os segredos que se escondiam nas sombras do seu passado e nos recantos sombrios de Blackwell. A partir daquele momento, Carmilla tornara-se não apenas a nova órfã, mas uma peça essencial no quebra-cabeça intrincado que era a minha busca por respostas em meio aos enigmas que permeavam o orfanato.

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